Na retoma, precipitação pode ser fatal

@ JM|CR | 4 maio 2020

A retoma está aí. Empolgante e exigente, desejada e controlada, generalizada e condicionada ou seja, abrem-se as portas mas trancam-se as janelas. O judo, que quer ser judo de corpo inteiro, com contato, com pegas e ação direta nos desequilibro e nas imobilizações, também é responsabilidade e respeito pelos outros. A modalidade está a ser posta à prova nesta fase de desconfinamento. Total para uns, mas apenas parcial para outros. Para vencer esta prova vai ser necessário mostrar nervos de aço.

Na Judonline de 3 de junho, ação de formação promovida pela Associação de Judo do Distrito de Santarém em parceria com o IFJDA, o tema da retoma foi central. Com a participação de meia-centena de dirigentes, treinadores e atletas oriundos de vários pontos do país e até de outros continentes como foi o caso do Brasil e de Cabo-Verde, a sessão que decorreu totalmente a distância, teve por oradores Jorge Fernandes, Presidente da FPJ – Federação Portuguesa de Judo e Renato Kobayashi, treinador e ex-atleta olímpico. António Pedroso Leal e Alfredo Silva moderaram os debates.

Cumprir as regras

Jorge Fernandes foi categórico quando afirmou que “a confiança e a segurança são fundamentais nesta situação complexa. Vamos retomar a prática da modalidade mas cumprindo rigorosamente as regras indicadas pela DGS- Direção Geral de Saúde e da própria FPJ”. O Presidente da estrutura federativa, com um espírito realista, percebe que os atletas e os treinadores queiram passar rapidamente das atividades realizadas em casa para outro patamar “o trabalho nos jardins e na rua já se disseminou, agora para avançar para as salas que são áreas de interior, têm que ser rigorosamente cumpridas as regras que já foram divulgadas. Não se pode por em risco seja quem for” clarificou o dirigente nacional.

Confiança das famílias

Os atletas de alto rendimento, os elementos da seleção, os pré-olímpicos, todos eles estão a trabalhar com os respetivos treinadores e têm horizontes bem desenhados. A questão coloca-se muito do lado da grande massa dos praticantes que são fortemente penalizados pelas restrições ainda e vigor. “Os miúdos constituem um enorme contingente da prática do judo e os pais não pretendem que os seus filhos sejam, a título prioritário, campeões do mundo ou atletas de pódio. Querem que o judo os apoie nas questões da disciplina, dos valores, da ética. E tendo em conta esta constatação é fácil depreender que a segurança na retoma vai ser um reforço fundamental da confiança das famílias no judo” concluiu o Presidente que atende e compreende os desejos de todos, mas dá prioridade ao cumprimento da missão que a FPJ assumiu junto das instâncias e autoridades do Estado.

Falar a uma só voz

Renato Kobayashi por sua vez, apelou à ponderação e ao controlo de eventuais precipitações, numa sessão que ele próprio considerou marcada por uma certa carga emocional. Aproveitando para relembrar que o judo é ele próprio um “desporto de emoções” reafirmou que é preciso apresentar um discurso positivo e simultaneamente responsável. Para o ex- atleta olímpico “é preciso ser cauteloso neste tipo de situação difícil e unir a família do judo. Temos que falar a uma só voz nesta matéria particularmente delicada. Não podemos ceder às pressões das urgências económicas, apesar de sabemos que as necessidades dos clubes e dos treinadores são muitas”. Renato tem uma clara noção que os efeitos da contaminação de um judoca nesta fase podem ser desastrosos e prejudicar toda a modalidade. Nesse sentido lançou no Judonline “um desafio no sentido da Federação encabeçar um processo de apoio aos clubes e treinadores podendo contar com a angariação de recursos financeiros através de aulas pagas a serem realizadas a distância e dinamizadas por treinadores de renome internacional. Um desafio de solidariedade, podendo os valores angariados serem utilizados para fazer face a situações graves em termos de carências ou então para apoiar a aquisição de material para garantir as normas sanitárias”.

A importância das comunidades

Renato Kobayashi apelou ainda a uma maior aproximação do judo com as comunidades que o rodeiam, pais, patrocinadores e autarquias, devendo o judo passar uma mensagem que valorize a sua imagem como “uma modalidade responsável, que cumpre os procedimentos de segurança e à qual se podem confiar atletas, jovens e crianças em todas as circunstâncias”.

Nova sessão Judonline

Alfredo Silva co-organizador do Judonline considerou a sessão muito positiva e deu nota que também foram sugeridas à FPJ algumas iniciativas de comunicação, nomeadamente em suporte vídeo, para divulgar a ideia da retoma tranquila e progressiva. “Teremos outra sessão no dia 17 de Junho, com outros convidados e iremos continuar a dinamizar este tipo de iniciativas que favorecem o encontro e o diálogo sobre temas de interesse do judo“, concluiu o dirigente escalabitano que partilhou com o Presidente da AJDS, António Pedroso Leal, a moderação dos debates registados no encontro.

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