Espírito do judo
Nos Bombeiros de Loures houve competição mas acima de tudo festa dos mais jovens, dos familiares e dos clubes
REPORTAGEM JUDO MAGAZINE – Loures
Se perguntarem a cinco ou seis praticantes ou acompanhantes da modalidade “afinal o que é o espírito do judo?” não será surpresa se obtiverem por resposta um número idêntico de propostas de definição ou de ilustração. No fundo cada um sente um pouco à sua maneira esta referência difusa e até enigmática que remete para um campo de abstração e até de especulação filosófica já que o mundo dos espíritos é sempre complexo e de difícil delimitação temática.
O IX Torneio do Ippon Spirit Judo – Associação ocorreu em Loures
Esta constatação do sentido polisémico da formulação não impede que existam publicações notáveis como a revista Esprit du Judo em França e que clubes como o Ippon Spirit Judo em Loures a tenham incorporado na sua própria denominação.
No passado dia 10 de junho realizou-se o IX torneio infantil do clube mencionado e fomos até Loures à procura de elementos específicos desta temática que nos apaixona, mas que nos intriga também. Será que a carga de misticismo que por vezes serve de embalagem unificadora a processos de construção social exigentes, difusos e até controversos servem o seu próprio desenvolvimento?
Micael e a mãe, Telma, que contaram com o apoio do Rui, um pai de uma jovem judoca facilitador de aprendizagens.
As lágrimas discretas do Micael
Telma estava de joelhos e abraçava-o com força e carinho, colocando-se ao seu nível para de vez em quando pedir-lhe para que a olhasse de frente e que acompanhasse as palavras meigas que lhe dirigia. Dos olhos de Micael corriam lentamente lágrimas muito contidas e a segurança do pescoço da mãe dava-lhe o recanto necessário para exprimir as suas emoções sem preocupações com os olhares de quem passava.
Até que Rui, um pai dedicado ao acompanhamento da sua filha também judoca e praticante de râguebi na escola, intrometeu-se de forma delicada na situação e, descendo ao nível de mãe e filho, colocando-se de cócoras adiantou para o Micael ” esta é apenas uma das muitas situações que vais conhecer. Dentro de pouco tempo serás tu que irás vencer e vais ficar feliz por isso. Mas não te esqueças que vais regressar a esta sensação de derrota porque ninguém está isento disso mesmo. Olha a Telma Monteiro. Quantas vezes é que achas que ela também já viveu esta situação? E ela é das melhores do mundo. Ganha muitas vezes mas também perde algumas”.
Micael já tinha alterado o seu estado de descontrolo emocional e ouvia com atenção. Um grande sorriso acabou por lhe vir ao rosto e a mãe deu~lhe um beijo como que a dizer “então, assunto encerrado. Até uma próxima experiência, vamos levantar-nos e seguir em frente”
Olhava para os protagonistas do pequeno drama sem consequências de maior, afinal perder e ganhar fazem parte do jogo competitivo, quando me surgiu espontaneamente a interrogação”será que é isto o espírito do judo?”. Rui que se levantara pouco antes confessou “não penso sequer em tirar a minha filha do judo. Aqui aprendem lições que são válidas para todas as circunstâncias”. E foi então que lhe perguntei “mas no râguebi não é exatamente a mesma coisa?” e Rui com um sorriso nos olhos retorquiu “Sim, é verdade, mas aqui a relação entre o individual e o coletivo é bem diferente. A responsabilidade de cada um naquilo que lhe acontece é bem superior”. E despedimo-nos enquanto que Telma e Micael subiam as escadarias, de braço dado, para ser tornarem, apenas e só o público das bancadas.
Um torneio repleto de vitalidade
Organização
Participação
Participaram 16 clubes ou colégios e cerca de 300 jovens judocas
- União Mucifalense
- Judo Clube de Portugal
- Academia de Judo da Amadora
- Judo Clube de Odivelas
- Clube Atlético da Alta.de Lisboa
- Lisboa Ginásio Clube
- Academia de Judo Nuno Lopes/Colégio de St. André
- Judo Cheleiros
- Externato da Luz
- Salesianos
- Colégio Manuel Bernardes
- Grupo Recreativo Goncalvinhense
- Clube de Judo de Torres Novas
- Clube de Judo do Oeste
- Colegio Integrado de Monte Maior
- Externato Pim.Pam Pum
Apoio dos treinadores
Sandra Saiote, um balanço positivo
“Não ocorreram lesões ou acidentes e as crianças divertiram-se. O feedback deles e dos treinadores foi positivo.
Ocorreram falhas que não quero repetir e, no dia seguinte, mais descansada, identifiquei -as claramente.
De resto, foi a edição mais “populosa” de sempre e foi também graças a todos os clubes que, nos momento críticos, foi possível gerir constrangimentos.
Há sempre mais a melhorar!”
Combates e entrega de medalhas no pavilhão dos Bombeiros Voluntários de Loures
GALERIA – Jovens irreverentes de Cheleiros
NO FINAL, O QUE CONTA É O ABRAÇO COLETIVO
FOTOS © Carlos V. Ribeiro – Judo MAGAZINE