O mestre digital

@ Judo Magazine | 13 julho 2020 | Novos territórios do judo | As tecnologias e o judo de futuro.| Hugo Viegas – Clube de Judo Construções Norte Sul

O uso da tecnologia na área do desporto tem vindo a crescer nos últimos anos, tornando-se numa ferramenta extremamente útil, tanto na parte da investigação, como na parte do treino e desenvolvimento das diferentes capacidades motoras de um atleta.

Este recurso à tecnologia encontra-se principalmente nas modalidades que envolvem muitos milhões de euros, onde são recolhidos grandes volumes de informação (Big Data). Esta informação é analisada por ferramentas baseadas em métodos de Data Mining e de Inteligência Artificial. Estas ferramentas possibilitam procurar padrões de movimentos nos atletas e nas equipas, entregues ao HeadCoach, que com esses dados pode tomar decisões mais fundamentadas para melhorar o rendimento da sua equipa e atletas.

Primeiros passos no judo

No Judo começaram a ser dados os primeiros passos neste tipo de análise. Já existem algumas ferramentas que permitem analisar tanto os nossos atletas como os dos adversários, como por exemplo o Frami (criado pela Bianka Miarka) e mais recentemente o Athlete Analyzer que começa a dar os primeiros passos em Portugal.

Novas ferramentas

Quanto à análise de desempenho dos atletas, também já existem algumas ferramentas interessantes disponíveis, incluindo num simples telemóvel, como o “My Jump” por exemplo, que permite de uma forma simples analisar a potência dos membros inferiores. Existe ainda uma ferramenta chamada Elite HRV (Heart Rate Variability) que permite ao atleta efetuar uma medição dos seus níveis de recuperação e, desta forma ajustar as respetivas cargas de treino, prevenindo o Overtraining e as lesões provenientes da fadiga.

Aplicações para judo em casa

Numa formação em que participei com os treinadores de base da seleção brasileira (Zé Olívio e Marcus Agostinho) surgiu o tema do desenvolvimento da capacidade de velocidade de reação. Neste contexto, depois de alguma reflexão sobre o tema, pensei: se durante um treino presencial o estímulo que passamos a um atleta pode ser vocal (esquerda, direita, frente, trás, azul, amarelo ou o nome de uma técnica), quando o atleta está em casa e quer fazer um treino sem parceiro, esse estímulo não existe. Por isso procurei aplicações que fizessem isso e não encontrei o que pretendia. E então, resolvi desenvolvê-la, apesar de nunca ter desenvolvido uma aplicação para telemóvel. Sou programador noutra área. Meti mãos à obra e desenvolvi a aplicação TRS (Training Reaction Speed) que pode ser encontrada no GooglePlay.

Tecnologia é para apoiar

A aplicação TRS funciona colocando quatro objetos no chão com as cores Verde, Amarelo, Azul, Vermelho e posteriormente, na aplicação, define-se o número de vezes que vamos executar um determinado movimento e a velocidade com que as cores (estímulos) aparecem ao utilizador.

Qual é o caminho que as tecnologias podem tomar?

Sem nunca esquecer como chegámos até aqui, a tecnologia serve para apoiar o treinador na tomada de decisão e não para o substituir.

Ajustar os treinos e a progressão

Penso, por exemplo, nas dificuldades que um clube possa ter, quando tem de delinear uma periodização individual para os seus atletas. Eles até podem todos começar com a mesma base, mas pelo meio os atletas sofrem contratempos, desde lesões a aumentos de fadiga. Sendo os atletas de escalões diferentes, os picos de rendimento serão necessariamente diferentes. Então se o treinador tiver à sua disposição ferramentas que permitam alterar determinados parâmetros e, o plano de treino ser automaticamente alterado, parece-me um bom uso que podemos dar às tecnologias.

E num futuro mais distante?

Num futuro mais distante, vejo uma ferramenta como o Athlete Analyzer a utilizar a Inteligência Artificial para analisar os combates, identificando os movimentos de ambos os atletas, as técnicas que efetuou, se a técnica marcou ou não.

Do ponto de vista teórico, relacionando estes dois mundos, a Tecnologia e o Judo, existe uma prospeção de futuro crescente e desafiante, recorrendo às mais diversas áreas tecnológicas, desde a Robótica, IA, Machine Learning, fundindo com a Internet das coisas (IoT) de forma a poder partilhar e digitalizar dados. Todas estas áreas tecnológicas têm uma grande capacidade e espaço para poderem potenciar a evolução do Desporto e do alto rendimento.

© fotos Hugo Viegas | Treinador no Clube de Judo Construções Norte Sul

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