LIGA DE OURO | O judo de garagem ou como Zorreta virou Gates por uns tempos

JUDO MAGAZINE | Liga de Ouro | Jovens judocas resilientes

O que levou milhares de jovens adolescentes a criar pelo mundo fora o conceito de Bandas de Garagem, vivendo com autonomia espaços independentes nas casas de residência, para ouvir e tocar música, principalmente rock mas também outros géneros musicais, foi antes de mais a vontade de realizar sonhos que projectavam geralmente futuros com fama e glória.

A garagem dos Metallica brilha tanto no universo das bandas de rock como o Cavern Club na mística dos quatro de Liverpool ou ainda como a Traf-O-Data, a empresa de garagem que Bill Gates fundou aos 17 anos, na constelação das GAFA. Ou seja, as garagens podem ser espaços iniciáticos de projetos que o futuro poderá validar, para o encanto dos seus promotores.

A garagem é aqui eleita metáfora de audácia e de empreendedorismo e com toda a razão porque foi nesse espaço-refúgio que Manuel Zorreta operacionalizou o lema mais utilizado no judo neste último ano, a saber “não vamos parar”.

Manuel

Mas quem é este jovem judoca que fez da sua garagem um dojo multifuncional que lhe permite continuar a treinar de forma persistente e dedicada?

O Manuel começou a praticar Judo com 4 anos na ADCEO com a orientação de José Martins onde esteve até aos 5 anos. No ano seguinte apresentou-se no Dojo de Alenquer do Judo Clube de Lisboa onde passou a estar sob orientação de Vitor Pimenta até ao dia de hoje. Nos últimos anos tem também complementado a sua formação com outros atletas com a supervisão de João Nunes no âmbito do trabalho global do Clube.

Foi em parceria com o pai que o Manuel idealizou a obra inédita do Dojo-Garagem que ganhou forma depois de muitas arrumações e alguns trabalhos.

O Manuel não conta com o pai apenas para situações tão exigentes quanto esta, que implicou transformar uma garagem em sala de treino de judo. O apoio concretiza-se no dia-a-dia com destaque para o acompanhamento aos treinos e aos estudos que são domínios centrais da vida quotidiana do jovem judoca de Alenquer em crescimento.

Um refilão resiliente

Manuel teve uma conversa com o pai a propósito do equilíbrio que é necessário estabelecer entre as diversas vertentes de aplicação de esforço na jornadas de um judoca e emergiram algumas afirmação curiosas:

  • MZAchas que treino bem ou deveria melhorar em alguma coisa?
  • Pai – Bom… acho que às vezes devias levar o treino mais a sério e com menos brincadeira, ahh e ser menos refilão!
  • MZ Achas que eu sei conciliar bem os meus estudos com os treinos?
  • Pai –  Claro que sim! Apesar de às vezes ser necessário um incentivo dos pais!
  • MZComo achas que tem sido a minha evolução ao longo destes anos?
  • Pai – Tem sido uma evolução muito consistente e equilibrada. Com vitórias e derrotas que te ensinam a crescer.
  • MZ Como avalias o meu desempenho nos treinos em casa?
  • Pai – Tens sido resiliente e manténs esta rotina diária.
  • MZÉ muito difícil trabalhar e mais tarde teres de me levar aos treinos?
  • Pai – Não, porque sei que te estamos a ajudar a fazer algo de que gostas.

As soluções que os clubes, os atletas e os pais estão a encontrar, como esta garagem-dojo como referimos a título de exemplo, procurando minimizar as consequências num desporto de combate que integra o contacto como elemento central da sua prática remete-nos para uma espécie de ponto da situação atual que nos foi adiantada da seguinte forma:

Há atletas a desistir e a abdicar dos seus projectos

” Em tempos marcados por uma pandemia mundial, a vida de todos nós passou a estar fortemente condicionada, dando lugar a restrições que, como sabemos, afectaram toda a actividade desportiva e competitiva.

Em tempos como este, atletas e treinadores tiveram de se reinventar na atitude e comunicação entre si, bem como nos processos de treino.

Treinos on-line, envio de vídeos para trabalho à distância, alteração ao espaço de casa para não se parar, tudo isso se veio substituir aos treinos tradicionais no Dojo e preparação ao ar livre.

Acresce ainda, o fator emocional sobre os atletas. Já são muitos a desistir ou a abdicar dos seus projectos pessoais de evolução na modalidade, o que está a preocupar os clubes e as federações.

Paralelamente a estes casos dramáticos e que em muito podem condicionar o futuro do desporto em Portugal, temos aqueles para quem desistir não é opção. Consideram que um novo desafio se abre nestas circunstâncias e vão querer ultrapassar os obstáculos que vão surgindo sempre focados nos objectivos por si definidos.

O exemplo deste jovem judoca do Dojo de Alenquer do Judo Clube de Lisboa, com 14 anos feitos ontem precisamente, que adaptou o seu espaço da garagem para um mini Dojo com todo o tipo de material e acessórios necessários para dar continuidade a um plano de treino que desenvolve diariamente, com a ajuda do seu treinador e do seu pai, é bem revelador da combatividade e da capacidade adaptativa do judo de uma forma geral”.

Manuel gosta de competir e de viajar

O percurso competitivo e de aprendizagem do Manuel tem-se pautado por uma impressionante regularidade, com inúmeras vitórias nos Torneios da ADJL, Salesianos, Norte-Sul, Olisipiadas, Lourinhã, Instituto do Judo ou Memorial Kiyoshi Kobayashi, entre outros.

Manuel tem participado em provas nacionais e internacionais com vitórias em diversos torneios A todo este percurso de competição, soma-se um sem número de estágios efectuados em Portugal, com destaque para o estágio efectuado precisamente em Alenquer e organizado pelo Dojo local do JCL, com o conceituado Koji Komuro.

Desde o início do confinamento em 2020, que o Manuel continua a treinar diariamente no Dojo improvisado em que se tornou a garagem dos seus pais,

O treinador do jovem praticante de judo em Alenquer faz uma avaliação positiva dos vários anos de acompanhamento técnico e humano que realiza, nos seguintes termos sintéticos “Falar do Manuel Zorreta, o nosso Mané, é falar de um atleta que, paralelamente ao talento que detém e a uma rápida aprendizagem, apresenta uma impressionante capacidade de trabalho que lhe permite ultrapassar as dificuldades crescentes, sejam no treino ou na competição. O seu comportamento, na relação com os outros é de apoio e de entreajuda, note-se que quando já participava na classe de competição, gostava de vir mais cedo para ajudar ao processo de iniciação dos mais pequeninos. Nas Férias Desportivas organizadas pela Câmara, participava sempre numa perspectiva de me ajudar a levar a modalidade a muitas crianças. De salientar ainda que o Mané é um aluno que ano após ano está no Quadro de Honra escolar. A carga e tempo de treino aumentaram, as dificuldades escolares idem mas o Mané vai, também aqui, mantendo uma impressionante e tão importante regularidade”.

O próprio Manuel concluiu a nossa visita virtual ao Dojo-Garagem com estas palavras de incentivo “escolhi o Judo porque quando eu era mais pequeno (por volta dos 4 anos) ainda não tinha escolhido o desporto que gostaria de praticar. Havia várias opções mas o futebol não podia ser porque eu não gostava de correr atrás da bola e então a solução foi o Judo porque eu sempre gostei muito de lutar. No futuro gostaria de ser fisioterapeuta, massagista ou nutricionista, ainda não decidi mas seria um destes três. Já agora a minha técnica favorita é o Seoi Nage e gosto muito de comer uma batatinha frita, mas essa não é a minha comida favorita. Eu gosto de um bom bitoque no pão ou no prato com arroz ou puré e salada de tomate”.

Fotos © cedidas por Manuel Zorreta | Colaboração de Vitor Pimenta treinador do Dolo de Alenquer do Judo Clube de Lisboa. Editado CR Judo Magazine.

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