Boloto Le Gaulois
A medalha de ouro não veio porque à hora da entrega já estava no avião
António Boloto com a Equipa Francesa
Atenção senhores passageiros, última chamada para o voo Zagreb-Porto, embarque imediato na porta 25. Última chamada.
Num dos corredores do aeroporto croata, por sinal recheado de passageiros das mais diversas nacionalidades, ouviu-se a correria de dois portugueses em direção à porta sinalizada pelos altifalantes. Um deles vinha de kimono branco e cinto preto e corria a bom ritmo. O segundo de fato de treino acompanhava o seu colega, ostentando uma T-Shirt verde com o símbolo da FPJ. Enquanto não viram os corredores que conduziam à Porta 25 pelas costas, não descansaram. Correram sem parar e entraram de rompante na zona de embarque. A responsável da companhia, que se encontrava no balcão de controle, foi direta “Foi por um triz. Cinco minutos depois e já não embarcavam. Nomes, cartões de embarque e Cartão de Identificação, por favor”. “António Boloto, respondeu ofegante o primeiro”, “João Santos, adiantou no mesmo tom, o segundo”. A profissional confessou que nunca tinha acolhido um passageiro vestido com um kimono próprio para desportos de combate e reparou na medalha que o mais pequeno dos dois trazia pendurada ao pescoço “Esta é de bronze, foi da minha prova no Campeonato da Europa de Veteranos, individuais, disputada em Podcetrtek. A de ouro, que conquistei há pouco numa prova de Equipas, nem tive tempo de a receber porque corria o risco de perder o avião, se ficasse mais tempo no pavilhão” informou com algum orgulho Boloto que ao mesmo tempo empurrava Santos em direção ao avião.
Zagreb Story
Esta poderia ter sido a história de dois amigos e dois atletas que participaram nos últimos europeus de Veteranos realizados na Eslovénia. Uma situação imaginada mas que poderia ter acontecido nestes termos tendo em conta a informação que António Boloto nos adiantou “No dia seguinte fui convidado pela equipa Francesa, liderada pelo Mestre Kaba, para fazer parte da sua equipa mista a +90kg, inicialmente recusei devido à hora da prova e à marcação do voo de regresso, mas depois… nunca se recusa um desafio de judo e como tal no dia seguinte fui muito bem recebido pela equipa francesa, não eram 5+1 mas sim 6 judocas prontos para a ação e saímos dali vencedores das equipas mistas de M3/M4”.
Na Zagreb Story associámos ao treinador de judo de Viseu e dirigente associativo dos judocas veteranos em Portugal, um outro treinador, do Sport Clube do Porto, João Santos porque a missão de acompanhamento que decidiu realizar na Eslovénia (já que não pode competir por lesão num joelho) foi valorizada por todos e nada melhor que o colocar a correr com o seu amigo Boloto numa situação de grande ansiedade, não fosse o avião descolar e o viseense ficar apeado e isolado.
Preparação foi excelente
Mas sobre a prova propriamente dita António Boloto foi muito objetivo no relato que nos fez nomeadamente sobre a preparação e os resultados “No rescaldo no Campeonato Europeu de Veteranos de Judo, na Eslovénia, não podemos dizer que correu mal ou menos bem. Todos sabemos que as provas de judo tem uma enormidade de variáveis que ninguém controla e penso que neste sentido esta prova correu muito bem. A preparação foi excelente, com treino diários e tendo a oportunidade de treinar em Cernache, pois é sempre uma mais-valia, melhorou em muito a qualidade técnica e competitiva”.
Uma prova que envolve atletas com elevada qualidade
O nosso interlocutor insiste na importância destas provas e no facto de serem competições onde os desafios permanecem a nível muito elevado “Engane-se quem julga que é uma prova fácil e que são todos “velhinhos”. Não. É uma prova exigente com judocas de elevada qualidade e em muitos caso atletas de renome mundial que estiveram ao serviço das suas seleções na devida altura. São pessoas muito competitivas que vêm à procura de novos desafios e desafiam-se contrariando a “velhice” mantendo-se ativos e envolvidos na modalidade”.
Bronze, com o anterior campeão europeu por adversário
“No meu caso, a prova acabou por correr bem vindo apenas a perder na meia final com o atual Campeão Europeu. Na repescagem “saiu” o anterior Campeão Europeu, com o qual já tinha lutado na Grécia na final e tinha perdido. Desta vez a estratégia foi outra e venci trazendo para casa a medalha de bronze. O caminho faz – se caminhando e o grupo tem contribuído para esse sucesso, com um apoio incondicional em todas as situações, antes, durante e no final, pois alguns de nós por vezes ficamos pelo caminho e esse apoio é fundamental para não esmorecer” enalteceu de novo António Boloto o espírito de equipa e de grupo que marca os veteranos que continuam a competir.
“Quanto à medalha de ouro, conquistada por Equipas, com a equipa francesa, não veio porque à hora da entrega já estava no avião. Nuno Carvalho, árbitro presente, penso que me a vai entregar brevemente
A acompanhar o amigo de viagens, João Santos, que por motivo de lesão, infelizmente, não pôde lutar, mas acompanhou e apoiou toda a equipa….
Obrigado a todos os que me apoiam….”
António Boloto com João Santos
Fotos gentilmente cedidas por António Boloto