14/10/2024

Aguardo serenamente o desfecho da Assembleia Geral, mas o projeto em curso é para continuar

7 dezembro, 2022

ENTREVISTA | Jorge Fernandes, como foi 2022

Em tempo de balanço de época desportiva e de ciclo de esforços para afirmar e ampliar a influência do judo como modalidade para todas as idades e para todos os territórios fomos à conversa com Jorge Fernandes Presidente da Federação Portuguesa de Judo que não precisou de cábulas nem textos de apoio para revisitar toda a atividade levada a efeito ao longo do ano de 2022.

O líder da atual direção da federação tem as ideias bem definidas e bem claras sobre o balanço global do ano e recorre a dados concretos para reforçar a visão otimista que transmite e que resume da seguinte segura.

Em todos os indicadores que podemos utilizar para avaliar o trabalho realizado, número de praticantes, número de medalhas conquistadas, número de ações e provas organizadas, número de atletas das diversas regiões do país nas competições nacionais, entre outros, tivemos resultados positivos e até ultrapassámos as melhores expectativas” adiantou-nos.

Rapidamente a análise do trabalho realizado, tendo em conta a sua interligação com outros fatores temporais mobilizados, levou-nos a uma abordagem mais ampla que a mera anuidade que vai de Janeiro a dezembro 2022.

Revisitámos um percurso de 6 anos que corresponde a um primeiro mandato ao qual se deve juntar este período do segundo que está a decorrer, pelo menos até à Assembleia Geral que está agendada para meados do presente mês.

Uma demografia em mutação

“No passado não se conseguia sair do patamar dos 11 ou 12 mil atletas federados. Numa rara ocasião ter-se-á atingido os 13.000. Atingimos os 16.000 e no final de 2022 iremos certamente chegar aos 17.000. Os atletas não são inscritos por mim. As inscrições são o resultado do trabalho dos clubes e dos treinadores, mas as condições para que este aumento esteja a acontecer foram criadas por nós. Há uma mediatização do judo que concorre para uma maior e melhor base de credibilidade que leva ao aumento de inscritos” adiantou Fernandes com uma análise baseada nos dados que são publicados nos Relatórios Anuais da Federação.

“Os velhos (e os novos) do Restelo declaram que a situação do judo está má. Mas a verdade é que o judo está bem e recomenda-se. Não é por acaso que a Federação Internacional de Judo elogiou a FPJ e assinalou junto das restantes federações do mundo inteiro que tínhamos sido o organismo federativo que melhor lidou com a pandemia”.

“Agora alguns esquecem que estava tudo parado. A solução que colocámos em prática permitiu que os nossos atletas continuassem a treinar e que muitas seleções de outros países tivessem decidido vir para Portugal, para gerir o período agudo da pandemia, porque nos respetivos países era proibido treinar. Nestas circunstâncias o judo foi muito mediatizado e ficou associado a uma ideia de segurança. É pois natural que a procura do judo tenha aumentado”.

Jorge Fernandes reforçou a ideia que a mediatização da modalidade é sempre positiva. Mesmo que os temas sejam controversos, a presença do judo nos média é globalmente favorável, isto porque não se está a falar de roubos ou de actos ilícitos.

Para o Presidente da FPJ “as questões que se colocam são do foro da gestão federativa em termos de incompatibilidades. O Estado acha que é verdade e nós aceitamos para proteger a modalidade. Mas sabemos que a luta que está em curso fora dos tapetes é contra a lógica do judo que exige que as lutas, a existirem, ocorram nos tapetes e não fora deles”. clarificou Jorge Fernandes a sua atitude de fundo face à sua destituição da função de Presidente que foi recomendada no seguimento da auditoria realizada pelo IPDJ. Sobre a matéria Jorge Fernandes tem uma posição de grande reserva já que no seu entendimento a profissão de treinador de judo fica prejudicada ou desconsiderada nesta situação.

Jorge Fernandes questiona “Se não é possível manter uma atividade de treinador de judo como é que um profissional da modalidade vai poder exercer as funções para que foi eleito? Se da atividade dirigente da Federação não resulta quaisquer remunerações ou compensações salariais, como pode um treinador vir a exercer o cargo de Presidente?

Sinto muito orgulho em ser treinador de judo e não tenho que aceitar esta leitura jurídica que não é consensual. Aceitamos tudo naturalmente mas podemos ter opiniões diferentes sobre o assunto” rematou o Presidente da FPJ que aguarda serenamente o desfecho da próxima Assembleia Geral

Para os atuais dirigentes da modalidade há adquiridos que dificilmente poderão ser questionados e Jorge Fernandes não tem dúvidas que muitos dos que agora se agitam e protestam – e que ainda há pouco tempo o elogiavam – só o fazem porque houve uma inversão de fundo nos últimos seis anos na dinâmica federativa, ou seja, no seu entendimento

“aumentámos quase em 50% os números da demografia do judo nacional, tivemos um bi-campeão mundial, conquistámos um número de medalhas como nunca num período de seis anos, estabilizámos o fluxo financeiro mensal com as associações, conquistámos provas como o Grand Prix de Portugal e o Europeu de Cadetes, o Mundial de Juniores, 3 Taças da Europa e vários estágios e seminários de arbitragem para Portugal. São elementos que demonstram que estamos a cumprir os nossos objetivos enquanto que aqueles que nos criticam apenas prometem que virão a melhorar a situação apesar de no passado não terem conseguido atingir nenhuma destas metas”

Jorge Fernandes destacou alguns pontos da sua argumentação em defesa da atual equipa federativa, confirmando ainda as suas intenções quanto ao futuro da FPJ.

“Tenho todas as justificações para continuar esta dinâmica porque acredito nela e sei que nem todos concordam. Mas eu não sou daqueles que obtêm muitos consensos mas depois não fazem nada. O difícil é tomar decisões e avançar. Se estivesse à espera de ouvir toda a gente nunca mais atingia os objetivos. Esta é a minha maneira de pensar. Foi assim que durante 20 anos, na Associação Distrital de Coimbra, concretizei um plano que deu os seus frutos” adiantou Jorge Fernandes que desta forma confirmou que não se vai retirar de cena e que em função dos resultados da Assembleia Geral agirá da melhor forma para ser coerente com esta perspetiva de continuidade.

Evidências de medalhas conquistadas



O modelo de preparação

O tema da centralização de atividades em Coimbra e a excessiva carga de estágios em Cernache na preparação de atletas, nomeadamente os do projeto olímpico, levou-nos a questionar o nosso interlocutor sobre este ponto crítico. Indagámos sobre uma eventual ponderação e até amadurecimento sobre os argumentos que foram oportunamente apresentados e Jorge Fernandes foi categórico na resposta “Não há centralização das atividades em Coimbra e não teve que haver ajustamento algum ou amadurecimento sobre o modelo instalado porque a evolução atual dos estágios e dos processos de preparação sempre estiveram previstos. A pandemia forçou uma forma de organização dos estágios, que recorde-se contou com condições de exceção criadas pela Câmara de Coimbra, pela Universidade, a ARS e pelos Hospitais, mas agora voltámos ao que já fazíamos antes da pandemia, nada se alterou. Por isso não há nenhuma razão para falarmos de amadurecimento do modelo. Ele já previa outras participações que acabaram por acontecer de forma natural”

Sobre o tema da concentração de atividades em Coimbra o Presidente da FPJ reafirmou a justeza e a justiça da decisão tendo em conta que as provas organizadas exclusivamente em Lisboa afastavam muitas associações, com destaque para o Norte do país (Viana do Castelo, Porto, Viseu e Aveiro).

Sair de Lisboa não é concentrar em Coimbra

“Se fizermos as contas os custos de uma prova em Lisboa dá para três provas em Coimbra. Isto não tem nada a ver com não querer realizar competições na capital. Mas um alojamento em Coimbra custa entre 30 a 40 €, em Lisboa não se consegue nada por menos de 70€. Uma refeição em Coimbra ainda se faz por 8-10 €, em Lisboa, com o aumento do turismo, isto é impossível. Se formos a ver bem os hotéis em Lisboa nem nos querem lá. Querem turistas, não querem desportistas. E há as deslocações, combustíveis e portagens, etc. E importa acrescentar que a maior proximidade para todos, em média, facilita a decisão de participar por parte dos treinadores e dirigentes de clubes. Repito não há centralização em Coimbra, estamos é a gerir melhor os nossos recursos.

E provas noutras localidades já existem e irão continuar. Uma evidência desta nova situação remete para o Norte que aumentou o número de praticantes e agora está muito mais presente nas iniciativas da Federação. Estamos a falar de 6 a 7.000 atletas federados e de alguns atletas que fazem parte das seleções”, adiantou Fernandes com dados e elementos que argumentam a favor da tese na nova centralidade do judo nacional, tradicionalmente ancorado em Lisboa onde o número de praticantes é o mais elevado do país e de onde vêm muitos dos atletas de Alto Rendimento. O lema da atual direção federativa nesta matéria parece ser “Dividir o mal pelas aldeias” o que aparentando ser mais justo acaba por provocar algumas discordâncias sobre o grau de descentralização que é operacionalizado.

A estabilidade das equipas surge como um ponto central do sucesso

Segundo Jorge Fernandes nunca nenhuma equipa diretiva ou técnica permaneceu tanto tempo em funções como aquelas que dirige. E se houvesse dúvidas sobre a qualidade dos elementos envolvidos, as integrações de vários quadros da FPJ nas estruturas da União Europeia de Judo chegariam para clarificar este ponto, segundo ele. Recentemente, recordou, Pedro Soares passou a integrar o Grupo de Treinadores da UEJ com um estatuto de perito e Catarina Rodrigues é uma peça-chave na organização das provas do judo a nível europeu.

“A Ana Hormigo com a direção anterior ficou um ano e picos e depois foi-se embora. Comigo ficou 5 anos e alguns meses, sem nunca ter dito nada sobre o funcionamento e sobre as atividades realizadas. Só recentemente tomou posição pública, mas a nível interno nunca se pronunciou. Antes os atletas iam às provas e aos estágios que a FPJ indicava e ninguém dizia nada, Agora que os treinadores podem dar as suas opiniões e acompanhar os atletas, surgem reclamações . A abertura neste sentido de cooperação com os treinadores veio comigo” insistiu Fernandes que deu nota de alguma ironia sobre as tomadas de posição de terceiros que no passado não se pronunciaram sobre nada mas que agora acham que tudo está mal.

O Grand Prix de Portugal

Vai ser reeditado o Grand Prix de Almada, já no próximo mês de janeiro, uma prova na qual poderão participar 4 atletas lusos por categoria de peso, o dobro do que é autorizado quando o país não é anfitrião.

Odivelas não conseguiu garantir a disponibilidade de pavilhão multiusos por razões ligadas à vacinação das populações relacionada com o COVID-19, Coimbra e Portimão ainda manifestaram interesse mas não conseguiram acompanhar as exigências de apoio que foram colocadas. Almada, mais uma vez, respondeu de forma positiva. Desta forma teremos uma reedição do Grand Prix de Portugal na Margem Sul do Tejo.

Almoço / Gala do Judo com mais de 300 pessoas

Jorge Fernandes interpreta a mobilização em grande escala para o Almoço / Gala do Judo que vai ter lugar no Convento de S. Francisco em Coimbra, já no próximo dia 10, como um sinal significativo de reação daqueles que sentem que é preciso apoiar o projeto de desenvolvimento do judo em curso.

Resumindo as diversas áreas abordadas por Jorge Fernandes podemos adiantar algumas ideias-síntese que resultam das análises do Presidente da Federação de Judo e sobretudo das suas convicções sobre o futuro do judo em Portugal:

  • o balanço de 2022 e de todo o ciclo iniciado há seis anos é positivo em toda a linha;
  • podem ser corrigidas linhas de ação especificas mas o essencial da linha de rumo é para manter;
  • não se coloca a questão da continuidade do projeto, tudo será feito para que possa continuar, isto independentemente das decisões da Assembleia Geral que poderá (ou não) destituirJorge Fernandes;
  • as evidências de bons resultados estão à vista, entre outros, na demografia da modalidade , nos resultados desportivos, na estabilidade das equipas e das relações com as associações distritais, na credibilidade a nível internacional cimentada pelas provas já aprovadas para o calendário de 2023, na capacidade de gerir os recursos que tendem a diminuir, com destaque para os financeiros;

Financiamento do judo

Um derradeiro ponto abordado pela Presidente Jorge Fernandes foi o financiamento às atividades da Federação.

No seu entendimento fez-se mais com menos dinheiro, o que implica critérios de gestão muito apertados.

“Em 2008 (1.761 M€) o financiamento à atividade da federação foi superior ao de 2022.(1.300 M€) Há uma diferença de 400.000 €. Importa, na análise, segundo Jorge Fernandes, ter em conta o tipo de eventos organizados na atualidade que exigem valores muitos elevados”.

Na pesquisa que no JUDO MAGAZINE realizámos sobre esta matéria obtivemos os seguintes daos;

  1. Valores PORDATA 1996 – 2020

Pesquisa Judo Magazine Dez.2022

Valores PORDATA 1996 – 2020

Informação do Comité Olímpico de Portugal

Por outro lado o Comité Olímpico Português, em 2022, financiou a atividade do judo nos seguintes termos:
Durante o corrente ano, foram apoiados, no âmbito do Projeto Olímpico, 11 atletas (6 femininos + 5 masculinos) da modalidade Judo, com os seguintes totais, nas respetivas rúbricas

Bolsa de Atletas (*)142 925,00 €
Bolsa de Treinadores (**)103 300,00 €
Apoio à Preparação (***)268 000,00 €
Total 2022514 225.00 €

(*) Verba transferida diretamente para os Atletas para os apoiar e compensar os encargos acrescidos com o seu regime especial de preparação.

(**) Verba transferida diretamente para os Treinadores para apoiar e compensar os custos inerentes à preparação dos atletas integrados no Projeto Tóquio 2020, por força das especiais exigências individuais da preparação desportiva olímpica relacionadas com a prossecução de objetivos desportivos de exceção previamente estabelecidos. A bolsa é totalmente autónoma e independente das atividades profissionais, não constituindo retribuição ou remuneração de trabalho ou serviços prestados pelo Treinador à Federação ou ao COP.

(***) Verba transferida para a Federação a título de comparticipação nos encargos de preparação e participação competitiva dos atletas, treinadores, equipas multidisciplinares e aquisição de equipamentos para os Atletas que estão integrados nos diferentes níveis definidos (Top Elite, Elite e Apoio à Qualificação) no Projeto Olímpico.

ENTREVISTA E PESQUISA JUDO MAGAZINE | Carlos Ribeiro | Dez 2022 | Editado 8/12 13h05 (Catarina em vez Cristina Rodrigues).

SOBRE O AUTOR | Editor

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