ENTREVISTA JM | Todos receamos que Tóquio não se realize
@ JUDO Magazine | 31 de julho 2020 | Entrevista a Jean-Luc ROUGÉ por Carlos Ribeiro
Ouvir do Secretário-Geral da FIJ – Federação Internacional de Judo e Presidente da federação francesa Jean-Luc Rougé a avaliação que faz da situação atual do judo neste período de pandemia de COVIDA-19 era o nosso objetivo principal. No entanto, e em consequência da reputada espontaneidade do dirigente internacional da modalidade e primeiro Campeão do Mundo francês em Viena 1975, fomos mais longe e acabámos por tomar conhecimento de algumas iniciativas cujo destaque vai para o diploma internacional de coach/manager de judo que já está na forja.
Para Jean-Luc Rougé (JLR) a evolução do judo, nos últimos tempos, tem sido notável. Nesta nossa entrevista realizada em tom de conversa adiantou-nos com convicção “Se observarmos as corridas da Fórmula 1 no automobilismo, com todo aquele aparato nas boxes, com equipamentos sofisticados por todo o lado e com um staff composto por inúmeros especialistas deduzimos que é um desporto altamente profissionalizado. O judo, à sua medida, tem caminhado no sentido de uma maior profissionalização e, podemos afirmar, de uma mais profunda cientificidade”.
Uma abordagem mais sofisticada
JLR prosseguiu “Hoje as bases de dados sobre os adversários são particularmente importantes. Existe agora uma preocupação em realizar análises, em desenvolver planos e programas que têm por base uma informação organizada e colocada ao serviço dos treinos e dos atletas.
Parte integrante desta abordagem mais sofisticada e programada são as deslocações regulares a outros países, nomeadamente ao Japão. Temos ainda a forma como as provas são organizadas com preocupações de captação de públicos e com um objetivo de criar uma imagem forte da modalidade”.
O desporto em estado de alerta
Quanto às questões que nós colocámos sobre a evolução do judo no dossiê JUDO Magazine Novos territórios do judo apontando alguns indicadores de mudança no judo, Rougé afirmou “não tenho nada a certeza que a mudança venha a ser tão significativa. É verdade que o judo pode estar em perigo, como o estarão todos os desportes de combate, com o distanciamento físico imposto pelas medidas sanitárias. Mas são os de combate mas também outros dos quais não se fala. Veja-se o Andebol que para além do contacto físico corpo a corpo tem situações de área com vários atletas a caírem juntos, Apesar de tudo a nossa zona de risco verifica-se apenas entre duas pessoas”.
Mudanças apesar de tudo
E perante a nossa insistência o SG da FIJ acrescentou “algumas coisas vão mudar, é um fato. As áreas de aquecimento dos atletas nas instalações desportivas onde se realizam as provas são demasiado pequenas. Os judocas estão todos uns em cima dos outros. Isto vai mudar. O próprio treino individual vai sair enriquecido deste processo”.
E à nossa pergunta sobre a evolução do perfil do treinador atendendo às exigências que surgiram recentemente de um portefólio de competências mais alargado Jean- Luc Rougé foi categórico “nos tempos atuais não podemos falar de treinador como o fazíamos no passado. Hoje o perfil deve estar associado ao conceito de Manager, de Chefe de Equipa. As suas funções consistem em gerir várias vertentes nomeadamente viabilizando um determinado modelo económico da atividade. Lidar com os vários níveis de forma eficaz: com o clube, com a Federação e com o nível internacional. Importa nesta matéria distinguir as abordagens e os modelos que existem em vários países e territórios. Em alguns países, como é o caso da Russia, a base da organização da modalidade são os clubes. Já em França o modelo de organização e dinamização das iniciativas estão ancorados na Federação Nacional. O tipo de modelo influencia muito o papel do Manager.
Intercâmbios e formação
Quanto à cooperação internacional, também neste plano Rougé relativizou esta dinâmica ao modelo vigente e aproveitou para mencionar o clube de judo francês Sainte Geneviève des Bois que tem uma grande tradição de intercâmbios com Portugal.
Quanto à formação JLR enfatizou a importância dos processos formativos a partir das novas tecnologias disponíveis. Na sua opinião as vertentes teóricas deverão apoiar-se nesses meios, em vídeos, em imagens, todos ganham com essa generalização.
Já a vertente técnica ela continua a precisar de uma presença direta e pessoal no tapete apesar dos vídeos ajudarem nos pormenores.
Diploma internacional
Relacionando formação com o Manager que mencionámos há pouco a FIJ vai promover uma formação para Coach / Managers que proporcionará uma certificação de nível internacional e essa formação será ministrada no quadro da Academia da FIJ.
Por último Jean-Luc Rougé fez referência ao estado de espírito que se verifica no universo do judo a nível internacional e confessou-nos, desta vez, de forma crispada “O receio que todos temos é que os Jogos Olímpicos de Tóquio possam ser suprimidos por razões que neste momento não conseguimos vislumbrar. Mas, apesar da motivação e do entusiasmo dos atletas e de todos os Comités Olímpicos, essa ansiedade molda o estado de espírito que acaba por não estar 100% descontraído”.
© photos cedidas pela FIJ