13/02/2025

Novos paradigmas exigem novas ações

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@ Judo Magazine | 21 julho 2020 | DOSSIÊ – Novos territórios do judo | INVESTIGAÇÃO – José Mário Cachada

Nos momentos críticos que acompanham os processos de transição, que se apresentam normalmente marcados pela indefinição nas fronteiras entre o eterno presente e o longínquo futuro, é sempre útil que nos recordem os aspetos estruturais da organização social e do “viver juntos”. Vem isto a propósito da clara intenção de José Mario Cachada em nos recordar que as mudanças devem ter na sua base uma reflexão partilhada entre os atores e o respeito pelos valores que edificam as comunidades como tal. @ CR-JM

José Mário Cachada | Doutor em Ciências do Desporto | Treinador de Futebol – UEFA B | Treinador de Judo – Grau II

Tendo em atenção a situação relacionada com o novo Coronavírus (COVID-19), as autoridades de saúde nacionais determinaram, numa primeira fase, a todas as entidades, se assim se pode dizer, a elaboração de planos de contingência que minimizassem o risco de contágio e permitissem o bom funcionamento das atividades, ou melhor dito, pelo menos, das atividades essenciais.

A Direção-Geral de Saúde, por exemplo, emitiu, desde logo, um conjunto de informações e de orientações, que têm vindo a ser atualizadas, de acordo com a evolução da situação.

Regras claras para o desporto

Após um período de confinamento, a que todos estivemos sujeitos, o governo aprovou uma estratégia gradual de levantamento das medidas de confinamento no âmbito do combate à pandemia provocada pelo novo Coronavírus (COVID-19), tendo definido, ainda, ‘regras’ bem claras, na minha modesta opinião, conducentes ao regresso às atividades presenciais, em geral e desportivas, em particular.

Medidas específicas

Em conformidade, foi, ainda, definido que as supramencionadas medidas teriam de ser ‘acompanhadas’ de condições específicas de funcionamento, incluindo, e entre outras, regras de lotação, de utilização de equipamentos de proteção individual, de distanciamento físico que, obviamente, acresciam às condições gerais para o levantar das medidas de confinamento.

Garantir a segurança

Desta forma, foram sendo assegurados procedimentos, através da implementação, em cada entidade, de um plano de medidas que mitigasse a possibilidade de contágio, garantindo a segurança da comunidade, em geral e, no caso do judo, dos judocas, em particular.

No mundo dos valores

E, se é um facto que o desporto contém valores de descoberta de si mesmo, valores de desenvolvimento pessoal, valores de educação social, valores esses que os atletas devem manter ao longo de toda a sua vida (Deval e Sánchez, 2000), no judo, em particular, não se ensinam só técnicas, não se ensinam só táticas, razão pela qual nos ‘atrevemos’ a afirmar que os judocas se ‘desenvolvem’ no mundo da axiologia, no mundo dos valores, uma vez que, no judo, privilegia-se e aprende-se, de igual modo, a respeitar e a confiar nos companheiros, bem como a respeitar os adversários.

Desenvolvimento dos atletas

Na verdade, valores como a lealdade, o respeito, a ordem, o autocontrole, o desapego, a flexibilidade, a paz, a bondade, a fraternidade e a higiene do corpo e do espírito, podem e devem ser utilizados para o desenvolvimento do atleta com fins exclusivamente humanistas e, ainda, como fundamento e como finalidade da prática desportiva, em geral e do judo, em particular (Casado, 1999; Veloso, Cachada e Aranha, 2010).

Partilhar convicções

Novos paradigmas exigem novas ações e, assim sendo, parece-nos importante que cada um de nós, judocas, partilhe o seu pensamento, as suas convicções, muito naturalmente, de forma responsável e, sobretudo, no respeito pelos supramencionados valores, com os mais diversos ‘agentes desportivos’ relacionados com o judo, desde os atletas-judocas, aos treinadores, passando, entre outros, pelos pais e pelos dirigentes, com vista à sua preparação e capacitação para a retoma da prática desportiva do judo no presente contexto da pandemia provocada pelo novo Coronavírus (COVID-19).

Retoma a pensar no futuro

É nossa convicção que a retoma da prática desportiva do judo no presente contexto da pandemia provocada pelo novo Coronavírus (COVID-19) só é possível caso ocorra um desenvolvimento de um planeamento que tenha em consideração estas preocupações, pois ter a intenção de ‘fazer’ a retoma, em prejuízo de resultados futuros, não é, nem nunca foi, para nós, aceitável.

Da iniciação à alta competição, torna-se, pois, indispensável que se assista a um planeamento de tudo, desde os conteúdos aos objetivos, passando pelos métodos, pelas cargas, pelos processos de treino e pelos modelos de competição.

FPJ na primeira linha

E, neste particular, justiça lhe seja feita, a Federação Portuguesa de Judo tem estado na ‘primeira linha’ de ação.

Desde logo, emitiu, um conjunto de informações, de orientações e de recomendações, a que não se pode, nem se deve, ficar indiferente, daí que, pessoalmente, enquanto atleta-judoca, treinador e pai, recomende vivamente o seu ‘cumprimento’, se assim se pode dizer.

Goste-se, ou não.

Só assim poderemos, na minha modesta opinião, ainda que de forma progressiva, continuar a formar (verdadeiros) judocas, judocas que perdurem para lá da presente, e complexa, ‘competição’.

Referências bibliográficas

Casado, G. (1999). Aspetos actitudinales de la participación en el judo: la etiqueta. In M. Villamon (Ed.), Introducción al judo (pp. 219-234). Barcelona: Editorial Hispano Europea.

Deval, V. , e Sánchez, E. (2000). La actividade física y deportiva en los centros educativos – judo. Madrid: Ministério de Educación, Cultura y Deporte.

Veloso, R., Cachada, J. M., e Aranha, A. (2010). Uma Abordagem Didáctica do Judo – Ideias e sugestões de trabalho. Vila Real: UTAD.

© foto cedida por José Mário Cachada – editada JM

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