1988, Seoul – Judo MAGAZINE

VÊM AÍ OS JOGOS OLÍMPICOS | Seoul 1988 | Atualizado 9/07 9.00

Lemieux melhor que Jonhson!

Seoul foi o atestado de vida para o movimento olímpico depois de três boicotes que fizeram tremer a continuidade do projeto de Coubertin – Montreal, Moscovo e Los Angeles. Num contexto político muito delicado atendendo à divisão das Coreias e às fracas garantias de plena infraestruturação dos Jogos atendendo ao desenvolvimento muito desigual do país, a aposta foi ganha pelos sul-coreanos que contavam, já nesta ocasião, com o apoio dos grandes investidores que pretendiam contrariar o poderio económico do Japão em contínua ascensão. Nagoia (JPN) perdeu, Seoul seguiu em frente.

Há coisas mais importantes que uma medalha!

Ben Johnson conquistou uma medalha de ouro nos 100m com o apoio fraudolento de Estalonozol, uma substância proibida, mas foi sol de pouco dura. Quarenta e oito horas depois a medalha foi-lhe retirada e o jamaicano naturalizado canadense viu Lewis dos USA assumir o estatuto de Campeão Olímpico em sua substituição.

Por sua vez Lawrence Lemieux, um marinheiro de Edmonton, Canada, provou que há coisas que são mais importantes que uma medalha. Lemieux parou a meio da corrida para resgatar Joseph Chang e Shaw Her Siew de Singapura, cujo veleiro virou devido a fortes ventos que atingiam os 35 nós. Embora estivesse no caminho certo para terminar a corrida em segundo lugar, Lemieux optou por enfrentar as ondas altas de quase 4 metros para vir em auxílio dos dois atletas à mercê das águas turbulentas.

Para destacar e valorizar este ato heróico, Lawrence Lemieux foi distinguido com a Medalha Pierre de Coubertin, bem como um segundo lugar honorário.

Lemieux melhor que Johnson!Querem falar de ética desportiva? Falem de Lawrence Lemieux!

A Rosinha

Seoul foi também a medalha de ouro de Rosa Mota, na maratona, numa prova inesquecível para ela e para os portugueses.

O judo em Seoul

Nos Jogos da Coreia do Sul Portugal esteve representado por quatro atletas e o treinador nacional que acompanhou a seleção de judo foi António Roquete.

Teresa Gaspar / Judo Clube Odivelas
Pedro Cristovão / Sport Algés e Dafundo
Hugo Assunção / Judo Clube Portugal
Renato Santos / Judo Clube Portugal

Importa salientar que Teresa Gaspar foi a primeira atleta portuguesa a participar nuns Jogos Olímpicos, na modalidade judo, tendo sido convidada a integrar esta primeira presença do judo feminino que foi, ainda e só, de demonstração. Em Barcelona, em 1992, o judo feminino encetará a sua plena presença competitiva, desta feita com a participação das atleta portuguesas Sandra Godinho, Filipa Cavalleri e Paula Saldanha.

Renato Santos Kobayashi que participou nos Jogos na categoria de -60kg com o nome de Renato Santos, foi quem testemunhou a aventura de Seoul à Judo Magazine:

Uma história cheia de recordações para a vida

Renato Santos Kobayashi

O Sonho começou em 1983 com o primeiro título de Campeão Nacional de Seniores, embora se viesse a concretizar somente em 1988 com a minha participação nos Jogos Olímpicos de Seoul em 1988 na categoria de -60 kg.
Tínhamos condições de treino muito limitadas e faltavam parceiros para treinar. Lembro que fui impedido de realizar uma preparação no estrangeiro pela Federação Portuguesa de Judo que acabei por fazer em Loures durante 45 dias com os meus dois colegas da Seleção Olímpica. Recordo que o mais leve, Hugo Assunção, tinha mais 12 ou 15 kg que eu e o Pedro Cristovão, mais 25kg. Tivemos a orientação de outro olímpico, o António Roquette, e o apoio na condição física foi assegurada pelo prof Monge da Silva no Estádio Nacional no Jamor.
Enfim, eram outros tempos e ainda bem que hoje é muito diferente.

Depois de Sotillo, uma decisão por uma unha negra

Tive um apuramento muito difícil pois nas 5 provas estabelecidas para a qualificação tínhamos de pontuar em 2 delas e 1 estágio internacional e no ano seguinte igual. Lembro me de ter pontuado em Londres, Barcelona, Gent e finalmente em Munique num combate muito difícil.

Em Seoul passei 2 rondas, uma delas tive de vencer ao campeão espanhol Carlos Sotillo (um dos judocas europeus mais fortes na minha categoria) e na terceira ronda empatei com o campeão chinês e acabei por perder com a decisão dos juizes de 2 a favor do meu adversário e 1 juiz a meu favor. Acabei por ficar com a sensação que poderia ter ido mais longe.

Apurado para Barcelona

Novo ciclo começou para Barcelona e com o apuramento já feito em 1991, sofri um acidente de automóvel (sem culpa alguma) e fiquei 45 dias sem poder treinar, tendo ficado arredado da preparação olímpica. Acabei por ser substituído por um colega meu, o Rui Ludovino, que entretanto conseguiu o apuramento.

Mas a experiência de ter participado e ter feito parte da família olímpica é uma história cheia de recordações para a Vida. Esta meta está ao alcance de muitos poucos o que me enche de muito orgulho ter representado Portugal ao mais alto nível desportivo, como seu embaixador na qualidade de atleta olímpico.
Agora como treinador ajudo os meus atletas a concretizar o SONHO!

Renato Santos Kobayashi
Atleta Olímpico Seoul 88 – Judo