Um clube de cristal

DIA MUNDIAL DO JUDO | Marinha Grande 28 de outubro 2021
Os clubes de judo constroem a sua identidade nos seus territórios de pertença. Ainda recentemente visitámos Valença e constatámos que a fundação da coletividade local ocorreu numa base transfronteiriça. Galegos e minhotos, apaixonados pelo judo, decidiram criar um clube que servisse a ambos. Na Marinha Grande seria difícil o clube de judo da terra vidreira por excelência escapar à tradição secular da lapidação do vidro e do cristal. Tudo indica que o judo nestas paragens tenha os seus mestres lapidários que atuam junto de pessoas e instituições.
Identifiquemos pois o processo de lapidação e o que dele resulta formulando a interrogação que se impõe: o que poderá ser um clube de cristal lapidado pelos saberes dos territórios e pelos olhares sobre um futuro, que sendo desportivo, também é social e comunitário?
Um clube de cristal apresentará necessariamente algumas características incontornáveis:
Ostenta uma bandeira da ética
Trata-se de sinalizar publicamente que os “valores” que o judo promove têm uma expressão prática na atividade do clube. Os princípios do judo acrescidos de outros tais como a liberdade, o espírito crítico, a criatividade, a ecologia, enfim todo um quadro favorável ao desenvolvimento social e humano.
Cuida dos mais jovens, promove a sua autonomia e a afirmação das suas capacidades.
Neste plano o “cuidar” significa incluir. Significa também valorizar as mais valias que todos introduzem nos processos colaborativas e, sobretudo, dispensa as abordagens “paternalistas” e “prescritivas” dos valores que soit disant devem ser seguidos. Neste plano incentivam-se processos de descoberta dos valores que são determinantes para cada um em função das prioridades que individual e coletivamente são estabelecidos para a conquista da felicidade.
Incentiva as relações e as dinâmicas intergeracionais.
A força de um clube está na concretização do lema “juntos somos mais fortes”. Todos aqueles que se envolvem na vida do clube contribuem para o desenvolvimento uns dos outros. Os mais idosos, os pais e mães, os amigos, os atletas competidores, os praticantes com outros objetivos, os treinadores e dirigentes, os muito jovens, todos constituem um potencial enorme de emancipação e de crescimento sustentado.
Promove modalidades inclusivas de judo.
O judo adaptado constitui uma fonte enorme de aprendizagem para todos. É um privilégio viver, acompanhar, apoiar todas as formas de adaptação de universos conceptuais, psicológicos, biológicos muito diferentes em busca de uma prática simples de uma modalidade complexa, que p judo é.
Relaciona-se com a comunidade local de forma dinâmica e colaborativa.
O clube de judo não procura os recursos da comunidade apenas para o seu próprio benefício. Antes pelo contrário, recorre às disponibilidades facultadas localmente e reforça essa bolsa de recursos com a sua própria mais-valia. Age numa relação de troca e de benefício mútuo, numa relação transparente com os membros das comunidades que o rodeiam.
Querem um exemplo deste tipo de abordagem identitária, ela própria em construção? Visitem o Judo Clube da Marinha Grande, façam perguntas, partilhem experiências e observem os mestres lapidários locais. Eles estão à vossa espera.
Fotos © IPDJ