OPINIÃO | Judo brasileiro e ecologia responsável
JUDO MAGAZINE | 6 de novembro 2020 | OPINIÃO | Sérgio Oliveira é um defensor do seu país, o Brasil. Reage com veemência a referências dúbias ou incorretas sobre situações atuais nomeadamente sobre questões ecológicas nas quais a Amazónia assume um papel de destaque no debate global. O judoca, treinador que vive na Alemanha, assume aqui uma função de guia que nos orienta através dos meandros da história quer do Brasil quer do judo brasileiro.
A incursão em temas de natureza mais política e de apreciação cidadã permiti-nos aceder pela sua pena a uma informação rara e extremamente curiosa sobre o judo naquele país latino-americano. Fica muita matéria para contar nesse domínio tão apaixonante quanto é a História do Judo no Brasil.
por Sérgio Oliveira
Faz umas três semanas eu postei no meu Facebook um texto sobre algumas indignações, da minha parte, em relação à reportagens em canais de comunicação aqui da Europa (entenda-se televisão, rádio e jornais impressos, inclusive), sobre a Amazônia, mais particularmente a Amazônia Brasileira e sobre o próprio Brasil, enquanto nação. Reportagens essas que relatavam fatos sob uma perspectiva reducionista acompanhada de mensagens sublineares contra acções do actual governo brasileiro. A reportagem chegou a comprometer as pessoas que concederam as entrevistas, em um cenário de situações contraditórias e constringentes, pois no processo de edição do vídeo, muitas „falas“ foram cortadas, além do que o tom emocional apresentado poder ter sido mal interpretado.
Isso me deixou muito incomodado, pois não foi a primeira vez que aconteceu. Em Agosto e Setembro desse ano de 2020, em diferentes reportagens de televisão sobre a „mesma floresta Amazônica“, apareceram cenas de florestas e animais, porém foram incluídas cenas das florestas australianas em chamas e de elefantes africanos no contexto. Só para constar e lembrar aos distraídos, a distância entre Manaus (na Amazônia) e Sidney (na Austrália) é de mais de 15.000 km e na Amazônia não existem elefantes, girafas ou leões, somente nos zoológicos.
Contextualizar
Por fim, em razão desse texto recebi um convite muito especial do Sr. Carlos Ribeiro, editor do Judo Magazine em Portugal, para contextualizar esse assunto de uma forma particular, sob meu ponto de vista.
O leitor pode pensar: „O que tem um Judoca a ver com isso?“ Como justificativa eu gostaria de deixar aqui registado que a relação da responsabilidade que assumo enquanto uma pessoa formadora de opinião e Judoca, na sociedade moderna em que vivemos sob um contexto „ecologicamente responsável“, é grande.
Discutir essa temática sem conhecimento da cultura brasileira, visão histórica, política, econômica, técnica e científica, de qualidade e imparciais, seria muita ingenuidade e irresponsabilidade, pois criaria padrões de pensamentos rudimentares de situações altamente dinâmicas e complexas. Não relevar esses pontos interferiria na reflexão da realidade do leitor e influenciar diretamente na sua consequente formação de opinião limitada e tendenciosa. Por conta disso antes de afirmar o que pode ser ecologicamente correcto, devemos ter consciência de toda uma contextualização histórica local e global, para então iniciarmos a construção de idéias e pensamento.
O Brasil
O Brasil actual é um país miscigenado de cerca 220 milhões de pessoas, a maioria concentradas nas regiões Sul e Sudeste. A floresta Amazônica é presente na região Norte, parte do Nordeste e parte da Centro-Oeste brasileira, totalizando 9 Estados brasileiros; além desses ela está presente em mais 8 países da América do Sul em uma relação de mais de 11.000 Km de fronteiras com o Brasil. Mais de 30% da biodiversidade e 1/5 da água doce do planeta está na Amazônia. No Brasil está 75% da floresta Amazônica, mas tem somente 10% da população brasileira, ocupando mais de 50% do território brasileiro. Para se ter uma idéia, a Europa Ocidental é do tamanho da floresta Amazônica.
Do século XV à XVIII, Portugal e Espanha eram imbatíveis na navegação, donde partiram a maioria das expedições de exploração e descobertas de novas terras. As Américas, assim baptizadas em homenagem ao navegador italiano Américo Vespúcio, foram „encontradas“ oficialmente em 1492 por seu compatriota Cristóvão Colombo, que prestava serviços ao Rei da Espanha. A porção do continente Americano visitada em 1492 encontrava-se acima da linha do Equador.
Para evitar uma disputa maior entre Portugal e Espanha, foi assinado o Tratado de Tordesilhas em 1494, uma linha subequatoriana imaginária que partilhava o ainda não descoberto „Mundo Novo“ em Oeste e Leste; esse último pertencia a Portugal. Mas qual a razão de assinar um acordo de divisão de terras, se não se sabia se elas existiam? Contrário ao que é amplamente divulgado, muito provavelmente expedições não oficiais já haviam chegado ao continente sul-americano, porém isso não poderia ser divulgado para evitar conflitos entre essas duas nações. Por conta dessas suposições, foi assinado o tratado.
Terras de Santa Cruz
O Brasil (nos primórdios denominado „Terra de Santa Cruz“, levando em conta contradições dos relatos originais), só foi oficialmente pisado pelo português Pedro Álvarez Cabral em 1500.
A finalidade inicial de ambas nações, independente por onde elas haviam invadido, era a exploração da madeira e extracção de minerais, entre eles ouro, prata e pedras preciosas.
Ao contrário do que se podia imaginar, as terras já eram ocupadas por civilizações nativas, que foram escravizadas, massacradas e dizimadas pelos invasores.
A estratégia inicial dos invasores era o envio de toda uma classe européia socialmente marginalizada, entre eles ladrões e assassinos, para essas terras inóspitas, a fim de cumprirem com a missão de invasão e ocupação do terrritório. Com isso resolviam dois problemas: o primeiro seria distanciar elementos socialmente perigosos da sociedade européia e o outro era conseguir subsídios financeiros para o enriquecimento dos reinos Ibéricos.
Apesar de Portugal e Espanha terem assinado esse Tratado, eles provavelmente não tinham a intenção de respeitá-lo e o ânseio de expandir o seu território era real, mas eles ainda não conseguiam ter idéia da dimensão donde estavam e como poderiam fazê-lo. Em razão das limitações tecnológicas não se conhecia a extensão territorial exacta das Américas. Para se ter ideia, ainda se discutia se a Terra era plana e, claro, não existiam drones ou satélites, para visualizar o mundo globalmente. Muitas das acções pós-mares eram traçadas por própria conta e risco, contando com a sorte dos „descobridores“.
Partindo da América Central, a estratégia de invasão da Espanha foi de Norte para Sul e de Oeste para Leste, pelo litoral do Oceano Pacífico. Com sucesso a Espanha conseguiu ocupar toda costa pacífica e parte do extremo inferior da América do Sul. Por outro lado, não conseguiu ultrapassar de forma concreta a região da linha subequatoriana por dois factores: o primeiro foram os constantes combates com ingleses, franceses e holandeses nessa região, a segunda foi a densidade da floresta Amazônica existente. De Oeste para Leste na América do Sul, os espanhóis encontraram como barreira as Cordilheiras dos Andes e mais uma vez a floresta Amazônica.
Portugal invadiu o Brasil de Leste para Oeste, tendo mais sorte que os espanhóis e, por fim, expandindo seu território. Durante os quase 400 anos de colonização, o Brasil passou por diversas fases de exploração, passando da fase exclusivamente extractivista para a cultura agrícola extensiva. Utilizando processos de desmatamento e queimadas o Brasil avançava suas fronteiras, até chegar ao que hoje o conhecemos.
Nativos e escravos
Ao contrário do que se pode pensar, a mão de obra escrava, no Brasil e no continente africano era amplamente utilizada, entre as diferentes tribos de „índios“ e „negros“ antes de qualquer invasor chegar. Os nativos e africanos foram „comercializados“ por tribos adversárias com os portugueses durante vários séculos. Esse tema é muito complexo e deve ser discutido de maneira mais aprofundada para ser bem interpretada, porém era o sistema da organização sócio-econômico global predominante desde os tempos mais remotos até o século XIX. Houve no Brasil a proibição da escravidão indígena em 1757, decretada pelo ministro Marquês de Pombal.
Em um determinado momento da história, a colônia Brasil, já abrigava as nobrezas európéias e as realezas lusitanas na sua Terra, concomitantemente sofria uma pressão social por mudanças. O mundo passava por momentos revolucionários técnicos, tecnológicos e industriais decorrentes de tendências sócio-político-ecônomicas do século XIX.
Esses actos culminaram em meados do século XIX com a proclamação da independência do Brasil (de Portugal) em 1822, com a libertação dos escravos em 1888 e a proclamação da República do Brasil em 1889.
Esses processos de escravidão, invasões e explorações aconteceram no mundo todo, até o século XX. Portugal conseguiu expandir seus braços por todos continentes, assim como a Inglaterra. Os Estados Unidos, apesar de ser um país „ mais novo“ nesse processo, também já se lançava no controle e domínio político-econômico, chegando no extremo Oriente do Mapa Mundi.
Japão e Judo
O Japão sofreu um tipo subtil de acção „invasora“ dos americanos em meados do século XIX. Em 1853, os americanos chegaram ao Japão acompanhados de navios militares e pressionaram-o a abrir suas fronteiras para o Ocidente. Em 1854 assinaram um acordo, o Tratado de Kanagawa para abertura dos portos e, em 1858, o „Tratado de Amizade e Comércio“. As mudanças no comportamento social foi oficialmente implementado em 1868 com as Restaurações do período „Meiji“.
O Judo, surgiu nesse momento. Em 1882, o mestre Jigoro Kano, concretizou suas idéias e formalizou a sua Arte. Em um momento que o Esporte era só uma idéia, Jigoro Kano embasava sua teoria de movimento na física moderna, como base teórica de sua prática. Hoje, lendo livros sobre a „Teoria da Ciência do Esporte“ de autoria de vários autores renomados, não encontro nada mais do que o rebuscamento de palavras, tiradas da essência artística de Jigoro Kano. Quando falamos de Kuzushi, Tsuri e Kake, nada mais é que a fase inicial, principal e final de todo movimento. Agregamos a isso os princípios de Seiryoku–Zenyo, para melhorar o resultado do movimento com uma menor gasto energético – base dos fundamentos fisiológicos; Jita Kyoei – bases científicas sociais – „ crescimento mútuo equilibrado“. Somam-se bases éticas do respeito pelo outro através de palavras – …aquele que vencemos hoje, poderá derrotar-nos amanhã…“ – ou atitudes, como a saudação – flexão do tronco e inclinação da cabeça ; psicológicas e mental, realçando o aspecto da resiliência humana – onde cair correctamente faz parte do processo da aprendizagem antes de se levantar.
Porém a ideia fundamental de Kano sensei, o objectivo mais importante dessa criação era manter viva a arte e cultura de um povo através da prática do Judo.
Essa atitude foi a maior prova de amor que alguém poderia ter demonstrado por suas origens, suas raízes. Ele pressentiu que as mudanças a partir de então seriam muitas e a única forma de manter viva a chama do seu povo seria através da Arte!
Ser Judo, não é uma religião ou uma seita, ser Judo é uma filosofia de vida, é o eterno recomeçar, cair e levantar, treinar e treinar, ser mestre e discípulo ao mesmo tempo, no mesmo corpo e espírito.
Com essa idéia, de uma forma muito peculiar, inteligente e simples, Jigoro Kano disseminou idéias e enviou discípulos para todo o mundo. O Japão, por sua vez, também estimulava a emigração, isto é, estimulava o seu povo a buscar novos desafios em outros países, pois encontrava-se super populoso.
O Judo brasileiro
A primeira grande imigração japonesa ao Brasil aconteceu em 1908. Os japoneses desembarcaram em São Paulo e trouxeram na bagagem a cultura e o Judo. Um dos grandes preconizadores do Judo, por sua vez, chegou na cidade de Belém do Pará, localizado na Região Norte brasileira, exactamente na floresta Amazônica. ele se chamava Mitsuyo Maeda ou Conde Koma, como era conhecido após sua passagem pela Espanha. Maeda havia estudado na Kodokan e em 1904 viajou aos Estados Unidos acompanhando um de seus mestres, Tsunejiro Tomita; de lá foi à Espanha, chegando em 1915 ao Brasil.
O Judo brasileiro é muito similar ao japonês. O seu ensino e prática guarda um padrão de comportamento embasado na original tradição cultural japonesa ainda hoje, como resultado do processo migratório do século XX. Por ter estabelecido a maior colônia nipônica fora do Japão, o Judo no Brasil foi brindado com a oportunidade de receber as informações directamente da fonte original, sem intermediários. Isso levou a prática judoística no Brasil a englobar uma conotação que vai além dos tatamis, muito mais importantes do que o alto rendimento.
Através do Judo são desenvolvidos projectos que visam a educação, integração e inclusão social. Essas acções abrem perspectivas de desenvolvimento educativo e profissionais à crianças e jovens indiscriminadamente.
Estima-se que o Brasil possui 2 milhões de praticantes de Judo inseridos em uma população de mais de 200 milhões, enquanto o Japão tem cerca de 160 mil praticantes e população de 120 milhões de habitantes, espalhados em toda sua extensão territorial, que por sua vez é 22 vezes maior que o Japão e 92 vezes maior que Portugal.
Habitável e cultivável em praticamente todo seu espaço e livre das maiores catástrofes naturais, como terremotos, tornados e actividades vulcânicas, o Brasil desenvolve actualmente modernos centros de pesquisa agrícola, ecológica e tecnológica. A energia eléctrica brasileira é a mais pura do mundo, pois é gerada por usinas hidreléctricas, mas infelizmente para construí-las, também existe um impacto ambiental. O material genético, a madeira e os minerais, presentes na superfície e no subsolo das florestas brasileiras são muito cobiçados, principalmente internacionalmente. O Brasil é auto-suficiente na exploração do petróleo.
Os mares – pulmões do mundo
O Brasil tem um potencial de crescimento ainda maior, mas sofre com pressões internacionais, que buscam reduzir a aceleração desse desenvolvimento, pois isso acarreta em concorrência internacional. Por isso forças políticas internacionais manobram leis para pressionar o país a criar restrições ecológicas, ao mesmo tempo que seus pesquisadores se infiltram em comunidades nativas secretamente através de organizações não-governamentais ou instituições religiosas, com a intenção de „usurpar secretamente“ e a custo de banana (a banana está mais cara ultimamente) conhecimento científico.
A estória que as florestas são o pulmão do Mundo já não é verdade. A quantidade de oxigênio liberada é proporcional a do gás carbônico. A história verdadeira é que os mares são o pulmão do Mundo. Na França a proporção de florestas é duas vezes menor que a agricultura e pecuária, no Brasil essa relação é inversa, sendo que no Brasil a maioria das florestas são nativas. Na Europa Ocidental mais de 90% das florestas são replantadas . No Brasil „para fabricação de papel“ são utilizadas áreas de plantio-replantio de árvores específicas. As leis florestais de desmatamento são bem elaboradas e oficiais. As madeiras Nobres extraídas das matas brasileiras, legalmente e ilegalmente, são exportadas para países de „primeiro mundo“. A Rússia possuí a maior floresta do mundo e nesse ano de 2020 sofreu muito com as queimadas. Nesse momento surgem algumas questões: Por que os governantes europeus e activistas mundiais deixaram essa história em segundo plano? Por que as queimadas e desmatamento das florestas do Congo não são tão criticadas? Por que essa implicância com a Amazônia?
Diminuir o desmatamento
Devemos de ser hipócritas e achar que os governantes de outros países querem o bem da Amazônia, na verdade eles desejam os „bens“ da Amazônia, …isso eles não falam. As florestas existem, pois temos a chuva e não o inverso; pesquisas científicas recentes comprovam isso, mas é claro que devemos diminuir o desmatamento, evitar as queimadas, pois apesar do poder regenerativo da floresta ser enorme, ele é limitado. O tempo é algoz, tudo acontece mais rápido no século XXI. Os animais selvagens devem ser preservados, para isso os Europeus e Asiáticos devem parar de comprar as Araras, Papagaios e outras aves brasileiras, …legalmente ou ilegalmente, eles são retirados dos seus habitats naturais, enjaulados e transportados em condições precárias, …menos de 10% sobrevivem e vivem encarcerados pelo resto de suas vidas. Quem são os culpados, os vendedores ou compradores? Se não existe consumidor não existirá caçador ou vendedor.
As queimadas são de origem diversas: naturais, ocasionais ou criminosas. Estas últimas pelo ato em si, são praticadas muitas vezes para reduzir o trabalho com o desmatamento. Em 2017 e 2018 Grécia, Portugal e Alemanha sofreram muito com as queimadas. Em 2020 Rússia, Austrália, Estados Unidos e Congo. No Brasil o crescimento agrário e pecuário existe, é algo histórico, e as queimadas são práticas comuns dos agro-pecuaristas desde os primórdios do descobrimento, isso não significa que é correcto. Em contrapartida aumentou-se a produtividade por hectare, isso é, se produz mais com menos espaço e preserva-se mais. Fazendeiros não querem ter problemas legais com o governo federal, isso causaria prejuízos financeiros enormes e caçação de licença. Em contra-partida existe a ação de grupos criminosos envolvendo acções de activistas ambientais, que desviam-se do seu objectivo principal, que seria defender a natureza e passam a querer produzir provas de crimes ambientais, provocando queimadas, levando a questionamentos da população e estresse social. A floresta Amazônica é muito úmida e mais difícil de pegar fogo em algumas épocas do ano, por isso fiquem atentos, muitas vezes as imagens transmitidas são gravações antigas ou de outras florestas pelo mundo. Como todo sector social, existem grupos bem e mal intencionados, porém definir quem é quem é uma tarefa difícil ultimamente.
O governo brasileiro actual „comprou uma briga“ com os meios de comunicação nacionais abertos. Televisão, rádio, jornais e imprensa escrita criaram um movimento contra o governo federal. A razão dessa aversão é simples, foi suprimida a verba publicitária governamental gigantesca destinada à algumas empresas de comunicação, além de haver uma redistribuição da verba destinada à propaganda. Isso levou a „tecer“ uma rede de intrigas e consequente efeito dominó de informações contraproducentes. Centros, redes de imprensa e comunicação internacionais, coligadas „emocionalmente“ com suas parceiras brasileiras, acabam distribuindo informação duvidosa, parcial e sem qualidade suficiente a fim de combater um inimigo, que muitas vezes elas próprias desconhecem.
Mas como saber o que é certo ou não?
Não dá para saber directamente, temos que pesquisar e buscar vias de informações adequados. Temos que tentar olhar com olhares imparciais, críticos, mas sem hipocrisia. Por exemplo: No Brasil menos de 10% do lixo doméstico é reciclado. Os dejectos são destinados à aterros sanitários, que levam milhares de anos para serem decompostos, além de contaminar os lençóis freáticos; isso é terrível. Mesmo sabendo disso, países mais desenvolvidos utilizam-se de subterfúgios para empurrar seus problemas para os países em desenvolvimento. Dois fatos curiosos e tristes sobre esse tema devem ser lembrados. Em 2009 o Reino Unido enviou ao Brasil dezenas de containers de lixo, alguns de alta toxidade, para serem depositados nos solos tupiniquins; a mesma táctica utilizada pelos Estados Unidos em 2018 com lixo hospitalar. Se não fosse a ação da Polícia Federal Brasileira esses containers teriam sido descarregados. Provavelmente o lixo foi enviado de volta aos países de origem, porém os fatos são de causar indignação.
Ainda sobre o lixo, temos que ressaltar que o Brasil tem uma taxa de reciclagem das latas de alumínio de mais de 95% e desenvolveu um plástico biodegradável a partir da cana de açúcar. O que eu quero demonstrar é que existe uma movimentação em solo brasileiro, medidas ambientais estão sendo implementadas e cumpridas.
Outro exemplo de pensamento ecológico, agora envolvendo outros países europeus. Existe um movimento para acabar com as usinas Nucleares na Europa, porém o fato é: A energia vai ficar mais cara, quem vai querer pagar a conta? Além do custo energético ficar maior, onde vão ser depositados os dejectos nucleares? Será que vão ser enviados para a América do Sul ou para África? Empresas internacionais exploram países em desenvolvimento, retirando os minerais que necessitam para os celulares e baterias dos automóveis ecológicos que produzem; … a que custo são fabricadas as baterias dos carros elétricos? Destruindo e transformando o ecossistema de países subdesenvolvidos? A que preço se constrói uma mentalidade ecologicamente correcta? Quem vai produzir os alimentos que a população do mundo necessita, a Alemanha que é 23 vezes menor que o Brasil? Será que os projectos de produção de alimentos proteicos a partir de insectos vão ser também comercializados (aceitos) na Europa ou somente na África eles serão ofertados? Esses também são questionamentos que devemos nos fazer, antes de criticar ou julgar as acções que acontecem em outros locais do planeta.
A Floresta Amazônica
No Estado do Amazonas encontra-se um dos maiores ecossistemas do mundo: A Floresta Amazônica. Cortado por poucas estradas, são os rios e o ar (espaço aéreo) as „estradas“ mais frequentadas pelos viajantes. Manaus é a cidade de maior densidade demográfica do estado, mais de 2 milhões de habitantes, ficando o segundo lugar para cidade de Parintins com 115 mil. Manaus possui um índice de desenvolvimento humano alto, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), porém a desigualdade social e problemas urbanos são igualmente grandes.
Eu nunca estive em Manaus. A cidade encontra-se quase 4 mil quilómetros de distância de São Paulo, onde nasci e morei até 2007, quando me mudei para Alemanha.
São Paulo era considerada a meca do Judô panamericano, todos iam à São Paulo buscar se aperfeiçoar na nossa Arte. Conheci muitos amazonenses que iam de ônibus treinar conosco; eles viajavam 3 à 4 dias sem parar, atravessando rios, florestas, estradas de terra e mal pavimentadas. Inacreditável a força interior que move essa gente.
Em uma conversa informal com Denise Oliveira, integrante da equipe brasileira que representou o país em vários eventos internacionais, inclusive o Campeonato Mundial de Equipes de 1998 em Minsk na Bielorrússia, o qual eu também tive o prazer de participar; ela pôde me posicionar de forma mais realista sobre a situação geral e atual no Amazonas. Natural da cidade do Rio de Janeiro e radicada em Manaus desde 2008, posso considerá-la minha irmã de coração por sobrenome.
Nesse Mundial, a equipa feminina do Brasil obteve a 5a. colocação, enquanto a masculina foi vice-campeã.
Judo no Estado do Amazonas
No seu relato, ela informou que a Federação de Judô do Estado do Amazonas – FEJAMA – completou 47 anos de fundação e possui 30 clubes e 1.356 membros federados. Considerando os trabalhos comunitários realizados por mais da metade dos Clubes e Associações em centros de desenvolvimento no interior do Estado, esse número deve ser muito maior, pois os participantes dos projetos não são oficialmente registados.
A mudança para Manaus foi para acompanhar seu marido, que era militar da Marinha do Brasil e foi transferido. A partir daí, para abrir uma Associação de Judô, foi quase natural. Hoje a Associação Esportiva e de Artes Marciais da Amazônia – AEAMAM – possui 47 filiados. Segundo Denise …
„ …o Amazonas por ser um Estado muito grande e de difícil movimentação, a maioria desse acesso só é possível por rio, o que dificulta muito a massificação do nosso esporte, então o que é feito são pólos de desenvolvimento das associações com sede na Capital, pelo interior do estado.
“Esta semana o Sensei Glaucio Mendonça, de Manaus, viajou 24 horas de barco para fazer o exame de faixa de um pólo da Associação dele no interior do Estado, mais precisamente no Município de São Gabriel da Cachoeira, …“, e completa …
„…São Gabriel da Cachoeira é um Município do Amazonas que fica à mais de 850km de Manaus. Do tamanho da Áustria, faz fronteira com a Colômbia e a Venezuela, no extremo noroeste do Brasil e de acordo com estimativas do IBGE, sua população era de 46.303 habitantes em 2020, fazendo deste o 13o. Município mais populoso do Estado. Em São Gabriel da Cachoeira, nove entre dez habitantes são indígenas, é o Município com maior predominância indígena no Brasil, onde estão presentes 21 etnias diferentes…“
Nas nossa conversa, Denise conta ainda que o povo amazonense tem um orgulho enorme da sua floresta e se preocupa com ela, porém atualmente o maior responsável pelo desmatamento é o índio, talvez pela falta de informação ou manipulação de pessoas mal-intencionadas. Segundo ela:
„ … o Governo criou politicas novas, aumentou a fiscalização e melhorou assim as ações, mas 2020 está sendo um ano muito atípico a tudo que já vivemos…“
Pandemia Covid-19
Quando questionada por mim sobre a situação provocada pela suposta pandemia mundial do Covid-19, Denise relata:
„ …Sérgio, houve muitos problemas, o Estado não estava preparado para a doença com falta de leitos nos hospitais, desvios de dinheiro por parte do Governo Estadual na criação e compra dos respiradores etc… . Com relação ao grande número de óbitos, como foi transmitido pelas tvs (os representantes do Estado cavando covas no cemitério para fazer os enterros), isso foi exagero uma vez que o número de óbitos foi igual do ano de 2019. O pior momento foi no mês de Abril. Porém o que fez o número de casos aumentar foi o aumento no interior do Estado que não tem estrutura hospitalar, lá chegou a ter mais de 60% do total de casos. Desde de Agosto os números vem reduzindo, porém no inicio da segunda quinzena de Outubro houve um aumento no número de incidências, devido ao grande número de pessoas em circulação nas ruas, muito por conta do início das campanhas políticas.“
Esse tipo de pensamento vem a corrobar com o que eu relatei anteriormente no texto, sobre as intenções dubiosas dos meios de comunicação e instituições partidárias em divulgar aquilo que lhes interessa, para causar impacto e caos social, desviando a atenção da população para obter recursos financeiros de emergência do governo federal e poder manipular essa verba da forma como lhes convierem, superfaturando compras e desviando dinheiro.
Manaus
Denise continua:
„…Manaus é a sétima maior cidade do Brasil, a Capital que cresce a ritmo acelerado. Possui um dos maiores pólos industriais brasileiros acompanhado pelo desafio de conservação da maior floresta tropical do mundo. Tudo isso aliado à sua biodiversidade, riqueza cultural e bens ainda desconhecidos. Estamos bem, mas podemos melhorar muito ainda, com a melhora da qualidade de vida da população local, fornecendo serviços, facilidades e melhoras em infraestrutura experimentadas em outras regiões do pais. …“
Infelizmente (ou felizmente) chegamos ao final do texto. A minha proposta foi abrir um caminho, oferecer ao leitor um fio de curiosidade, reacender questionamentos básicos da humanidade e mostrar uma parte magnífica desse país chamado Brasil, não só pelas belezas, mas também pela esperança que seu povo guarda dentro do peito.
Deixar claro que eu não sou defensor dos políticos brasileiros, eu sou defensor do Brasil e dos Brasileiros como eu, que querem o bem do Brasil; com olhos na realidade realizável e plausível, sendo planejada coerentemente com as necessidades locais, em primeiro lugar, e posteriormente globais.
Não esconder os problemas que existem, entretanto destacar as soluções possíveis que se abrem no horizonte. Delinear que a responsabilidade do Brasil é dos Brasileiros e de mais ninguém, …com certeza, eles tem pessoas altamente capacitadas para isso. Questionar aqueles que questionam, para saber a real intenção dos questionamentos. Por fim dizer que para cada parágrafo aqui discutido, caberia uma tese de doutoramento. Gostaria de agradecer à Denise, pelo seu empenho em atender os meus pedidos, e deixar registrado que, quando for ao Brasil, vou visitá-la e conhecer essa parte do Brasil que me emocionou muito. Agradeço igualmente ao leitor que chegou até aqui, pela paciência dispendida. Deixo à seguir algumas referências do que foi escrito nesse relato, que podem ser o início de um novo ciclo de reflexões sobre o nosso papel na sociedade moderna!
Sérgio Oliveira | JUDO ON THE ROAD | Canais do YouTube: „Sérgio Oliveira Judo“ e „Sérgio Oliveira Impressions JJJ“
Fotos © Sergio Oliveira | Texto respeita a grafia original | Editado Título e subtítulos – CR JM
Referências
Kano, Jigoro. Kodokan Judo. Kodansha International: Tokyo, 1994. 260p