05/12/2024

TRIBUNA JM | A voz dos 80 milhões de deslocados na tribuna olímpica

JUDO MAGAZINE | 16 de novembro 2020 | Tribuna Judo Magazine

Há quem afirme que o espírito olímpico não passa de conversa fiada e que o palco planetário do desporto e do encontro dos povos seria uma grande encenação mediática para atingir meios meramente comerciais. Mas se este entendimento fosse tão óbvio será que a presença de atletas refugiados dando destaque a uma gravíssima crise humana e social seria mesmo necessária? Leonardo Cunha convida-nos a ir ao encontro dos pormenores desta relação complexa, já com Tóquio 2020 na mira.

IPC e a Equipa de Refugiados para Tóquio 2020

por Leonardo Cunha

Nos Jogos Olímpicos de Rio2016 o Comité Olímpico Internacional (COI) confirmou a presença pela primeira vez de uma equipa de Refugiados. Este foi um momento sublime e grande significado. Na altura de apresentação da equipa oficialmente, choveram elogios de todos os quadrantes do mundo e o COI prontamente confirmou a continuidade deste projeto para Tóquio 2020.

Recentemente, o Comité Paralímpico Internacional (IPC) confirmou os planos para enviar até seis atletas para os Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020, no âmbito de uma Equipa Paralímpica de Refugiados (RPT). Trabalhando com os seus parceiros comerciais e com o UNHCR (a Agência das Nações Unidas para os Refugiados),

o IPC procura aumentar a consciencialização sobre a situação enfrentada pelos atletas refugiados e enviar uma mensagem mais ampla de esperança aos quase 80 milhões de deslocados à força em todo o mundo.

A equipa será liderada por uma ex-refugiada e paralímpica de Londres 2012, Ileana Rodriguez. Rodriguez nasceu em Cuba, mas passou a competir pela Team USA. A sua família partiu para os Estados Unidos da América quando era adolescente, na esperança de encontrar um melhor tratamento para uma malformação da coluna vertebral que a deixou paralisada. Em Londres, chegou às finais dos 100 metros femininos.

O IPC está a oferecer uma gama de apoio de dentro e fora da competição aos potenciais atletas, incluindo

  • (1) ajudar os futuros atletas a cumprir os objetivos de qualificação e critérios de elegibilidade para os Jogos,
  • (2) financiamento para atletas que participem em provas de qualificação de Tóquio 2020,
  • (3) apoio aos atletas a prepararem-se para a competição para abordar as limitações de treino causadas pela COVID-19,
  • (4) apoio a até seis atletas selecionados para Tóquio 2020 com a sua participação nos Jogos e
  • (5) proporcionar apoio no legado aos Jogos ajudando os atletas do RPT a competir em mais competições até ao final de 2021.

Além disso, o IPC trabalhará em estreita colaboração com o UNHCR para alavancar o RPT e os Jogos no envio de uma forte mensagem de apoio a todos os refugiados e outros forçados a sair das suas casas por conflitos e perseguições.

Embora todos enfrentem desafios significativos, as pessoas com deficiência estão frequentemente em risco elevado e enfrentam barreiras ao acesso à assistência, serviços e oportunidades.

Além de a equipa Olímpica de refugiados ter já um grande significado nos Jogos, a notícia de uma equipa Paralímpica terá ainda maior significado. Em conjunto com o UNHCR, o IPC continuará a promover a inclusão ativa e a plena participação de refugiados com deficiência na sociedade através dos desportos adaptados.

Dominique Hyde, Diretor da Divisão de Relações Externas da Agência das Nações Unidas para os Refugiados, acrescentou: “Apesar de viverem de uma existência de ponta de navalha e enfrentarem desafios às suas rotinas de treino devido à pandemia COVID-19, a resiliência e determinação destes atletas refugiados continuam a brilhar.”

O IPC está com esta iniciativa a trilhar o caminho correto no que tange em mostrar o poder de inclusão através do desporto numa mensagem de esperança e que mesmo intangível tem um impacto global na transformação de um mundo melhor através do desporto.

Leonardo Cunha

Editado Carlos Ribeiro | Judo Magazine

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