REPORTAGEM – A coragem dos atletas (2)

Uma Telma Monteiro gigante nos terrenos da cidadania ativa

Os cinco atletas e duas deputadas da Comissão

Tem a palavra a nossa campeã!”, foi assim que o Presidente da Comissão Parlamentar Luis Graça abriu o período de audição direta dos atletas presentes – Telma Monteiro, Rodrigo Lopes, Anri Egutidze, Rochele Nunes e Patrícia Sampaio (Bárbara Timo estava num estágio internacional) – depois de Joana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda, ter adiantado os tópicos que presidiam à iniciativa e que seriam a base das interações entre deputados e atletas do projeto olímpico do judo e subscritores da Carta Aberta.

Foram retomadas as principais situações que justificaram a vinda a público dos atletas naquela ocasião e foram pormenorizados vários pontos como a organização dos estágios em Coimbra, o seguro desportivo, as despesas de saúde e intervenções cirúrgicas, a organização incompetente das deslocações dos competidores internacionais, as questões da saúde mental e muitas outras que foram oportunamente referidas pelos atletas como incompatíveis com uma boa gestão do projeto olímpico e com um ambiente de tranquilidade e de investimento coletivo nos objetivos comuns.

Telma foi mais longe

Telma Monteiro não se ficou pelo passado. No fundo atualizou a informação disponível no momento da Carta Aberta e foi categórica ao afirmar que em vez de melhorias, foi o contrário que aconteceu.

Telma desmontou as teorias baseadas na comparação com França, em matéria de estágios, denunciou as situações de represálias a que ficaram sujeitos os atletas que tomaram a palavra e foi clara ao afirmar que existe uma gestão tendenciosa do judo com permeabilidade a pressões particulares que procuram favorecer amigos e familiares.

Um exemplo que chocou os presentes foi a reivindicação do Ex-Presidente da FPJ de ter conseguido um prémio de 300 euros para Rodrigo Lopes, sendo aquela verba de gestão pública e não tendo nada a ver com um acto pessoal do ex-dirigente, mas que levou Jorge Fernandes a acusar o atleta de ingratidão.

Telma considera que algumas situações a têm obrigado a pagar do seu próprio bolso algumas despesas não são justas e adiantou “Agora tenho condições para pagar, mas quando comecei com 14 anos e não tinha um tostão para comprar um fato de judo, uma situação desta levar-me-ia a abandonar. Felizmente não foi o caso”.

A voz dos atletas

Os atletas presentes demonstraram que não têm medo. São corajosos. Não cedem ao clima de ameaças que aliás denunciaram e que leva muitos treinadores e dirigentes a calarem-se e até a apoiar alguém que “não tem perfil para exercer qualquer função que seja no judo nacional” como respondeu Telma à pergunta inicial de Joana Mortágua do BE.

“Alguém que utiliza o carro da Federação Portuguesa de Judo, tendo sido destituído, para vir à audição na Assembleia da República, mostra bem que continua a exercer as funções como se nada tivesse acontecido. Continua a estar presente nas provas, dá ordens aos funcionários, realiza reuniões com o corpo técnico da federação e não abdica de continuar a mandar em tudo” denunciou Telma.

“Alega ter levado milhões para a cidade de Coimbra, mas as condições das infraestruturas de Cernache são fracas e a lógica dos estágios obrigatórios pós-pandemia não tem sentido no plano desportivo” concluiu.

A cidadania ativa e a liberdade de expressão

O tema foi trazido para cima da mesa e surgiu como uma das preocupações de deputados de algumas bancadas. O direito dos atletas a intervirem nas matérias que lhes dizem respeito é inalienável. Nesta, como noutras dimensões do processo que está a decorrer na Federação Portuguesa de Judo, a questão da liberdade e da das práticas democráticas não pode ser secundarizada. E, neste registo os atletas receberam o carinho e o elogio dos deputados.

Telma, Anri, Rodrigo, Rochele, Patrícia contribuíram ontem para a democracia em Portugal. Com a sua voz. Com a sua coragem.

A mãe da Telma

Fernanda Velez, deputada pelo PSD por Setúbal, conheceu a mãe da Telma Monteiro. Quis tirar fotografia de grupo e houve conversa animada no final da audição.

Tendencialmente a liberdade fomenta a alegria e a boa-disposição!

REPORTAGEM – Judo Magazine no parlamento, 14 de março 2023

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