16/09/2024

Banzai para todos estes campeões

As jornadas de Zagreb lidas através da pena de Nuno Delgado têm outro sabor. Como dinamizador de projetos europeus, sobretudo no universo do judo infantil e como atleta olímpico e treinador o olhar que projeta adquire sempre uma qualidade digna de registo. Trata-se de um saber e de um poder de análise que incentivam à reflexão e à construção de conhecimento. Zagreb, por Nuno Delgado.

Pela terceira vez Catarina Costa subiu ao pódio num Campeonato da Europa de Judo

por Nuno Delgado

Numa semana de celebração para todos os portugueses, iniciou-se o 75° Campeonato da Europa de Judo em Zagreb, na Croácia, com muitos motivos de entusiasmo para os lusófonos judocas e não judocas! Sim, porque em 2024, os falantes de português dentro do país e pelos quatro cantos do mundo, acompanham com interesse e … devoção, os feitos gloriosos dos judocas da nossa seleção.

No meu caso, foi de certa forma, um come back, depois de um ciclo olímpico de Rio Janeiro, onde liderei esta brilhante equipa, seguido de um ciclo infetado pelo corona e adiado para 2021, Zagreb é o primeiro europeu que acompanho de perto, nesta nova fase em que celebro os meus 40 anos de judo.

Uma equipa eficaz

Estar neste palco europeu constituiu uma oportunidade de, em conjunto com a equipa da União Europeia de Judo que teve recrutados neste evento, os lusos Catarina Rodrigues, Nuno Carvalho, Sergiu Olienic e Carlos Ferreira de ver de fora, mas de perto, o trabalho, engenho e dedicação dos meus colegas, técnicos e atletas! Muito mudou desde 2016 e devo dizer que para melhor.

Nuno Delgado com elementos da equipa lusa com provas dadas a nível internacional na organização de eventos desportivos [Segiu Oleinic, Catarina Rodrigues e Carlos Ferreira] acompanhados por Nuno Carvalho

Temos uma equipa eficaz, que apesar dos recursos reduzidos produz grandes resultados de forma sustentável e regular. É um motivo de orgulho, ver a máquina a funcionar! Se é possível fazer melhor? Claro que sim, mas estamos no limite do fazível, com estes recursos. Com um pouco mais conseguimos, seguramente, muito mais.

Pessoalmente, continuo a acreditar num investimento sustentável num centro de treino nacional à imagem do Atletismo e da Canoagem, modalidades com quem discutirmos os resultados individuais da nossa nação.

1000 crianças e 50 treinadores

Pois bem, cheguei a Zagreb, na véspera do 25 de abril, meio centenário da nossa revolução que, infelizmente, não pude celebrar. Mas, ainda assim, tive o privilégio de liderar a equipa técnica do EJU Kids Camp que aconteceu em paralelo com o programa do Euro, onde mais de 1000 crianças e 50 treinadores de toda a Europa treinaram com empenho e valor(es)!

Tive ainda maior privilégio de ver a Telma Monteiro, que acompanho desde Atenas 2004. São mais de 20 anos, várias gerações, sempre no alto nível! E em 2024 não foi diferente, com expectativas de fazer um teste competitivo após grave lesão, cirurgia e 5 meses de recuperação.

Telma voltou a ser enorme

Telma fez 4 combates de alto nível e classificou-se no quadro de honra de finalistas, mais precisamente em 7° lugar, apenas por segura decisão de não continuar precavendo o objetivo maior.

Nós portugueses, começamos, finalmente, a saber valorizar estes feitos de grande dimensão, que não representam uma medalha ou mesmo um título imediato. Sim, porque este regresso da Telma pode representar um record de seis inéditas participações em Jogos Olímpicos, o que é simplesmente inacreditável! Não é só Cristiano Ronaldo que conquista recordes, a Telma poderá juntar este feito olímpico, às suas 15 medalhas europeias com 6 títulos e ainda, 5 medalhas mundiais! E a Federação Internacional de Judo, bem como a União Europeia de Judo não deixaram em claro este possível feito, com uma cobertura deste momento.

A carreira de Telma Monteiro, UEJ-União Europeia de Judo

Catarina Costa foi atómica

Na verdade, o dia 25 de Abril foi, efetivamente, uma estreia fortíssima da equipa lusa, com outro come back que fez nascer a primeira e única medalha desta seleção. A Catarina Costa, foi atómica, liderou com classe e consistência quase todos os combates, mesmo estando fora da competição há cinco meses. Foi quase perfeito e o bronze por ela conquistado, valeu ouro como ela e o seu treinador João Neto, referiram na análise da performance nos media. Catarina, é neste momento a atleta portuguesa, na minha opinião, com mais regularidade rumo aos Jogos Olímpicos e prova, desta forma, que está no caminho para uma jornada tão boa ou melhor do que o honroso 5° lugar de Tóquio. Mas nem tudo de bom significa pódio, e nós portugueses, estamos a consolidar essa cultura e sabedoria, eu sinto isso nos contactos que temos na rua, no dia-a-dia da nossa vasta comunidade!

Catarina Costa conquistou a medalha de bronze em -48 kg

Três quintos lugares, dão consistência à equipa portuguesa

E assim, a análise do Campeonato da Europa fica muito mais coerente, ou seja, sigam o meu raciocínio, no passado os media, condicionados pela opinião pública, dariam a seguinte notícia; ” Judo português morreu na praia, apenas um bronze e 3 quintos… “.

NÃO, sem deixar de assumir as nossas honrosas responsabilidades, seguramente que a história foi outra! E na atualidade, a notícia pode ser contada, porque o leitor, o telespectador, o digital follower e o fan, não praticante, consegue ter essa consciência, essa cultura, enfim, essa sabedoria humana!

Medalha de bronze, sabe a ouro! Três quintos lugares, dão consistência à equipa portuguesa mais sólida de todas às modalidades olímpicas, que temos atualmente. Esta é a verdadeira mensagem e neste momento pode ser entendida no seu todo!

Respeito e homenagem

O meu respeito profundo à Joana Crisóstomo, Patrícia Sampaio e Rochelle Nunes, pelo que fizeram e que muitas vezes fica na sombra, não esquecendo, os promissores discípulos do treinador nacional Marco Morais que, apesar de não deixarem histórias neste europeu, deram-me bons indicadores, estou a falar de João Fernando, Otari Kvantidze e Tais Pina, ainda Júnior!

Termino como, provavelmente devia ter começado, com uma homenagem sincera à nossa dupla de Campeões, Jorge Fonseca e Pedro Soares, é nas derrotas que se conhecem os campeões! É inegável que a queda de Fonseca, na primeira ronda, com promissor jovem italiano, não é agradável. Mas nesta longa jornada de provas, o Europeu ainda pode ser um campo de teste e evolução, para aquele que é o único, que pode ambicionar fazer o que ainda não foi feito, falo de uma final olímpica de judo, que pode muito bem ser vencida!

Estou certo, que esta dupla, irá se sintonizar ainda mais rumo a esse desígnio, que é a derradeira emancipação de um país que ainda depende muito, desportivamente, do legado do atletismo. Banzai para todos estes campeões e campeã, vemo-nos em Paris!

Fotos UEJ ©

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