IG VESTE JUDOGI | Daqui a 200 anos!
JUDO MAGAZINE | 28 de novembro 2020 | A IG veste o judogi | Igualdade de género no judo
A clarificação do conceito de género, o legado histórico e civilizacional, a necessidade de uma abordagem integrada, a finalidade da igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, o potencial contributo do desporto, as macro-iniciativas para uma influência global no sentido da mudança, Pedro Dias convida-nos a fazer uma pega firme no tema da igualdade de género. Leitura obrigatória, para mulheres e homens que pretendem um judo melhor.
por Pedro Dias
O género é um conceito social que remete para as diferenças existentes entre homens e mulheres, diferenças essas que não são de carácter biológico, mas resultantes do processo de socialização. Ele descreve o conjunto de qualidades e de comportamentos que as sociedades esperam dos homens e das mulheres, formando a sua identidade social.
Estas relações de género têm-se caracterizado por serem diferentes de cultura para cultura, de religião para religião, ou de uma sociedade para outra; serem influenciadas por diferentes fatores, tais como, a etnia, a classe social, a condição e a situação das mulheres; evoluírem no tempo; serem dinâmicas e estarem no centro das relações sociais; e distinguirem-se pela sua desigualdade, havendo uma hierarquização dos géneros, pela qual os homens têm um lugar privilegiado em relação às mulheres.
Mandela e o desporto
Com base nesta constatação da existência de desigualdade nas relações de género afigura-se como premente uma intervenção integrada nas várias esferas da sociedade, com vista à promoção de uma plena igualdade de oportunidades entre homens e mulheres.
Apesar dos mais recentes progressos, a matriz civilizacional que se rege por valores de igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres é ainda uma miríade entre nós em vários domínios sociais, nos quais o desporto não é uma exceção. Será difícil conquistar no desporto o que noutros sectores ainda não se alcançou, mas provavelmente em nenhum deles o impacto na humanidade seria tão grande. Segundo Nelson Mandela, antigo Presidente da Africa do Sul e Prémio Nobel da Paz “o desporto tem a capacidade de mudar o Mundo”.
O contributo do desporto
O desporto é uma experiência social contínua, na qual a humanidade mostra o seu potencial, acumulando e melhorando o capital humano. O desporto desempenha uma função de desenvolvimento, educativa, patriótica, comunicativa, integra e coordena indivíduos e grupos sociais, ajudando as nações a desenvolverem-se.
Chegamos assim à conclusão de que o desporto pode dar um importante contributo para a igualdade de género na nossa sociedade, mas não sem que antes atinja, ele próprio, um equilíbrio em termos de género.
A tradição, a cultura e os estereótipos de género continuam a contribuir fortemente para que o desporto seja, ainda hoje, entendido como uma pertença dos homens, criando-se muitos obstáculos a um maior envolvimento por parte das mulheres.
Gender Equality Review Project
Se a Carta Olímpica de 1996 passou a estabelecer a promoção da mulher no desporto, em todos os níveis, como uma das principais funções do COI, pouco tempo antes, em 1987, o documento ainda conservava um artigo que restringia a “permissão” da sua participação nas competições à prévia autorização da instituição, a quem competia avaliar se determinado desporto seria ou não adequado à sua condição biológica da mulher.
Segundo Thomas Bach, Presidente do Comité Olímpico Internacional, a sua organização “tem uma responsabilidade importante de agir quando se trata de igualdade de género – um direito humano básico de profunda importância”. Desta forma o COI lançou a Agenda Olímpica 2020, o Roteiro Estratégico para o Movimento Olímpico e mais recentemente o “Gender Equality Review Project”, comprometendo todos os membros da família Olímpica a contribuírem para um equilíbrio de género.
De acordo com Marisol Casado, presidente da Comissão Mulheres no Desporto no COI, as conclusões do Gender Equality Review Project, contendo 25 recomendações a serem implementadas, divididas em 5 temas essenciais, Desporto, Imagem, Financiamento, Governança e Recursos Humanos “enfatizam que, para que as iniciativas de igualdade de género sejam implementadas e sustentadas com sucesso, todas as recomendações devem ser cumpridas. Alcançar igualdade de género generalizada no desporto também requer cronogramas claros para a ação, com responsabilidades identificadas e monitoramento e avaliação de acompanhamento.”
Mulheres continuam sub-representadas
Apesar de alguma melhoria gradual de alguns dos temas anteriormente mencionados, nomeadamente na área desportiva onde em Tóquio 2020 teremos um equilíbrio dos atletas participantes, todas as modalidades serão disputadas por ambos os géneros e todos os países estarão representados por homens e por mulheres, no que diz respeito à governança, as mulheres continuam sub-representadas.
Os dados do relatório sobre as mulheres no poder e na tomada de decisão, elaborado pelo Comité Olímpico Internacional em 2020, mostram que a presença de mulheres nos lugares de decisão ainda está muito aquém dos 30% recomendados. Estes números refletem as tendências verificadas em outras áreas de tomada de decisão, segundo as quais quanto mais alto é o cargo, maior é a diferença entre homens e mulheres.
integrar a dimensão de género nos domínios políticos
Talvez a mais efetiva forma de reforçar a igualdade entre homens e mulheres no desporto é integrar a dimensão de género nos domínios políticos pertinentes. A integração do género pode ser descrita como a integração de uma perspetiva de igualdade de género em todas as fases de desenvolvimento e aplicação de uma política ou programa.
Ao ritmo atual, é espectável que se atinja a igualdade de género no desporto daqui a 200 anos. Demasiado tempo a não ser que sejam tomadas urgentemente medidas a respeito.
Pedro Dias, Responsável Técnico do Sport Algés e Dafundo
Fotos © Pedro Dias
Com a Princesa do Liechtenstein , o Príncipe da Jordânia e Filipa Cavalleri