RETOMA |Agir articuladamente em prol do desporto de base

Por: João Teixeira, professor e treinador do Judo Clube da Marinha Grande

JM | 31-05-2020 | Para terminar o nosso tema de agosto Como vai ser setembro nos clubes? nada melhor do que uma reflexão baseada nos elementos concretos e formais divulgados pela DGS visando enquadrar a retoma das atividades desportivas nas quais o judo se inclui. João Teixeira conhecedor da realidade dos clubes locais é categórico na apreciação das orientações recentemente tornadas públicas..

A Direção-Geral da Saúde (DGS) emanou as diretrizes que possibilitam o regresso aos treinos e à competições dos atletas em segurança, afim de minorar o risco de transmissão do SARS-CoV-2. A COVID-19 veio trazer ao atual contexto desportivo enormes desafios, muitos deles inimagináveis e nunca antes vivenciados, projetando o desporto e a sociedade para um novo paradigma para o qual praticantes, famílias, clubes e agentes desportivos não estavam preparados.

A base da pirâmide

O documento da DGS é tardio e não se foca na base da pirâmide desportiva, aproximadamente onze mil clubes de formação.  Categoriza as modalidades de “alto risco”, “médio risco” e “baixo risco”, focando-se na natureza competitiva formal. Afigura-se muito difícil para qualquer clube desportivo preparar a retoma da atividade em setembro. Quando se planifica estrategicamente uma época desportiva e em especial esta, atípica, a pertinência da definição de objetivos, de ações articuladas e de constrangimentos é de primordial importância.

Atuar proactivamente

Afigura-se necessário nesta preparação o conhecimento e implementação dos referenciais da DGS, do Ministério da Educação e da Secretaria de Estado da Juventude e Desporto afim de, tendo em conta cada território e cada modalidade, atuar proactivamente. E, simultaneamente, assegurar a definição de estratégias que mobilizem novamente os jovens para a prática desportiva e reforcem a necessária confiança dos encarregados de educação.

Se considerarmos que a base da formação desportiva se alicerça em clubes amadores, podemos questionar:

  • Como se conseguirá organizar um clube validando a importância da atividade física regular?
  • Como poderá potenciar os valores formativos do desporto?
  • Como dará continuidade ao trabalho desenvolvido na promoção de hábitos de vida saudáveis, se a nível organizacional, dos recursos físicos, dos recursos humanos e dos materiais tiver poucas ferramentas para dar resposta às exigências da DGS?

Sem apoios

Neste momento, os clubes ainda não conhecem, o número de praticantes, não possuem instalações que permitam locais de treino cumprindo o distanciamento social preconizado de três metros (mantendo o mesmo número de praticantes), não usufruem de apoios para cumprir as condições de higienização e segurança, têm dificuldade em ativar e validar o seu plano de contingência para a Covid-19.Paralelamente, desconhecem o horário letivo e o funcionamento das escolas, tornando ainda mais árdua a planificação da época que se avizinha já no início de setembro.

Estes e outros pressupostos, baseados em estratégias diferenciadas, tais como:

  • redução do número de atletas por classe;
  • horários desfasados e com intervalos para a respetiva higienização dos espaços,
  • treino individualizado e condicionado sem contato,
  • necessitam de ser rapidamente colocados no plano de ação de cada clube perspetivando a retoma.

Termo de responsabilidade

Ao contrário de outros setores económicos, este documento da DGS exige ainda, no contexto desportivo, a necessidade de todos os praticantes e respetivos treinadores assinarem um termo de responsabilidade, no qual se comprometem “pelo cumprimento das medidas de prevenção e controlo da infeção por SARS-CoV-2, bem como, o risco de contágio durante a prática desportiva”. Questionamos o objetivo deste procedimento, desresponsabilização da tutela?

Financeiramente incomportável

Paralelamente, parece-nos financeiramente incomportável que todos os clubes com modalidades incluídas no grupo de alto risco realizem testes até 48 horas antes da competição. Indagamos se os clubes de formação possuem departamentos médicos, afim de garantir uma avaliação clínica periódica identificando precocemente qualquer sintoma sugestivo de COVID-19, como exigido pela DGS.

Este será um enorme desafio para todos os clubes de formação, com os quais partilho estas e outras preocupações, urge agir articuladamente em prol do desenvolvimento de um desporto de base, de valores e com cultura desportiva.

Sejamos pró-ativos e capazes de dar corpo ao mote “Vamos todos ficar bem”.

© foto cedida João Teixeira

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