Marinha Grande fábrica-escola da cooperação
@JM |CR| 1 de Junho 2020
Já lá vai o tempo em que o judo era pensado e praticado na base das quatro paredes do dojo e era principalmente estruturado por dois campos fundamentais de atuação: os treinos e as competições. Hoje, com a evolução registada nos últimos tempos, podemos afirmar que a modalidade desenvolveu e consolidou um novo perfil, mais aberto e mais interativo com as comunidades de proximidade, tendo adquirido um estatuto peculiar entre os diversos desportos de combate. O que marca nesta progressão, ainda em curso, é a evidência de uma prática plural e integradora das dimensões educativas, sociais, culturais e necessariamente desportivas.
As referências são muitas vezes cumulativas para alguns clubes e associações, mas nem todas as organizações da modalidade se encontram no mesmo nível de desenvolvimento e de aprofundamento de um percurso de abertura, mas é possível encontrar envolvimento interinstitucional, cooperação local, projetos transversais, abordagens orientadas para a inclusão, iniciativas intergeracionais, dinâmicas preventivas no campo da saúde e da alimentação e muitas outras, com um forte sentido de responsabilidade social e de desenvolvimento comunitário.
Rota em movimento
A Bandeira da Ética levou-nos à Marinha Grande, como já nos levara em maio a Aveiro, a Sintra e a Mafra. Uma Rota aliás que não ficará por aqui. Outros percursos seguirão com a plena convicção que se repetirá, como nas localidades anteriores, um encontro com a força da cultura solidária do judo e com os fortes sinais de progressão da modalidade em cada território.
Desporto inclusivo
Na Marinha Grande o judo surgiu-nos um pouco como uma peça rara de cristal. Daquelas que só os mestres artesãos dos tempos da Fábrica-Escola Irmãos Stephens sabiam lapidar. Sim, porque nós sabemos que esta terra tem na sua história momentos e eventos nos quais ficou demonstrada a coragem e a combatividade da população local. As sementes da solidariedade e da inclusão social ganharam raízes e foram crescendo ao longo dos anos. Não ficámos desta forma admirados, pelo discurso estruturado da Vereadora da Câmara Municipal, Célia Guerra, que destaca a importância do desporto inclusivo e valoriza a sua importância no desenvolvimento pessoal e social. Da mesma forma o Diretor do Agrupamento de Escolas da Marinha Grande Poente, Cesário Silva, enaltece a mudança de paradigma na gestão do desporto escolar e salienta que as novas abordagens são parte integrante de uma estratégia de inclusão e de cidadania ativa para o território.
Judo pivô da cooperação local
Mas o que é relevante nesta matéria é que estes e outros representantes das instituições locais, referem-se ao desporto de forma geral, é um fato, mas ao judo em particular no que às grandes potencialidades e às práticas inovadoras dizem respeito.
Assim, o que marca o território nesta frente de intervenção local é a vitalidade da dinâmica interinstitucional com o judo. A modalidade pode constituir-se como pivô das interações colaborativas, não para se autovalorizar, mas exclusivamente para colocar-se à disposição dos atores do território, para parcerias amplas envolvendo escolas, associações, encarregados de educação, autarquias e outras mais.
Cuidar solidariamente
O judo na Marinha Grande cumpre esta missão de dinamizador de processos de aproximação interinstitucional por várias razões e uma delas prende-se com o fato da coordenação do desporto escolar estar a cargo de João Teixeira que é simultaneamente treinador do Judo Clube da Marinha Grande.Mas nós podemos ser um pouco menos circunstanciais e encontrar outros motivos para justificar o papel agregador da modalidade.
Um deles radica nas suas características intrínsecas que como Cesário Silva sinaliza privilegia o contato humano na própria dinâmica desportiva. O toque, a aproximação cautelosa e segura entre praticantes traduz-se numa relação partilhada que se situa na zona de um dos conceitos mais importantes dos nossos tempos que é o CUIDAR.
Judo apoiado
O judo é por excelência uma plataforma de desenvolvimento pessoal e social para pessoas portadoras de deficiência ou de mobilidade reduzida. O Presidente da Federação Jorge Fernandes tem apontado as ligações do clube marinhense ao judo adaptado como uma referência a nível nacional, inspiradora para outros clubes e associações.
Aprender com as diferenças
Nós sabemos que a intensidade do brilho e a refração da luz nos cristais se devem a processos de concentração de óxido de chumbo na sua composição. Na Marinha Grande o judo tem o seu composto inorgânico na propensão para a cooperação. Nas relações interinstitucionais, nas parcerias, na entreajuda entre atletas e treinadores, na disponibilidade de interagir com outros. Muitos dos que vêm partilhar, por exemplo no judo adaptado, são diferentes, mas são também fontes de aprendizagem, como no caso das iniciativas com a APPCM.
Projetos e investigação-ação
A lista de projetos nos quais o clube está envolvido é grande e significativa. O Judo4all é o mais promissor e está a decorrer a bom ritmo assim como judo4ever.
Destacamos ainda a participação no Projeto Teen Power: e-Empowering teenagers to prevent obesity – Project IC&DT (POCI-01-0145 – FEDER-23557 desenvolvido pelo IPL – Instituto Politécnico de Leiria e coordenado por Pedro Sousa que é atualmente Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. A iniciativa foi ainda dinamizada por Roberta Frontini que desempenha neste momento funções de investigadora na Universidade de Aveiro. Roberta clarificou-nos que “ o TeenPower foi um projeto de investigação transdisciplinar baseada na pratica que pretendia desenvolver uma app para promover comportamentos saudáveis em adolescentes e prevenir o excesso de peso e obesidade”.
JCMG na primeira linha
A organizadora deste processo de investigação-ação adiantou ainda que “o Judo Clube da Marinha Grande participou em algumas atividades nomeadamente na aplicação do programa em sessões presenciais e em utilizações orientadas da app nas quais participaram atletas do clube”. A investigadora, agora em Aveiro, recordou ainda o encerramento das atividades no dia 10 de maio de 2019 cujo evento foi organizado pelo JCMG tendo sido oferecida uma aula de judo a todos os jovens que participaram na sessão.
O judo. O voluntariado. As parcerias. Os projetos. A investigação. Tudo alinhado numa estratégia de base territorial que visa a inclusão e a coesão social.
A Bandeira da Ética aqui, brilha como cristal.