Gala, ministro e futebol
12 de dezembro. 2022
63 anos da FPJ comemorados no Convento S. Francisco em Coimbra
Paredes-meias com um dos polos da Exposição “Primavera Estudantis: da crise de 1962 ao 25 de Abril” que foi inaugurada no passado dia 10 de dezembro no Convento de S. Francisco pelo Ministro da Cultura Adão e Silva, o Almoço / Gala comemorativo dos 63 anos da Federação Portuguesa de Judo decorreu ao longo da tarde de sábado com discursos, diplomas de reconhecimento, novas graduações, música e finalmente futebol no ecrã gigante.
O modelo do ritual anual é conhecido por todos e no essencial quem se desloca ao evento já sabe ao que vem. Os discursos inaugurais, as chamadas ao palco que se repetem, as palmas que sobem e baixam de tom em função da evolução do prato de comida que está à frente, as conversas em pequeno círculo que as mesas redondas proporcionam e claro, uns abraços entre velhos conhecidos e amigos.
Como se costuma dizer, é sempre bom celebrar e rever os amigos dos velhos tempos.
A sala D. Afonso Henriques do Convento esteve repleta e a normalidade aparentou dominar na festa da FPJ que consolidou Coimbra como capital do judo a nível nacional.
Se alguém pensou que o evento se realizou uns dias antes da destituição de um Presidente da Direção de uma federação desportiva, por razões de incumprimento da lei vigente, então ou pensou baixinho ou fez como aquele contrabandista que, apanhado pela guarda fiscal na fronteira, sacudiu o porco que levava às costas com exclamações pouco convincentes “Aie o bicho!” como se o porco tivesse saltado para os ombros contra a vontade do transportador.
O faz-de-conta e as declarações de união e de apoios foram informalmente declaradas mas é difícil compatibilizar os momentos. Há tempos para a justiça e para a lei e há, logicamente, momentos para a valorização, que se entenda fazer, do trabalho realizado.
Se um dos valores apregoados pelo judo, como é a humildade, tem sentido é exatamente quando somos objeto de críticas e de eventuais penalizações. A desvalorização da lei e das regras de jogo instituídas enfraquece o próprio estado de direito e o respeito democrático pela legitimidade do processo de definição das normas em vigor.
Uma exposição que alerta para a democracia
Mesmo ali ao lado da grande sala onde decorria o repasto e a entrega de diplomas e de graduações em consonância com o momento político que se vive na federação abriam as portas da exposição sobre as Revoltas Estudantis que deu início, em março passado, em Lisboa, às comemorações oficiais da revolução de 25 de Abril de 1974.
Como relata a RUC – Rádio Universitária de Coimbra na exposição pode ser apreciada a Taça de Portugal que o ‘Sport Lisboa e Benfica” ganhou à Académica em 22 de junho de 1969, data em que Eusébio marcou o golo “menos patriótico” da carreira, na opinião do diretor da FEUC.
Mário Campos, jogador da Académica que participou na Final da Taça em que os estudantes levaram os protestos a Lisboa ao Jamor, reviveu a adesão da equipa à luta estudantil.
A mostra apresenta cartazes filmes e entrevistas bem como elementos de reprodução dos panfletos que informavam a população do que se estava a passar. A curadoria recolheu, entre outros, espólio de privados, elementos do arquivo da RTP, elementos da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, do arquivo Ephemera de Pacheco Pereira e fotografias da Secção de Fotografia da Associação Académica de Coimbra.
Marrocos meteu água na fervura
Uma vitória de Portugal no embate contra Marrocos nos quartos-de-final do campeonato do Mundo de Futebol do Catar teria sido a cereja no topo do bolo das comemorações do 63º aniversário da FPJ. Mas os marroquinos também acharam que não era tempo de celebrações, que antes da festa há assuntos a tratar e a resolver. Sendo assim a contenção, na fase final, prevaleceu e quase que se poderia ouvir em sintonia com o desporto-rei, “Coimbra é uma lição…”.
Foto de destaque © FPJ