2008, Pequim – Judo MAGAZINE

VÊM AÍ OS JOGOS | Tóquio 2020

Pedro Dias: escrevi o meu nome no Olimpo!

Os Jogos de Pequim, que tiveram lugar depois de Atenas, foram a olimpíada de afirmação na cena internacional do novo gigante asiático. Despido de qualquer equívoco ideológico o capitalismo de Estado chinês quis mostrar uma imagem de estabilidade e de segurança e confirmar a sua capacidade de organização, sem falhas, de um evento desta natureza. No fundo tratou-se de realizar uma declaração de saída da função secundária de subcontratado na economia mundial e dar uma indicação clara que um novo ciclo nas Relações Internacionais estava a emergir.

Pequim não conseguiu evitar que os temas quentes como os Direitos Humanos na China e a questão do Tibete viessem à tona de água nos sistemas de alerta internacionais mas o evento foi considerado um sucesso e os chineses não pouparam nos recursos para que tal acontecesse.

O judo em Pequim

Cinco atletas representaram Portugal nos Jogos de Pequim. Foram eles e elas os/as seguintes:

Telma Monteiro / Sport Lisboa e Benfica
Ana Hormigo / Academia Judo Castelo Branco
João Neto / ACM Coimbra
João Pina / ULHT
Pedro Dias / Sport Algés e Dafundo

Foi Pedro Dias que nos facultou o seu testemunho relativo a uma participação que marcou a sua carreira desportiva.

Tudo começou com Atlanta

O sonho de um dia gravar o meu nome na eternidade do desporto mundial, começou em 1996, durante os Jogos Olímpicos de Atlanta, quando tinha apenas 14 anos. A partir desse momento sabia onde queria chegar, mas o mais importante era a construção da estratégia e do processo que me iriam permitir atingir esse objetivo.

Sabia que não ia ser fácil, a grande maioria dos que me rodeavam não acreditavam que tal pudesse ser possível, mas isso apenas aumentava ainda mais a minha motivação.

Durante os 12 anos seguintes, transcendi-me naquilo que poderia fazer para almejar o que tanto procurava e, entre altos e baixos, o sonho estava cada vez mais perto. Até que uma grave lesão no ombro me impediu de disputar as últimas 4 provas de apuramento. Apenas com o Europeu de Lisboa 2008 pela frente, era o primeiro a ficar de fora numa estrita elite europeia (apenas os 7 primeiros do ranking europeu eram qualificados).

Sofrer até ao final

Talvez faça parte da cultura lusitana sofrer até ao final, mas depois de 3 meses sem conseguir treinar Judo, na última competição, na última luta, no último segundo, contra o líder do ranking Mundial, ganhei uma medalha de bronze e assim carimbei o meu passaporte para Pequim 2008.

Agora não existiam mais limites, se já tinha provado que estava entre os melhores do Mundo, queria voltar a superar-me e conseguir o que eu próprio nunca tinha sequer imaginado: Uma medalha Olímpica. Sabia que era muito difícil, ainda estava debilitado do ombro, mas era apenas um último sprint numa corrida que já ia longa.

Valeu a pena

Aqueles que se riram da minha ambição mudaram de expressão quando cheguei aos quartos de final, tendo derrotado entre eles o Bicampeão Mundial. Infelizmente encontrei pela frente outros dois adversários que foram superiores e me relegaram para o 9º Lugar. Não era o que queria, mas foi o que consegui, e apenas posso estar contente porque não havia absolutamente mais nada que eu pudesse ter feito para ter chegado um pouco mais longe. Sempre dei tudo de mim.

Várias vezes me perguntam se valeu a pena tudo o que abdiquei e todas as lágrimas que derramei (e não foram poucas). Viajei por dezenas de países, conheci milhares de pessoas, vivi experiências que ficarão para sempre na minha memória e escrevi o meu nome no Olimpo… Sim, valeu muito a pena!