ENTREVISTA | Um judogi na favela e um ippon no tatami, a FIJ combina desporto e social
JUDO MAGAZINE | 1 de janeiro 2021 | ENTREVISTA
Entrevista a Nicolas Messner e Leandra Freitas.
O judo é uma modalidade que conta com a sua Federação Internacional para abrir novos horizontes aos judocas e a todos aqueles que se enquadram no contexto da sua prática e organização.
Da entrevista realizada a Nicolas Messner e a Leandra Freitas, ambos com responsabilidades de organização e de comunicação nas iniciativas daquele órgão federativo, ressalta algo muito claro: a aposta da FIJ é no desenvolvimento de uma dupla dinâmica, a desportiva por um lado e a social por outro.
Entenda-se aqui o conceito de social na sua dimensão abrangente, ou seja, incorporando as várias dimensões da vida em sociedade, a cultura, o lazer, o envelhecimento ativo, as tradições, a educação, o ambiente, a inclusão social e a paz.
Judo é também espetáculo
A vertente desportiva tem vindo a ganhar um elevado grau de profissionalismo na organização das provas, aliás um fenómeno muito próprio das grandes modalidades mediáticas que combinam desporto, espetáculo, publicidade e um modelo de negócio baseado na economia do divertimento. Não estamos a fazer comparações com os modelos high level como os da NBA, da FISA, da UEFA e da FIFA, a título de exemplo, mas os ingredientes de base são idênticos ou similares. Estamos a falar da Fábrica das Emoções.
Já a vertente social tem vindo a crescer de importância no calendário de atividades e como referiu Messner “as diferenças culturais e as condições de participação são muito diferentes de continente para continente e de país para país, mas os temas que estão na base das ações são transversais e todos os podem viver essas experiências, cada um à sua maneira”. Para Nicolas Messner que dinamiza muitas das ações nesta vertente “o judo pela sua própria natureza, com os seus princípios éticos emerge como uma modalidade que se dirige a todas as comunidades de forma aberta e ampla. Associada ao judo está a ideia-força de uma sociedade melhor.”
Liga de ouro também é verde
Revisitámos com Leandra Freitas as iniciativas dirigidas aos mais jovens e em especial a Liga de Ouro JudoFit Kids cujos resultados em termos de adesão e de entusiasmo são de assinalar como um grande sucesso. Leandra atualizou a informação sobre a mais recente nuance introduzida no concurso que remete para a dimensão ambiental e destacou a presença de exercícios relacionados com as tarefas de defesa do ambiente e de promoção dos comportamentos ecológicos fundamentais. “Flavio Canto e Sabrina Filzmoser que são os embaixadores da FIJ para as alterações climáticas vão integrar o lote de Cartões de Ouro com os grandes atletas do judo mundial”.
A Liga de Ouro JudoFit Kida está prestes a terminar, os últimos desafios estão a ser lançados. “Até à data deram entrada 3510 participações de jovens judocas oriundos de 50 países, o que é absolutamente fantástico” comentou a responsável operacional da iniciativa que anunciou que no próximo dia 7 de janeiro será lançado o último desafio que surgirá recheado de surpresas.
De Beirute a Tóquio
Nicolas Messner termina o nosso encontro com a informações sobre a atuação da FIJ ao longo do ano de 2020 consolidando no plano prático a ideia central da dupla valorização do judo como desporto com uma forte responsabilidade social “Ainda recentemente no Líbano, perante a catástrofe de Beirute que se traduziu em enormes estragos na zona do porto da capital libanesa, os judocas estiveram com as populações locais e deram provas de grande solidariedade. Também o apoio especial que temos dado aos judocas refugiados, que contam com a possibilidade de competir até em provas internacionais, atendendo às situações particularmente difíceis que estão a viver, constitui um pilar na promoção da inclusão social. Há ainda todo o crescimento do judo adaptado e da presença de atletas nos Jogos Paralímpicos que nos envolve e que queremos continuar a apoiar sobretudo nesta fase de pandemia que pressiona para que muitos desistam dos seus esforços.”
Se a Sabrina e o Flavio estão lado-a-lado nos cartões de ouro com Sagi, Marie-Éve e Ono o judo fica mais forte. Há campeões e vencedores de vários combates. Um judogi na favela e um ippon no tatami tendem a ser valorizados com grande entusiasmo. O judo não perde a sua identidade e reforça-se na interação social.
Fotos © FIJ