ALMA JUDOCA | A voz de seu mestre

JUDO Magazine | 12 de outubro 2020 | Alma Judoca – Comunicação | Falar de uma voz de exceção leva-me sempre a recuperar a inclinação de focinho do famoso cão Nipper, à escuta do gramofone, na imagem que deu corpo a um dos mais famosos logos da publicidade, o incontornável His Master´s Voice da editora musical que é pertença da EMI. Vem isto a propósito da combinação totalmente harmoniosa entre voz e o mestre, que é possível identificar nos comentários realizados por Carlos Ramos nas provas nacionais de judo.

Agora vai ser o jogo do gato e do rato, esta é uma das figuras de estilo mais utilizadas pelo comentador que, para todos os apaixonados do judo, representa A Voz de seu Mestre na modalidade. Esta expressão, de base popular, surge geralmente quando dois atletas em confronto se encontram numa situação de desigualdade nas penalizações, um com duas e outro apenas com uma. Gato e rato, a fugirem um do outro, tem a ver com o previsível desenvolvimento do combate que será marcado pela procura quase obsessiva e agitada, do shido do adversário.

Carlos Ramos é simultaneamente um judoca que comunica e um comunicador que é judoca. A ele se devem algumas abordagens ao comentário televisivo e desportivo que fizeram do judo uma modalidade comentável. De alguma forma, a modalidade tornou-se legível para o grande público graças a um conjunto de pequenas construções, da sua autoria, que nós recuperámos (secretamente) por ocasião dos Campeonatos Nacionais realizados este fim-de-semana em Cernache, no concelho de Coimbra.

A abordagem – pedagogia, judo para todos

Neste plano somos contemplados, como espetadores, com várias explicações e clarificações de situações por vezes complexas, até para os próprios praticantes. É o caso das penalizações “um shido por não atacar durante algum tempo” e das situações pouco evidentes no combate no chão “tentou uma chave, mas foi muito bem defendido pelo adversário”. E avisa, recordando as regras “Basta um terceiro castigo para deitar tudo a perder”. “Segue para Ne-Waza e aplica uma chave muito pouco utilizada em competição”. E, sobre as opções do atleta “É bastante alto para a sua categoria e tira proveito da pega por cima.

Uma pedagogia que, temos que o admitir, funciona.

A abordagem – na cabeça do atleta

Procurando antecipar os acontecimentos “Ele sabe, que se o seu opositor não o atacar, este vai ter um 3º castigo” interpretando, nestes termos, a forma como o atleta está a agir numa determinada fase do combate. “Não será fácil conseguir uma vantagem em pé então procura o Ne-waza”, outra leitura de um exterior experiente. “Ensaia um ataque pelo lado oposto para ver se resulta”.

A experiência do tapete, facilita o comentário.

A abordagem – treinador de bancada

“Bom ataque mas facilmente controlado pelo adversário que aguentou muito bem”  e ainda “Terá que atacar” . E sobre a avaliação das possibilidades de vitória ou derrota “agora a condição física de cada um vai determinar o vencedor” , “É o que prevíamos e o opositor vai ter que reagir, fazer algo rapidamente”.

Estar dentro, cá fora.

A abordagem – a arbitragem é com eles

Paragem no combate “a Comissão de Arbitragem está a analisar. Vamos ver se há falso ataque ou não“. ”É um shido justificado na passagem do solo para o judo em pé”. E finalmente “Excelente árbitro internacional, atento aos pormenores, não pode fazer a pega cruzada”.

A soberania da arbitragem.

Abordagem – como é que isto está

Apreciações categóricas tais como “Combate muito vivo nos primeiro 30 segundos”, “Combate interessante, mas estamos a meio e, tudo a zeros”. E ainda uma informação “Estamos a aproximarmo-nos de um Golden Score”. “O atleta está agora mais ativo desde que entrámos no Golden Score” E “passa a próxima ronda, temos em perspetiva uns quartos-de-final muito fortes” . “E aí está! Estava a vencer e perdeu em Ne-Waza”.

Apanhar as tendências, interpretar os ritmos.

A abordagem – não saia do seu lugar

  • Entrou bem!
  • Ataque forte!
  • Vamos ver se dá!
  • E aí está!
  • Terá que atacar!
  • E, vamos para Golden Score!

A emoção na boca do microfone. Sem ela não há comentário desportivo!

Fotos @ FPJ

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