Cinco prioridades para o próximo mandato
Estamos a regredir, a voltar ao passado, o fosso está a ficar cada vez maior outra vez
ENTREVISTA JM – AO CANDIDATO JORGE FERNANDES [3]
Jorge Fernandes recandidata-se ao cargo de que foi destituído pela Assembleia Geral da FPJ
JUDO MAGAZINE– Que balanço realiza do mandato dos Órgãos Sociais eleitos para o período de 2020-2024 na sua globalidade? Nesse balanço pode realizar uma abordagem mais específica, ao período de “fim-de-mandato” do último ano e meio?
JORGE FERNANDES [JF] Em matéria de balanço o que se justifica é realizar uma avaliação do período de 6 anos que vai de 2017 a 2023 e não apenas deste mandato porque se assim for é fácil concluir que nesse período obtivemos os melhores resultados de sempre em diversos domínios do desenvolvimento do judo, enquanto que nesta última fase, na qual já não tive responsabilidades, está-se nitidamente a regredir. Estamos a voltar ao antes de 2017. Só para dar um exemplo, nas provas internacionais, voltámos ao “foi por pouco”, “é um quinto lugar que quase vale a medalha” e por aí adiante. No meu tempo ganhávamos medalhas.
Mas em relação ao balanço relembro que no período em que fui presidente da federação foram registados resultados únicos, tais como:
- na demografia, aumentámos o número de praticantes de 12000 para 17000;
- conquistámos medalhas e tivemos títulos, nomeadamente de campeão do mundo por duas vezes, como em mais nenhum período do judo nacional. Por exemplo, das 14 medalhas conquistadas em Campeonatos do Mundo, 5 foram neste ciclo liderado por mim. Recordo que em 2019 tivemos um Campeão do Mundo,Jorge Fonseca, mas também uma vice-campeã, Bárbara Timos, um 5º lugar, Joana Ramos e um sétimo conquistado pela Telma Monteiro. Isto apenas para citar alguns exemplos;
- no judo feminino demos um pulo enorme e chegámos a ter uma seleção feminina que foi considerada uma das mais fortes do mundo. Em Tóquio tivemos 6 atletas femininas a competir;
- descentralizámos o judo como nunca tinha sido feito, com estágios, ações de formação, provas fora dos grandes centros, mas sempre com a ideia que cada associação deveria assumir as iniciativas para as quais teria boas condições para a sua realização;
- concretizámos uma gestão do período da pandemia que foi exemplar. Foi valorizada pela Federação Internacional de Judo com carta do Presidente Vizer a todas as federações do mundo. O próprio governo, em Conselho de Ministros destacou o judo na forma como estava a gerir a situação e foi graças ao judo que as outras modalidades também acabaram por ir abrindo;
- criámos novas dinâmicas com as Câmaras Municipais e com os colégios e escolas;
- pagámos a dívida que herdámos do mandato anterior;
- nos Jogos Olímpicos tivemos 8 atletas, sem quota adicional e poderíamos ter levado o Rodrigo Lopes, mas a FIJ considerou que já tínhamos muitos atletas e não acedeu ao nosso pedido. Agora vão seis, estamos a perder terreno.
O que esteve na base destes resultados desportivos foi antes de mais a mudança que introduzimos no modelo de treino da seleção. Passámos a tratar o assunto de forma coletiva e abandonou-se a ideia de cada um treinar sozinho no seu clube e ter, de vez em quando, um treino federativo. A este nível é preciso treinar 2 ou 3 vezes por semana. Não pode é ser no Jamor. Não tem condições para atletas de alto rendimento ou inseridos num projeto olímpico. Mas, pelos vistos agora voltámos ao passado. Voltaram a treinar no Jamor o que significa um grande retrocesso.
Recordo que para o aumento do judo feminino, de 1000 para 5000 atletas, tomámos medidas de isenção do seguro desportivo e apelámos às associações que não cobrassem taxas.
Foram medidas que fomos tomando em equipa. Não houve uma única decisão importante sobre a qual não tivesse ouvido todos os diretores e treinadores. Foram sempre ouvidos e participavam em todas as atividades. Em todas as provas a Direção estava presente com todos os seus membros. Aproveitávamos e reuníamos ou tomávamos decisões. Os membros da direção não eram Papa-Quilómetros, não vinham às provas só para receber as deslocações. Vinham porque tratávamos dos assuntos. e eu sempre entendi que devíamos reunir presencialmente, olhos nos olhos, e nunca cedi para que houvesse reuniões online. Claro que agora desvinculam-se das decisões tomadas.
Mas alguém acredita que pessoas formadas, com experiência, tenham sido obrigadas a apoiar decisões que não queriam?
Um dia eu adiantarei muito mais sobre os traidores e os ingratos. Pessoalmente se estivesse numa direção e discordasse de decisões importantes ao fim de um mês demitia-me. Não ficava mal com a minha consciência.
Importa relembrar que assim que começaram a surgir problemas no judo passei a reunir regularmente com todos os presidentes dos órgãos sociais. E apresentei algumas vezes a intenção de me demitir e ela foi sempre recusada. Foi numa reunião desse tipo que o Sérgio Pina foi indicado para me substituir, foi por isso uma decisão coletiva e não uma iniciativa individual em alternativa à orientação que estava a ser seguida.
Jorge Fernandes aposta nas provas internacionais para aumentar o potencial financeiro e de prestígio da FPJ
JM – Quais são as ideias-força da candidatura que está a liderar. Pode indicar os 3 objetivos principais para o próximo ciclo olímpico e qual será a marca distintiva da candidatura ou seja, qual vai ser o principal foco da gestão do próximo mandato
JF – As prioridades para um próximo mandato, vamos apontar 5, são as seguintes:
- Casa do Judo, retomar um projeto que foi interrompido com a minha saída;
- Melhorar o modelo de organização do judo de alto rendimento;
- Tornar as competições, as provas que se realizam, mais aliciantes;
- Implantar o judo em todo o território nacional;
- Desenvolver projetos locais com o apoio das Câmaras Municipais e a da Federação.
Sobre a Casa do Judo, o projeto já está muito desenvolvido, estando a localização estabelecida para perto do aeroporto. Foram realizadas várias negociações e apresentados projetos de arquitetura. A Câmara Municipal de Loures já se pronunciou favoravelmente.
Melhorar o modelo organizativo do Alto Rendimento significa continuar a trabalhar para melhores soluções que vão ao arrepio do modelo anterior no qual os atletas treinavam sozinhos nos seus clubes e só alguns é iam a estágios internacionais. Neste momento estamos a regressar ao modelo antigo. Muita gente lá fora e só alguns nos estágios mais importantes e cá dentro não há trabalho consistente de seleção. O fosso está a ficar cada vez maior outra vez. Não é por acaso que registámos tão bons resultados nos cadetes e nos juniores. Tivemos mesmo uma Campeã da Europa e uma medalha de bronze no Mundial de Equipas juniores. Mas podemos melhorar e é o que vamos fazer.
Quanto à melhoria na organização das provas é essencial que o judo seja atrativo para os praticantes e para os familiares. Não podemos voltar ao antigamente com provas a demorar 6 ou 7 horas e todos ficarem saturados com a ida a uma prova de judo. Três, máximo quatro horas e têm que existir condições para áreas de competição suficientes para concretizar esse objetivo.
Não se pode repetir o que aconteceu na Anadia. Um local sem quaisquer condições para uma prova de judo como elas devem ser. Nem um café se podia beber na proximidade. Nenhum conforto e apenas três áreas de competição que eternizaram a prova. Tem que haver descentralização, mas não a qualquer preço. É claro, vai-se buscar votos atribuindo provas desta maneira a associações, mas isso é regressar ao passado.
Para implantar o judo a nível nacional tem que haver uma boa ligação às Universidades e aos Institutos Superiores nas regiões. E uma boa ligação com as Câmaras Municipais. E tomar iniciativas como fizemos quando procedemos ao Levantamento de 2000 tapetes a metade do preço, numa primeira fase, numa segunda foram 3000, negociados junto da FIJ e assim criar condições para o surgimento de mais clubes locais.
JM – Pode indicar as características da EQUIPA que estará na base da proposta para Órgãos Sociais e alguns nomes para funções particularmente relevantes no plano técnico e de dinamização das iniciativas da federação?
JF – Quanto à composição dos futuros Órgãos Sociais vou contar com a presença de alguns nomes daqueles que me acompanharam desde sempre neste projeto, inclusive dos que se mantêm nos atuais Órgãos Sociais da FPJ. Não contarei com nenhum dos atuais membros da Direção, por razões que já referi, que também já são muito poucos. Nem com o anterior mandatário nacional, Fausto Carvalho , nem com o anterior Diretor de Campanha, Carlos Ramos, que decidiram romper o ciclo de colaboração entre nós. Por vezes querem que me cale, mas isso eu não faço. Invocaram que eu tinha espalhado a confusão no judo, mas no fundo devem é ter outros objetivos de protagonismo e esquecem que nos conhecemos há mais de 20 anos. Fui dirigente da Associação Distrital de Coimbra e da Federação e sempre nos ouvimos uns aos outros. Conhecemos-nos bem. Mas de repente, eu que era o maior, passei a mau da fita.
Mas o mais importante na Equipa futura será a presença de um Diretor Técnico Nacional. Vamos dar continuidade ao modelo que implementámos com treinadores como o João Neto, que acompanha a programação da Catarina Costa e a atleta também prefere que seja assim. Neste caso como treinador pessoal da atleta e não como treinador de clube.
Vai ser criado um Conselho Consultivo que vai reunir os Presidentes das Associações Distritais e algumas pessoas convidadas. Reunirá duas vezes por ano, uma para apoiar a programação do ano desportivo seguinte e outra para realizar um balanço e introduzir melhorias. Será apenas consultivo mas terá um papel importante nas questões de calendário e de avaliação.
Nas questões financeiras é preciso relembrar que pagámos a dívida que herdámos e que iniciámos uma nova linha de obter receitas. Por isso avançámos com novas provas europeias fora dos grandes centros. O pacote financeiro da FIJ e UEJ para este tipo de iniciativas é o mesmo para França, Itália ou Portugal. Ora nós podemos jogar com os nossos preços que podem ser mais atrativos em cidades fora de Lisboa e Porto. Um hotel numa cidade média fica feliz por receber um grande número de clientes e faz um preço competitivo. Em Lisboa e Porto não precisam e até preferem não ter este tipo de grupos. Por isso avançamos com o Grand Prix que teve o problema das mudanças de localização por causa da pandemia. Assim para obter receitas que viabilizem projetos significativos temos que apostar em iniciativas de monta, senão ficamos sempre numa situação mediana e sem futuro.
ELEIÇÕES PARA OS ÓRGÃOS SOCIAIS DA FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE JUDO – MANDATO 2024-2028
Jorge Manuel de Oliveira Fernandes
Data de nascimento 1960/06/21
Formação técnica e científica
Direito (Licenciatura) | Universidade de Coimbra Faculdade de Direito, Portugal
Ciências do Desporto (Doutoramento)- em curso – Universidade de Coimbra Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física, Portugal
Treino Desportivo (Mestrado)
“Variabilidade das medidas do ventrículo esquerdo em judocas adolescentes” (TESE/DISSERTAÇÃO)
Ciências do Desporto (Licenciatura) | Especialização em Especialização em desportos de combate – Judo
Sensei Monitor de Jujutsu (Outros) | Federação Portuguesa de Jujutsu, Portugal
Curso de Treinador Grau 1 (Outros) | Instituto Português do Desporto e Juventude IP, Portugal
Experiências profissionais, desportivas e sociais
Presidente da Federação Portuguesa de Judo
Presidente da Associação de Judo do Distrito de Coimbra
Presidente e Treinador do Judo Clube de Coimbra.
Presidente da Mesa da Assembleia Geral, Movimento de Solidariedade de Assafarge, Portugal
Assistente Operacional (Assistente Operacional), | Centro Hospitalar de Coimbra, Portugal
Responsável da Secção de Judo – Clube de Futebol União de Coimbra,
Vice-Presidente – Clube de Futebol União de Coimbra, Portugal
Fundador e vogal Comissão de Atividades e Lazer do Centro Hospitalar de Coimbra, Portugal
Diretor Técnico Distrital – Associação Distrital de Judo de Coimbra
Presidente do Conselho Técnico, Associação Distrital de Judo de Coimbra, Portugal
Presidente da Comissão Associativa de Arbitragem, Associação Distrital de Judo de Coimbra, Portugal
Dirigente Associação Distrital de Judo de Coimbra, Portugal
Árbitro de Judo – Elite, Federação Portuguesa de Judo,
Presidente do Conselho Técnico, Associação Distrital de Judo de Coimbra, Portugal
Treinador de Judo, Clube Recreativo do Calhabé, Clube de Futebol União de Coimbra, Associação Cristã da Mocidade – Coimbra, Clube de Futebol União de Coimbra, Portugal
Monitor dos escalões jovens Secção de Judo da Associação Académica de Coimbra, Portugal
Árbitro de Futebol, Fundação INATEL, Portugal.
Prémios
2012 -Treinador do ano, Câmara Municipal de Coimbra, Portugal
2004 – Dirigente do Ano, Federação Portuguesa de Judo, Portugal
2003 – Treinador do ano, Federação Portuguesa de Judo, Portugal
1995 – Cruz Santiago, Clube de Futebol União de Coimbra, Portugal
GALERIA | Fotos no exercício de funções diversas e judo
Entrevista e edição Carlos Valentim Ribeiro [contrariamente aos dois outros candidatos Jorge Fernandes optou por responder às mesmas perguntas formuladas pelo Judo Magazine por telefone. Assim sendo os conteúdos são os adiantados pelo entrevistado, já as formulações e a transcrição são da responsabilidade do Judo Magazine].