Na catedral do judo feminino

PARIS 2024 – Pequenas Histórias do judo olímpico [5]

11/08/2024

Judo Magazine no Red Star Club de Champigny

Passámos a manhã na Arena do Champ de Mars. As eliminatórias dos –63 kg e –81 kg não tinham corrido bem para Portugal, Bárbara Timo e João Fernando tinham sido afastados na primeira ronda. Por sua vez Clarisse Agbegnenou vencera a kosovar Fazliu nos quartos-de-final e tinha-se qualificado para a meia-final.

Metemos mochila às costas e arrancámos para Champigny-sur-Marne. No Red Star Club de Champigny uma Fun Zone tinha sido organizada para juntar dirigentes, treinadores, atletas, amigos e familiares com o objetivo de acompanhar em direto os desempenhos dos competidores do clube nos tatamis olímpicos.

Quando entrámos no espaço com cadeiras organizadas em anfiteatro em torno do grande ecrã rapidamente percebemos que Clarisse, ali era rainha. Quando o combate da meia-final com a eslovena Andreja Leski começou, a concentração era total. Algumas bandeiras tricolores agitavam-se e o nome de Clarisse era repetido em ritmo de claque até à exaustão.

Quando a atleta dos Balcãs pontuou wazari e afastou Clarisse da final dos –63 kg a desilusão foi enorme. A pergunta que todos os presentes colocavam era simples: o que terá acontecido à Clarisse para que ela não tivesse antecipado o contra-ataque de Leski? A verdade é que na sala todos conheciam as regras de arbitragem e as táticas dos competidores. Os comentários e as análises surgiam em catadupa. Mas por pouco tempo. Rapidamente o foco passou a ser a conquista da medalha de bronze desta vez contra a austríaca Pioversana.

Quando Clarisse projetou a sua adversária e resolveu o assunto num abrir e fechar de olhos a festa instalou-se no Red Star. Uma festa que deu direito a brindes e a uma partilha saudável sobre a competição no judo.

Por fim Eric Bour acompanhado por um grupo de atletas locais reafirmou o perfil do Red Star Club de Champigny como um clube que aposta no judo feminino como nenhum outro. São muitos troféus nacionais e internacionais conquistados com atletas de exceção. Não é por acaso que Clarisse Abgegnenou é rainha num clube que para além do mais é persistente e coerente nas estratégias do judo inclusivo, como nos informou Gael um dos jovens treinadores do judo adaptado.

Clarisse simboliza no mundo do desporto a atleta-mãe que afirma a sua condição de mulher no desporto sem prescindir da maternidade. Uma mensagem de grande valor humano que o judo transporta, graças a ela, em todos os quadrantes da sociedade, quer francesa quer europeia e internacional.