Mensagem da Senhora Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro

JUDO MAGAZINE | 1 dezembro 2020 | A IG veste o judogi | Mensagem da Senhora Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro

Associo-me à iniciativa “IG veste o Judogi” e felicito a Judo Magazine por esta ação de promoção da igualdade de género no desporto. Saúdo também a Comissão Mulheres e Desporto do Comité Olímpico de Portugal, pela composição e disseminação da brochura Igualdade de Género – Recomendações de Boas Práticas e pelo desafio lançado às Federações Nacionais neste âmbito.

O Judo, em Portugal, tem palmilhado um percurso que augura bons ventos futuros para a igualdade de género efetiva nesta modalidade mas também porque incorpora, desde logo, o exemplo de que é possível criar mais e melhores condições para que mulheres e homens possam alcançar o seu potencial desportivo.

Veja-se, a Comitiva Nacional paritária que se apresentou ao Campeonato da Europa de Judo 2020 com 16 Judocas, 9 Femininas e 7 Masculinos, acompanhada por uma treinadora e um treinador, no ano em que se assinalam os 40 anos do primeiro campeonato feminino de Judo.

No entanto, sabemos que o caminho ainda é longo e que os obstáculos a uma igualdade plena se apresentam transversalmente nesta e noutras modalidades porque os problemas e as questões identificadas na prática desportiva não são neutras, do ponto de vista de género.  Assim, é absolutamente essencial que o foco seja no desenvolvimento de medidas concretas, exequíveis e cujo impacto possa ser mensurável e sustentável.

Para que isto aconteça, importa ir para além da formalidade dos direitos já consagrados e trabalhar na materialização da igualdade de oportunidades e de resultados na vida. Este processo, exige que sejamos capazes de refletir e analisar a realidade e o quotidiano constantemente, para que se percebam as causas das desigualdades e se identifiquem os focos da discriminação. Deste modo, será possível desenhar intervenções que derrubem as assimetrias e as desvantagens de partida das raparigas e das mulheres, nomeadamente, no desporto. A criação de Planos de Ação afigura-se, assim, como uma estratégia eficaz para a definição de linhas orientadoras, que resultem numa verdadeira transformação.

E se temos compromissos e recomendações internacionais ou nacionais (Estratégia Nacional para a Igualdade e a Não Discriminação 2018-2030 «Portugal + Igual») com os quais devemos estar efetivamente envolvidos/as e conjuntamente cumprir, temos em primeiro lugar um compromisso com as pessoas que, em cada região do país, vivem mais desvantagens e estão sujeitas a situações de maior discriminação. E essas pessoas ainda são, na sua maioria, as raparigas e as mulheres.

Continuamos a ter um número ínfimo de atletas federadas e as parcerias locais, entre os Municípios, as Federações e as organizações da sociedade civil podem compor uma tríade de ação privilegiada, numa estratégia local que pode ter um alcance global, no futuro.

É ainda fundamental que seja dada voz, acesso e espaço aquelas/es que são geralmente excluídas/os em razão do sexo, da orientação sexual e identidade de género ou da origem étnico-racial, nas estruturas das Federações e nos lugares de decisão.

Urge a necessidade de reforçar a formação e incluir conteúdos específicos em igualdade e não discriminação, quer ao nível do percurso de estudantes das áreas relacionadas com o desporto, quer no de treinadores/as e árbitros/as.

Sabemos que a visibilidade é fundamental na desconstrução dos estereótipos e, estando o desporto tradicionalmente associado ao domínio masculino, revelam-se muito importantes as mulheres referência – como a Telma Monteiro, no Judo – nas várias modalidades.

Neste âmbito, o desenvolvimento de programas de mentoria, de ações de promoção e de visibilidade das atletas, treinadoras, árbitras, dirigentes, médicas, fisioterapeutas, são fundamentais para que as raparigas possam ter sentido de pertença, para que adiram mais à prática desportiva e encontrem condições para o fazer em segurança; bem como ter a ambição de que serão capazes de desempenhos desportivos extraordinários, tal como os seus pares nas modalidades masculinas. Recordo a resposta de Simone Biles (ginasta norte-americana, campeã olímpica e detentora de vários recordes mundiais) aos media, quando a compararam com outros dois magníficos atletas: – “Eu não sou a próxima Usain Bolt ou Michael Phelps. Eu sou a primeira Simone Biles”. 

Ainda a este propósito, o papel dos órgãos de comunicação social é diametralmente relevante, quer em quem designam para fazer a cobertura dos eventos desportivos, quer no conteúdo que promovem e na forma como são tratados os assuntos, nomeadamente, das atletas. Nesta medida, a criação de orientações ou guias de boas práticas, como fizemos, por exemplo, na prevenção e combate à violência contra as mulheres e violência doméstica, releva-se muito útil.

Estas são apenas algumas linhas de ação futura que podem contribuir para quebrar as barreiras que ainda persistem.

Da minha parte, e da área governativa que tutelo, a cidadania e a igualdade, podem contar com toda a colaboração, pois sabemos que só com uma forte vontade comum e sentido de compromisso dos vários intervenientes podemos efetivamente testemunhar uma transformação que garanta às mulheres um lugar que também é seu, por direito, no desporto.

Lisboa, 26 de novembro de 2020

Rosa Monteiro

Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade

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