O dinheiro não compra tudo e nunca deverá comprar a LIBERDADE.
NOTÍCIAS | 17 de agosto 2022 | Treinadores dos Salesianos
É natural que o debate sobre os diversos temas que foram colocados em cima da mesa relacionados com a situação do judo nacional tenha agora uma evolução ao ponto de serem introduzidos novos pontos que suscitam a reflexão dos atores da modalidade, dirigentes, treinadores, atletas, outros membros da comunidade do judo.
Neste caso são dois treinadores experientes, Eduardo Garcia e Nuno António, do Judo dos Salesianos que emitem opiniões e avançam até com sugestões para a resolução de dificuldades ou problemas que eles próprios identificam.
O fato de serem colocadas na praça pública novas ideias e propostas concretas para a evolução da modalidade só revela que o debate maduro vale a pena. Todos poderemos ganhar com essa dinâmica.
Opinião de Eduardo Garcia e Nuno António
texto editado CR/JM
Foi divulgada, na semana passada, mos meios de comunicação, uma carta aberta assinada por 7 atletas integrados no projeto olímpico Paris 2024. Nesse comunicado os atletas denunciam haver na seleção “clima tóxico”, “atitudes opressivas” e “intimidação”.
Não queremos fazer juízos de valor sobre quem terá razão, uma certeza temos: atletas descontentes nunca estarão no seu melhor nível para representar o nosso país, no muito difícil apuramento olímpico.
O que nos parece é que os problemas que culminaram nesta carta aberta encontram-se todos a montante, nomeadamente com os pequenos exemplos que vamos dar nos seguintes regulamentos:
Regulamento eleitoral
O regulamento eleitoral que no seu artigo 6º refere que um delegado apenas pode subscrever uma lista candidata que tem de ter um mínimo do 10% dos delegados, mas não estabelece um máximo de subscrições.
Não será isto um convite a uma eleição em tudo menos democrática, uma vez que torna difícil o surgimento de listas concorrentes,
porque um candidato pode ser subscrito por 100% dos delegados. Sabemos muito bem que é mais difícil aceder ao poder de que manter-se no poder, mas assim é muito difícil,.
Uma democracia coxa é um convite às atitudes relatadas pelos atletas subscritores da carta aberta.
Regulamento de organização de provas
Temos um regulamento que estabelece campeonatos individuais abertos e esvazia completamente as associações distritais na organização de provas, nomeadamente zonais e opens.
Não seria muito mais interessante ter em cada escalão um ranking composto por várias provas (zonais, opens e nacionais) e ser esse ranking o primeiro critério de acesso à seleção nacional?
No nosso entender, um ranking composto desta forma faria que os nossos judocas melhorassem substancialmente o seu nível competitivo porque competiriam com muito mais regularidade, em provas que tinham influência direta no acesso à seleção nacional.
Regulamento e modelo de judo de alto rendimento e seleção nacional
Neste momento, um atleta para fazer parte da seleção nacional tem de cumprir com 70% a 80% dos 52 estágios anuais em Cernache – Coimbra. Como é possível a grande maioria dos atletas da seleção, que são amadores e que não recebem nada e/ou pagam para praticar judo, deslocarem-se todos os fins-de-semana para Cernache?
Não seria muito mais vantajoso fazer estágios com uma periodicidade mensal e ter treinos semanais nas cidades onde temos mais judocas de competição?
Individualização
Numa modalidade individual não faria sentido o treinador do clube acompanhar o atleta nas competições? Relativamente a este ponto e para reflexão: o atleta Jorge Fonseca obteve os melhores resultados (bi-campeão do mundo sénior e medalha de bronze nos jogos olímpicos) desde que o seu treinador de clube assumiu funções como treinador da federação. Mas a participação masculina nos jogos de Tóquio reduziu em 50% (4 atletas masculinos no Rio de Janeiro 2016 e 2 atletas masculinos em Tóquio 2020).
Fica claro que foi vantajoso para o Jorge Fonseca, mas terá sido para os outros? É por isso fundamental respeitar a individualidade duma modalidade que é individual.
Quase a finalizar, sendo que fica muito por dizer, o presidente do COP admitiu a saída do presidente ou atletas, da federação. A pergunta que se coloca é a seguinte: para onde saem os atletas? É por demais evidente que um atleta pode escolher o clube e respetivo treinador, mas não escolhe a federação. Por essa razão, quem não está satisfeito com a sua federação, acaba quase de certeza por abandonar a modalidade.
Por último, saiu ontem uma notícia com as conclusões da reunião entre as entidades. Parece-nos muito positivo que a participação em estágios e competições internacionais resulte de um planeamento acordado entre a federação, treinador e atleta e que, seja ajustado o valor pago a cada atleta para apoio à deslocação,
mas tem mesmo de haver da parte dos atletas uma tolerância zero para com o “clima tóxico”, as “atitudes opressivas” e a “intimidação”.
O dinheiro não compra tudo e nunca deverá comprar a LIBERDADE.
17 de agosto de 2022
Eduardo Garcia e Nuno António
Treinadores dos Salesianos Judo