16/09/2024

Até no Jardim Zoológico fizemos demonstrações

JMBN – Fernando Costa Matos conviveu dias a fio com José Manuel Bastos Nunes

Nos registos de memória das interações pessoais e desportivas com José Manuel Bastos Nunes há uma figura incontornável, por razões históricas, que é Fernando Costa Matos. A nossa imaginação pode levar-nos até ao início dos anos sessenta do século passado e construirmos imagens de um tempo e de um modo que nos poderia levar a classificar esse período de “fase artesanal do judo”. Entenda-se aqui o conceito de artesanato como expressão da realização de obras de grande qualidade para cuja concretização são mobilizados recursos tecnológicos muito escassos ou propositadamente restringidos aos essenciais.

Fernando Costa Matos quando concedeu a Grande Entrevista ao Judo Magazine em Algés

Os pés no teto

“No União Sintrense ele tinha uma sala que era muito pequena. Verdadeiramente pequena ao ponto de determinadas técnicas não poderem ser executadas, isto porque o Uke batia com os pés no teto” adiantou-nos Costa Matos que se recordava de muitas das situações que viveram juntos com o judo como elemento fundamental na via comum.

“O nosso relacionamento vinha do início dos anos sessenta. Vi-o pela primeira vez na véspera da ida dele para o Campeonato do Mundo. Ele veio até ao INEF para estar com Kiyoshi Kobayashi. Foi um dos que participaram naquela prova realizada na capital francesa” recordou o nosso interlocutor que caracterizou a postura técnica e pessoal de José Manuel Bastos Nunes como muito próxima de Kiyoshi Kobayashi. “Era um bom executante e de trato fácil. Participou no INEF num curso de Instrutores de Educação Física e veio a colaborar, mais tarde, no 1º curso de treinadores, tendo integrado o grupo de prelectores que era composto por pessoas como Monge da Silva, Frygies Torok, Professor Pedreira, José Branco e eu próprio” relembrou.

Demonstrações de judo

Uma das atividades que realizavam juntos, com alguma regularidade, eram as demonstrações de judo. Em várias ocasiões, para as quais não houve tempo para treinar e preparar a atividade, surgiram situações inesperadas. Uma delas teve mesmo aspetos caricatos. “Cheguei e mal tive tempo para me equipar. Não havia tempo para combinar a sequência das técnicas e realizámos ataques e contra-ataques. Eu tinha muito mais peso que ele. Numa situação de Tsuri-goshi-Uchi-mata projectei-o para o lado oposto daquele que era esperado e ele quase que tocou o teto do pavilhão com os pés. Fomos muito aplaudidos, mas ele não achou graça nenhuma e mostrou que estava insatisfeito com o voo que tinha realizado” relatou Costa Matos com um raro sentido de humor. “Noutra situação, numa das muitas demonstrações levadas a efeito pelo país fora, que realizávamos em grupo, fiz de Tori no nage-no-kata. Cada vez que nos cruzávamos depois de uma projeção ele fazia uma cara enraivecida. Alguma coisa estava a acontecer. Até que ele me pediu para direcionar as projeções para determinadas zonas do tapete porque debaixo da lona havia buracos em vários pontos. Não havia tapete. Assim tivemos que reajustar a orientação das técnicas para as áreas mais recheadas”.

Jardim Zoológico de Lisboa

No meio das muitas aventuras ou situações peculiares vividas, desde o batizado do Carlos (filho de JMBN), a festa em Sintra com Edmundo Pinto, Pinto Farias, Costa Lopes e com outros do grupo do JCP, houve uma que marcou “Realizámos uma demonstração no Jardim Zoológico de Lisboa. Correu bem. Foi inesquecível” concluiu Fernando Costa Matos que relembrou episódios únicos de uma relação que teve o seu tempo e, como muitas coisas na vida, uma evolução dinâmica e nem sempre aquela que se podia imaginar.

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