Desafios para um judo resiliente

@ Judo Magazine | Carlos Ribeiro – Encerramento e síntese elementar do DOSSIê JM – NOVOS TERRITÓRIOS DO JUDO

Miguel Galhardas, Rui Veloso, Hugo Viegas, Iara Correia e Carolina Sacavém, Cristian Bernal, Filipa Cavalleri, José Mário Cachada, Rui Coelho produziram os conteúdos do Dossiê-Novos Territórios do Judo,

Nos últimos tempos andámos pelos novos territórios do judo. Depois do Dossier sobre a Bandeira da Ética abraçámos este tema particularmente desafiador e atual. Longe de nós pensarmos que abarcámos, nestes tempos de incerteza e de alguma ansiedade, todas as questões que se colocam à modalidade. Tratou-se apenas de iniciar um debate que necessita de ser aprofundado e sobretudo esteve em causa um princípio da Judo Magazine de DAR VOZ aos protagonistas dos processos em curso.

O território da suavidade

Miguel Galhardas introduziu, a nosso pedido e em nome da Federação Portuguesa de Judo, as questões da mudança na modalidade tendo em conta a situação criada pela pandemia de COVID-19. Um texto que nos recordou a importância do princípio da suavidade e nos relembrou o surgimento de inúmeras iniciativas que criaram uma tónica positiva no ambiente geral. Destacou a reação dos clubes, dos treinadores e dos atletas e enfatizou a importância da troca de conhecimentos e das dinâmicas partilhadas de aprendizagem. Por último o destaque que foi dado à cooperação com os pais, com os amigos e familiares dos praticantes nesta nova fase da vida da modalidade.

Treinadores improvisam o futuro

Rui Veloso, com o seu estatuto e a experiência relevante que possui nas questões dos treinadores, trouxe ao debate uma reflexão que constituiu apenas uma primeira abordagem dos diversos assuntos em apreço. A figura central destas novas dinâmicas, o treinador, no fundo também enfrenta novos desafios para os quais precisa de se preparar. Rui Veloso é categórico ao afirmar que as tarefas de adaptação dos treinos às novas condições são fundamentais e que a formação vai ter um papel decisivo nesse sentido. Manter o contato com os pais dos judocas mais jovens é a sua grande recomendação

O mestre digital

Hugo Viegas veio à nossa conversa com obra feita. Foi a partir de uma prática concreta que ele desenvolveu a sua abordagem temática relacionada com as Novas Tecnologias no judo. A aplicação informática que foi testada neste período (TRS) constitui apenas um primeiro passo. Como Hugo Viegas nos adiantou, muito está para vir neste universo de progressão porque as novas ferramentas de apoio ao treino estão em fase de um novo desenvolvimento incluindo outras variáveis para além dos fatores físicos. Como Hugo Viegas nos adiantou o Athlete Analyser já está a dar os primeiros passos em Portugal.

Desequilibrar a comunicação formal

Iara e Carolina, jovens combativas e sorridentes atletas do GR Gonçalvinhense, vieram afirmar, com as experiências que lideraram de Lives no Tatami, que a comunicação no judo também abriu novas portas e sobretudo que ela pode ser protagonizada por todos os intervenientes na modalidade, sem exceção. Para além deste sentido de abertura adiantaram-nos algo que vai ao encontro da linha editorial da Judo Magazine: comunicando nós aprendemos e estabelecemos relações de solidariedade e de proximidade que nos comprometem com o desenvolvimento. Temos pois muito que sistematizar das experiências de comunicação registadas neste período, mas a Carolina e a Iara já lançaram as bases da reflexão que importa aprofundar nos próximos tempos.

Cooperar sem fronteiras

Cristian Bernal lançou um desafio particularmente exigente a partir das suas experiências de Cooperação Internacional, com os seus pares portugueses e com outros países europeus e latino-americanos: é preciso articular esforços e partilhar conhecimentos no plano internacional aproveitando as condições tecnológicas que estão ao alcance de todos os clubes de judo. Como fazer? Cristian é um pragmático e responde sem papas na língua, simplesmente…fazendo. Trata-se de agir e de não perder tempo. As vantagens são sempre compensadoras dos esforço a realizar para obter os contatos adequados e para planear as atividades a médio e longo prazo.

O treino, já não é o que era

Como vai ser o treino de judo no futuro? Ou melhor, o próprio conceito de treino ainda será o dominante na prática da modalidade? Algumas interrogações que se colocam nesta matéria central do judo de hoje e de amanhã foram abordadas por Filipa Cavalleri de forma sistemática e até pedagógica. Filipa não nos remeteu para um exercício de especulação teórica sobre modelos e processos de treino e optou por nos fazer percorrer as práticas inovadoras que ela própria acompanhou. A diversidade de novas abordagens é absolutamente marcante. A relação desportiva com o judoca passou a ter inúmeras atividades que vão para além da presença no tapete e do trabalho com as técnicas do judo. O treino passou a ser associado a um pacote de ações cuja integração, articulação e gestão constituem uma nova fase de amadurecimento da modalidade no plano desportivo mas também científico e técnico.

Novos paradigmas exigem novas ações

No turbilhão das mudanças, das novidades, das incursões em novos domínios José Mário Cachada traçou um rumo bem seguro e até estruturante na sua abordagem aos processos de investigação e de reflexão sobre o futuro do judo. Saber combinar os valores, o legado histórico e o sentido humanista do judo com um planeamento de todos os aspetos da retoma é uma questão crucial. Não descurar rigorosamente nada e, por essa via, afirmar a maturidade da modalidade face aos desafios que tem pela frente. Porque, no entendimento de JM Cachada o fundamental está na formação de verdadeiros judocas que perdurem para além desta fase pontual e que saibam enfrentar a complexidade dos dias que estão para vir.

Gerir o luminoso dentro de nós

Finalmente Rui Coelho desenvolveu a partir de Madrid aquelas que são as bases da Ginástica Natural e a sua relação com o judo. Trata-se ao mesmo tempo de algo muito concreto e útil para todos os judocas, não fosse o seu dinamizador um praticante experiente da própria modalidade, mas trata-se ainda de um exemplo prático de coabitação do judo com outras modalidades vizinhas. No caso foi a ginástica natural que nos foi apresentada mas outras haverá que poderão enriquecer os diversos campos de trabalho desde a manutenção de um boa condição física, ao aquecimento, a velocidade de execução, ao controle emocional, e sucessivamente. O judo pode ser uma plataforma giratória de experiências combinatórias inter-modalidades e esta articulação certamente que o enriquecerá.

Aprofundar

Os novos territórios do judo deverão a partir de agora ser explorados num sentido de um melhor e maior aprofundamento. Os intervenientes nesta primeira fase, autores dos artigos acima mencionados, cumpriram o papel fundamental de desbravar terreno, ação cúmplice e voluntária que justifica o nosso maior agradecimento. Sim, o judo agradece.

Carlos Ribeiro

Publisher | Judo Magazine

SOBRE O AUTOR | Editor

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *