Como estamos de qualificações para Paris antes do Mundial de Abu Dhabi?
Se tudo terminasse agora Portugal teria 7 atletas qualificados, 5 diretos e 2 na quota continental
PARIS 2024 – JOGOS OLÍMPICOS
Artigo realizado com o apoio e clarificações de Matin Poiger [UEJ] e de Paulo Esteves [ADJLx]
Desde que Tais Pina baralhou todas as cartas do processo de qualificação olímpica com a sua surpreendente vitória em Astana, no fim-de-semana passado, a questão dos cálculos e do controle das variáveis sobre a lista final dos qualificados para Paris 2024 estão em cima da mesa. Sabemos que as combinações possíveis são muitas e, como se aprende na gestão estratégica, existem variáveis que são incontroláveis.
Precisávamos de ter um panorama, o mais rigoroso possível, sobre o ponto de partida antes que Abu Dhabi arrancasse. O desfecho de cada combate vai ter repercussões nas contas de praticamente todos os participantes que ainda se encontram em zona de risco ou de esperança. Uma coisa é certa, cada atleta vai encarar todo e qualquer combate como uma final. Para os atletas e as atletas portugueses que ainda se encontram nesta situação de fronteira, a esperança é a última a morrer.
Os dados de partida
Relembramos que o período de qualificação teve início em 24 junho 2022 e termina no dia 23 de junho 2024 com a publicação da lista definitiva dos atletas que irão participar na disputa das medalhas das 14 categorias de peso individuais e da prova de equipas mistas. Ao todo serão distribuídas 60 medalhas no judo olímpico.
Serão 372 atletas dos quais 186 masculinos e 186 femininos. O judo surge assim como uma modalidade que valoriza a paridade e a igualdade de género. Este sentido é claramente reforçado pelo facto das equipas que irão disputar as medalhas da última jornada serem mistas.
Assim podemos afirmar que o judo, nesta matéria da composição dos participantes, já ganhou a medalha do espírito olímpico.
Sistema de qualificação
De uma forma geral as qualificações são obtidas por 3 vias: de forma direta, na base do ranking da IJF (17 atletasX14 categorias de peso), na base de quotas atribuídas a cada um dos 5 continentes e na base de algumas prerrogativas como os convites continentais ou a quota da universalidade gerida pela IJF.
Serão 238 atletas por qualificação direta; 100 atletas por via das quotas continentais – a Europa tem 25 atletas nesta quota sendo 13 masculinos e 12 femininos] e existirão 15 lugares para assegurar uma participação, a mais universal possível e 5 outros lugares para convites tendo em conta que alguns continentes não conseguem preencher a sua quota.
As listas e os comentários
Realizámos três listas com a preocupação de perceber como irão funcionar as contas dos atletas portugueses tendo em conta as seguintes posições atuais:
DIRETOS | Atletas e pontos atuais
- diretos
- CATARINA COSTA 4264
- BARBARA TIMO 3332
- PATRÍCIA SAMPAIO 3892
- JORGE FONSECA 3900
- ROCHELE NUNES 4147
- quota continental
- JOÃO FERNANDO 2443
- TAIS PINA 2341 (returned quota)
- zona de qualificação
- TELMA MONTEIRO 2296
- MARIA SIDEROT 2067
- RODRIGO LOPES 1813
Por enquanto, os 5 qualificados por via direta
Quota continental Europa /Masculinos – Femininos
Quota continental Europa / Integrada
Martin Poiger, Secretário-Geral da UEJ, faz contas às qualificações europeias e austríacas
Os comentários de Martin Poiger
O secretário- Geral da União Europeia de Judo, o austríaco Martin Poiger, com a sua disponibilidade habitual procurou fornecer ao Judo Magazine mais alguns elementos para a clarificação da situação. Adiantou-nos apontamentos sobre a Austria que surgem como uma ajuda à forma de raciocinar tendo em conta os diversos impactos que resultam de uma alteração na posição de um atleta, como foi o caso em Astana de Fara (-100 kg).
“Neste momento, Cavelius (GER) é o primeiro homem com QC, e Rishony (ISR) para mulheres da Europa. Importante: cada NF só pode receber 1 CQ. No caso da Áustria, Aaron Fara (-100) perdeu sua posição direta durante Dushanbe, e mudou para CQ –> como resultado Katharina Tanzer (-48) perdeu sua posição em CQ –> por isso a Áustria está apenas com 4 e perdeu também a possibilidade de convite de equipa.
Se Fara voltar para a cota direta, Tanzer poderá entrar novamente no CQ e então poderemos até conseguir uma das 5 vagas por convite da equipa (para NFs com 5 atletas por Equipa Mista”
Paulo Esteves [à direita,] é Presidente da Mesa da AG da Associação Distrital de Judo de Lisboa
Os comentários de Paulo Esteves
Também Paulo Esteves [Associação Distrital de Judo de Lisboa] adiantou-nos alguns comentários muito elucidativos nomeadamente sobre processos de qualificação por via da participação nas Equipas Mistas.
“O WANDTKE da GER e SZEDI da HUN estão apurados para os JO porque recebem lugar de convite por quota de retorno das equipas (África e a Oceania não conseguem nenhum país para as equipas) para completar a equipa do seu país já que são 2 das cinco seleções que o recebem por serem as melhores equipas com 5 apurados (diretos ou por quota continental). Estes atletas podem combater em individuais embora tenham recebido o lugar por via das equipas”.
Nos femininos temos atletas classificadas para os JO através de outros 2 processos: 1 – Por Return quota (Return quota acontece quando as vagas continentais de um continente não são utilizadas) o que é o caso da Oceania. Este continente só está, hoje, a utilizar 2 das suas 5 vagas.
Neste caso temos apuradas, na Europa, 2 atletas que são a Kaleta da POL com 2364 e a Taís com 2341. A terceira atleta é a Natasha Ferreira do Brasil com 2334 pontos.
No meu entender a terceira vaga por return quota está em risco já que vai ocorrer a 1/2 de junho o Open do Taithi e há atletas femininos da Polinésia Francesa, Assim se alguma destas atletas ganhar um combate marca pontos no ranking e ocupa a vaga continental.
Mais uma nota: a utilização da Return quota é feita elencando as atletas não qualificadas tanto direta ou por quota continental aplicando o conceito de 1 atleta por NOC podendo ocorrer que haja NOC que tenham quota continental e return quota como é o caso de Portugal mas não só. Há também um apuramento por convite via equipas que é o caso da atleta da Georgia, a ASKILASHVILI dos 63 kg (707) para completar a equipa da Georgia. Vai poder combater nos individuais.