ALMA JUDOCA | Atleta e estudante, a quadratura do círculo

JUDO Magazine | 18 de outubro 2020 | Entrevista a Teresa Santos | A JUDO Magazine foi à procura de elementos sobre a conciliação da vida pessoal, desportiva e estudantil de atletas de Alto Rendimento que se encontram totalmente envolvidos nos programas de preparação intensivos e que estabeleceram objetivos de topo para os seus percursos e carreiras. Como são geridas as variáveis desta equação que parecem constituir uma quadratura do círculo? Foi este o tema de partilha com a Teresa Santos, atleta formada no Algarve, que se encontra agora em Coimbra para treinar e estudar.

Eu comei a praticar judo em Portimão/Alvor e a minha evolução foi sempre baseada no treino (essencialmente com rapazes) e numa seleção de provas muito criteriosa para manter o nível de competição. O meu treinador desde sempre, Cristian Bernal, tem boas ligações com vários clubes e quando a Associação Académica de Coimbra (AAC) mostrou interesse em ter-me como atleta, falei com os meus pais e todos considerámos que era uma boa oportunidade para evoluir e ter vivências que o Algarve não consegue proporcionar.

O número de atletas na AAC é superior ao da UFAD – Alvor e as distâncias para as provas e estágios são mais reduzidas, pois o Algarve fica numa ponta, distante de tudo. O impacto das deslocações é muito negativo pois quando chegamos a Lisboa, ou outra localidade onde se realizam as provas, já levamos 3 ou 4 horas de viagem e cansaço acumulado!

Uma transição impecável

A transição para Coimbra aconteceu no início do ano letivo 2019/20 e foi acompanhada pelo meu treinador e pelos meus pais. Como fui para uma escola UAAR (Unidade Apoio Alto Rendimento) tive bastante facilidade de integração na escola e os meus professores e colegas foram impecáveis nesta transição. Acabei por antecipar um ano à saída de casa dos meus pais, pois como estava no 12º, iria sair no ano seguinte.

O meu treinador da UFAD é também treinador da ACC, pois no ano anterior (2019), eu já tinha representado a AAC, mas a treinar em Portimão, o que foi muito cansativo, pois tinha que ir treinar a Coimbra e fazer as provas dessa zona, mas a estudar em Portimão.

Resultados desportivos

Foi um ano muito trabalhoso e como os meus resultados desportivos foram bons nesse ano tive muitas provas fora do pais:

  • provas do circuito IFJ em Fuengirola, onde fiz pódio (2º lugar)
  • Zagreb (5º lugar),
  • campeonato da europa de cadetes em Praga,
  • campeonato do mundo de cadetes em Almaty, Cazaquistão,
  • Olimpíadas da juventude (EOYF/ FOJE) em Baku, Azerbeijão, onde fiquei em 5º lugar,
  • mais todos os campeonatos nacionais individuais de cadetes (1º lugar) e juniores (1º lugar) e campeonatos nacionais por equipas.

Mesmo com estas provas todas tive que realizar os exames nacionais de época especial, pois na 1º e 2º fase não estava no país.

Teresa Santos com Cristian Bernal

As minhas ligações com o Cris e com a UFAD são para sempre pois foi onde eu comecei e onde a minha formação como atleta foi feita. O Cris e o João Neto (meu treinador da AAC) estão sempre em contacto pois o Cris conhece-me muito bem e o João está a trabalhar comigo para que seja possível a minha evolução para um judo mais maduro e consistente com os meus objetivos de sempre.

Fazer aquilo que gosto

Como eu já disse a organização de uma estudante/ judoca tem que ser muito boa, para permitir cumprir em ambos os lados: fazer TPC, estudar, treinar duas vezes por dia, estar com os meus amigos e família e

fazer aquilo que eu gosto (andar de skate, ir à praia surfar, passear, ver filmes com a minha irmã, …)

para fazer isto tudo temos que rentabilizar o tempo, pois 20 minutos de estudo é melhor que nenhum minuto!

Na escola é sempre difícil que todos os professores entendam que um atleta não precisa de escolher entre ser judoca ou ter boas notas (como alguns professores meus me disseram…), mas de facto é preciso trabalhar o dobro dos meus colegas que só têm que ir à escola e estudar… As minhas notas foram boas, o que me permitiu terminar o ensino secundário com média de 18,3 e ter boas notas nos exames (matemática 19,3; biologia 16,5),

mas foi tudo muito bem organizado e contei com a ajuda da minha família para que conseguir equilibrar tudo

e ainda ter tempo para estar com eles e com as minhas amigas.

Pais e patrocinadores

Eu nunca tive direito a bolsa de estudo, mas agora que entrei no ensino superior (Faculdade de medicina dentária Universidade de Coimbra), estou numa residência universitária onde poderei ter desconto na mensalidade se obtiver resultados nos campeonatos de desporto universitário. Posso ainda ter comparticipação em propinas ou refeições se tiver resultados escolares e desportivos, mediante um regulamento do gabinete de desporto UC.

Os meus pais tem sido os meus patrocinadores ao longo do meu percurso, muito embora agora já tenha um contrato com a Ippon Gear e um patrocínio de uma empresa NLEngeneering .

Fiquei muito satisfeita destas empresas terem acreditado que eu vou continuar a ter bons resultados e conseguir ir cada vez mais longe.

Ser judoca não é fácil pois existem sempre muito fatores para além do tapete que nem sempre são fáceis de gerir, mas é o mundo que eu escolhi para estar e sinto-me muito bem, no tapete e fora dele, por isso não trocava este meu percurso por nenhum outro.

Com Catarina Costa na AAC- Judo

Fotos © Teresa Santos

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