@Judo Magazine | Entrevista a Jorge Fernandes, Presidente da FPJ | 23 de junho 2020

Coimbra, Odivelas, Tóquio. A rota e a retoma.

A informação sobre a situação que se vive nos diversos níveis da gestão e da prática da modalidade ainda não está sistematizada no seu pormenor. Existem, no entanto, dados e elementos precisos de programação que permitem estabelecer com algum rigor o estado da retoma. Ouvimos Jorge Fernandes, o Presidente da Direção da Federação Portuguesa de Judo que está a assumir a condução de um processo complexo, que comporta riscos, por motivos óbvios, e está sujeito a dupla pressão paradoxal: a necessidade da prudência e a urgência da retoma.

O judo não estará numa situação drástica de configuração extremada ao ponto de a classificamos de injunção paradoxal. Existem margens de manobra e as variáveis para uma gestão flexível das tensões estão em aberto e podem ser utilizadas. Mas a tarefa não é fácil e a progressão não será linear. Daí Jorge Gonçalves revelar por um lado uma certa ansiedade atendendo aos desafios dos próximos tempos, mas por outro, uma elevada serenidade que resulta das bases seguras nas quais se apoia para tomar as decisões que se impõem.

Situações diferenciadas

“Nos clubes a situação é bastante diferenciada. Alguns estão a retomar as atividades, mas muitos nunca chegaram a parar. De uma forma geral os treinos estão a ser realizados ao ar livre. O que é relevante nestas iniciativas com os praticantes é a gestão do contato. Para o judo este é o elemento crítico e particularmente delicado face aos cuidados sanitários e de proteção individual que têm que ser respeitados” começou por afirmar o Presidente da FPJ numa abordagem genérica à situação no país.

A rota das seleções

Já em relação aos atletas de Alto Rendimento e às seleções o percurso que vai ser seguido está totalmente delineado “Vamos ter as duas seleções, feminina e masculina, juntas em Coimbra, já entre 23 e 27 de junho. Depois do estágio realizado em Castelo Branco só com a seleção feminina, que correu muito bem, vamos dar mais um passo em frente. No primeiro dia deste segundo estágio serão realizados testes a todos os atletas e treinadores e nos dias seguintes vai ser possível treinar, sem quaisquer restrições. Algumas condicionantes serão mantidas como a organização de grupos de trabalho, no chão, que irão permanecer inalterados durante todo o estágio” e assim estão delineadas as primeiras jornadas que serão seguidas de outras de 1 a 4 de Julho e de um quarto estágio de 7 a 10 do mesmo mês. Está prevista a participação de cerca de 40 atletas nesta fase.

“Em agosto, de meados do mês até dia 30, os cerca de oitenta atletas de toda a seleção serão envolvidos num encontro que encerrará esta fase de envolvimento progressivo. Em setembro, mais 2 ou 3 estágios, estes mais restritos, irão completar a preparação para as diversas provas que se seguirão com destaque para o Campeonato Nacional de Seniores nos dias 26 e 27 de setembro e para o recomeço do Circuito Mundial no mês de outubro” clarificou Jorge Fernandes que aproveitou para reafirmar a importância da participação dos atletas do projeto olímpico na prova que se realiza no Multiusos de Odivelas em finais de setembro.

Setembro como horizonte

“Este ano estamos todos conscientes que não vai haver férias num sentido tradicional do termo. Muitos atletas terão testes e exames, existem situações excecionais nas escolas e universidades e consequentemente a maior parte dos clubes vai retomar a sua atividade de forma plena, em setembro. É para essa preparação que muitos clubes estão a investir nos seus esforços atuais. Temos que nos adaptar” rematou Fernandes com um sentido muito prático e objetivo face às muitas interrogações que se colocam sobre a melhor formas de organizar a retoma a nível local.

Dialogar com os municípios

Com esta abordagem realista sobre a fase atual da retoma procurámos obter do dirigente federativo algumas ideias sobre o apoio aos clubes e às tarefas de adaptação que se colocam, tendo em vista a consolidação da confiança dos praticantes e das sias famílias na modalidade. Jorge Fernandes foi muito claro ao afirmar “cada um tem que fazer a sua parte. O Estado Central e as estruturas centrais das modalidades desportivas têm as suas responsabilidades, mas as estruturas regionais e os clubes também têm as suas. Os programas de apoio municipal ao desporto e aos clubes têm que ser objeto de agilização ou até de renegociação. Câmaras há que estão a apoiar de forma significativa. Algumas, como o é o caso de Coimbra, estão a antecipar 25% de valores vinculados ao plano de ação de 2021. Outros municípios como Torres Novas e Sintra estão empenhados em defender as estruturas desportivas dos respetivos concelhos e a apoiar os clubes locais” adiantou o Presidente da FPJ que não deixou de incentivar clubes e associações a interagir nos respetivos territórios com as autoridades locais.

Apoio às distritais e aos treinadores

“A Federação continuou a fazer as transferências financeiras para as estruturas distritais apesar da redução da atividade. Desta forma as associações dispõem de alguma margem para apoiar pontualmente necessidades urgentes dos clubes. Do nosso lado também nos preocupámos com os treinadores. Fizemos um levantamento que nos permitiu estabelecer uma meta de apoio a profissionais cuja atividade está totalmente vinculada ao judo. Serão entre 16 e 18 treinadores que poderão aceder a uma verba cujo montante vai ser estabelecido” informou Jorge Fernandes que tem plena consciência que a modalidade depende dos treinadores e que serão eles os principais artífices de uma retoma positiva em todo o país.

Podem contar connosco

O Presidente finalizou com uma referência particularmente elogiosa aos técnicos da modalidade já que, como referiu de forma segura “os treinadores deram uma lição de seriedade. Em todo o lado os praticantes tiveram resposta, ninguém foi abandonado. Esta atuação dedicada reverte em favor da modalidade de forma preciosa. Os pais dos atletas sabem que podem contar connosco, que os filhos estão bem entregues e que os treinadores de judo não são uns teóricos. No momento da verdade são práticos e encontram soluções, e isso tem um valor inestimável para a imagem que o judo quer projetar para o futuro próximo associado à retoma plena de todas as atividades da modalidade.

© foto FPJ, editado

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