SGS um clube referência na promoção e na dinamização do judo em França
Celso Martins animou com sucesso sessão de boas-práticas
A paixão parece ser o grande motor e a chave para o sucesso de toda a dinâmica desportiva, económica e social que Celso Martins partilhou ontem com um vasto auditório numa sessão online que contou com a organização da experiente Associação de Judo do Distrito de Santarém que organiza regularmente iniciativas de intercâmbio europeu.
Para além dos portugueses do continente, participantes de vários países e regiões como o Brasil, Espanha e Açores tiveram oportunidade de ouvir e de interpelar o treinador de judo que foi eleito o melhor técnico da modalidade em França em 2012. A mensagem do Diretor Técnico do Sainte Geneviève Sports, clube de judo localizado no centro da cidade periférica de Paris, no departamento da Essonne, Sainte-Geneviève-des Bois é relativamente simples: é preciso ter uma enorme paixão pelo judo e por aquilo que se faz e saber procurar os recursos que viabilizam o crescimento sistemático e progressivo do projeto que se deseja implementar.
Por várias vezes na sua apresentação e argumentação Celso Martins, em resposta a perguntas, referiu a expressão prudente e responsável, “passo a passo”, “pouco a pouco”, como se quisesse introduzir uma certa racionalidade na paixão que tanto evocou. Ou seja não se constrói um grande clube de um dia para o outro, aliás como se afirma, na cultura popular, para Roma e Pavia.
Um clube é um microsistema
Da experiência relatada sobre a evolução do clube SGS conclui-se que as diversas componentes presentes na sua dinâmica de desenvolvimento devem estar equilibradas e alimentarem-se umas ás outras. Recordando alguns elementos adiantados pelo orador podemos destacar:
- Promover uma interação permanente e dinâmica com o meio, ou seja com o território no qual o clube se insere, participando nas soluções para os problemas sociais da população local através de respostas de âmbito principalmente desportivo – Celso Martins relatou a importância que a Câmara Municipal local atribuiu ao judo para referenciar na comunidade aspetos estruturantes como a disciplina, as condições de igualdade na participação, a sensibilidade para as idiossincrasias de alguns grupos étnicos ou religiosos e a capacidade de lidar com a inclusão de grupos tendencialmente marginalizados como as pessoas portadoras de deficiências diversas e aqueles com recursos muito limitados para poderem praticar desporto. Vários protocolos estruturam a relação do clube com as instituições locais Com as escolas mas também com as estruturas residenciais para idosos. Exemplo de iniciativa neste âmbito: a semana do judo feminino. Só para jovens mulheres e raparigas muçulmanas que precisam de um quadro inicial de confiança para se irem aproximando da modalidade e se integrarem de forma plena no futuro.
- Assegurar um enquadramento técnico e pedagógico que dê confiança aos pais, aos professores na escola e às instituições locais – Celso Martins adiantou que nas aulas de judo estão sempre presentes dois treinadores. Não deixar ninguém de lado ou sem a atenção devida é um objetivo na condução dos treinos. Se há matéria a corrigir num praticante, a aula prossegue mas um dos treinadores dedica-se pessoalmente a apoiar quem está com dificuldades. O enquadramento pedagógico e humano realiza-se também nas diversas atividades fora do clube como provas e estágios. Estes momentos são muito importantes e precisam de ser bem preparados. Um exemplo desta relação radica na interação com as escolas e na abertura do clube para acolher atividades desportivas que de forma geral se realizam no espaço-escola. Duas ou três vezes por semana as escolas vêm ao clube e esta interação é muito positiva. para alguns professores trata-se de um verdadeiro milagre quando constatam que é possível arrancar com uma aula em total silêncio, no momento da saudação. E os próprios alunos apreciam outras formas de lidar com o que consideram ser a sua “indisciplina natural”.
- Combinar Alto Rendimento e desporto de formação é essencial. Os atletas de nível muito elevado precisam de ser acompanhados de forma personalizada. A relação treinador-atleta é como a de um casal. Uma relação muito estreita que por vezes passa por algumas divergências ou desentendimentos, mas isso é natural. Os treinadores têm que ter consciência que os atletas de Alto rendimento têm os mesmos problemas que o comum das pessoas da geração na qual eles se enquadram. Problemas de desmotivação, dificuldades físicas e psicológicas, pressões de áreas sociais fora do judo. Já em relação aos mais jovens, da formação, é preciso ter noção que a propensão é de rodarem pelas diversas modalidades desportivas disponíveis a nível local. Os pais alimentam muito essa experimentação e o resultado é que geralmente 80% dos inscritos num ano poderão não regressar no ano seguinte. Para fazer face a essa realidade é preciso estimular aquilo que o judo tem de particular que é a partilha entre praticantes, dar e receber, colocá-los em situação de evolução pela ajuda mútua. Para lidar com estes jovens praticantes tem que se ter o gosto pelo rir, pelo brincar, pela relação social apaixonada. Não se pode ser treinador de judo por obrigação, Tem que se ter a paixão.
- Abrir o clube ao mundo. O clube SGS recebe atletas de todos os países e seleções de todo o mundo como o Brasil, o México, a Rússia, o Japão e outros. O Brasil virá preparar o Mundial de Doha muito em breve e depois os próprios Jogos Olímpicos. É muito importante esta partilha e cooperação porque, entre outros aspetos, a influência que tem junto dos mecenas do clube é muito grande. Reforça o prestígio do clube na comunidade local, nacional e internacional.
Resumindo esta abordagem apenas parcial de uma conversa muito serena e muito formativa sobre a animação de um projeto que incorpora praticamente todos os ingredientes de uma prática promissora de “organização, dinamização e gestão de um clube de judo” podemos recuperar as palavras de Celso Martins sobre aquilo que é essencial: PAIXÃO E PACIÊNCIA. Sem paixão não se consegue definir objetivos audazes e capitula-se às primeiras dificuldades e sem paciência não se consegue algo de essencial que é convencer os outros, de forma persistente e continuada, para captar os recursos necessários para que o projeto cresça e melhore dia após dia.
Celso Martins rematou ainda com “O judo é a nossa paixão, a nossa vida” e todos nos reconhecemos nesta afirmação que humanizou ainda de forma mais acentuada um encontro cheio de ensinamentos.
Um vídeo com Celso Martins | Lusopress TV