08/09/2024

CRÓNICA | The 10.000-hour rule

JM | 4-09-2020 | Editado | Tiago Silva questiona e apresenta sérias reservas à eficácia do tão sacralizado modelo da Regra das 10.000 horas. Vale a pena acompanhar a argumentação e as hipóteses alternativas que são exploradas.

Relembramos que Iremos divulgar o conjunto dos temas abordados na crónica em 4 partes e no final divulgaremos o texto integral no espaço JUDO Magazine Lab:

10.000 hours-rule e Modelos de Desenvolvimento do Judoca a Longo Prazo – mitos e crenças!

  • 1- Enquadramento e especialização precoce
  • 2 – The 10,000-hours rule ou o duvidoso número mágico para ser perito
  • 3 – Modelos de Desenvolvimento do Atleta a Longo Prazo
  • 4 – Especialização num desporto, quando começar?

Por: Tiago Silva

The 10,000-hours rule ou o duvidoso número mágico para ser perito (2)

Paul R. Ford, Edward K. Coughlan, Nicola J. Hodges e A. M. Williams (2015), abordam o livro Outliers (Gladwell, 2008), segundo estes autores, Gladwell faz uma revisão do trabalho de Ericsson (1993), num capítulo chamado “The 10,000 hour-rule”. Nesse capítulo, Gladwell defende que “pesquisas assentam no facto do que eles acreditam ser o número mágico para se tornar um expertise (perito): 10.000 horas” (Gladwell, 2008, p. 40 cit. por Paul R. Ford, Edward K. Coughlan, Nicola J. Hodges & A. M. Williams, 2015).

Os autores sugerem ainda na sua pesquisa, que o livro fez muito sucesso, inclusive

a ideia de que são precisas 10,000 horas para se tornar num perito no desporto,

e que se pelo contrário, alguém não se dedicar a este número de horas, implica que não se poderá tornar nunca um especialista/perito.

Na sua revisão «O que faz um campeão?» aos trabalhos de Tucker e Collins (Ericsson, 1993. citado por Joel S. Brenner, 2016), defende que os Média têm atribuído incorretamente a ele e a outros co-autores, a fórmula do Sucesso Desportivo.

Bem sucedidos sem os 10.000

Ele sublinha, que muitos exemplos existem de atletas muito bem-sucedidos, que trabalharam menos de 10,000 horas. E outros que apesar de se terem dedicado até em número superior >10,000 e que não foram bem-sucedidos. Finaliza, explicando que muitos fatores parecem influenciar, para além do tempo dedicado à modalidade.

Segundo (Paul R. Ford, Edward K. Coughlan, Nicola J. Hodges & A. M. Williams, 2015), Simon e Chase (1973), já falavam (a propósito do seu estudo sobre Xadrez) em 10 year rule, ao ponto do próprio Ericsson (2013), anos mais tarde ter admitido que 10,000-hour rule, não deveria ser atribuído a ele. Foi ao ponto de assumir que nem sequer utilizou esse termo na sua publicação. Os investigadores, concluem na sua pesquisa que o número mágico, que parece ser requisito para ser um perito num determinado desporto, não parece ser consubstanciado pela literatura e investigação feita nesta área.

Variabilidade entre desportos

Segundo os mesmos, há uma considerável taxa de variabilidade entre os desportos. Paul R. Ford, Edward K. Coughlan, Nicola J. Hodges & A. M. Williams (2015), defendem que os estudos têm demonstrado que o número de horas acumuladas em prática num determinado desporto antes de alguém se tornar num perito, varia não só de desporto para desporto, bem como dentro do mesmo desporto.

Expertise in sport

Se se considerar uma amostra de jogadores ou atletas há também uma grande variabilidade em relação à história de cada um. Claro que nos parece existir uma série de considerações que devem ser colocadas: será que quando se fala em expertise in sport todos os estudos abordam a temática da mesma maneira?

Não haverá diferenças significativas entre atletas semi-profissionais e profissionais? Todas estas limitações podem influenciar a perceção que se faz na contagem do número de horas tal como defendem (Paul R. Ford, Edward K. Coughlan, Nicola J. Hodges & A. M. Williams, 2015).

Próximo tema da Crónica | 3 – Modelos de Desenvolvimento do Atleta a Longo Prazo

Artigo anterior: 1- Enquadramento e especialização precoce

Autor

Tiago Silva Mestre no Ensino da educação física e desporto escolar pela Faculdade de Motricidade Humana. Doutorando da Faculdade de Motricidade Humana. Professor Assistente convidado do ISCPSI Professor Assistente Convidado da Faculdade de Motricidade Humana (Judo) Treinador de alto rendimento de Judo – grau III.

SOBRE O AUTOR | Editor

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