Os Jogos Olímpicos e depois?
Há sede de reflexão coletiva e de debate na comunidade do judo
Ainda há pouco terminaram, mas já existe uma vontade expressa em muitos setores do judo nacional de realizar uma reflexão coletiva e um debate aprofundado sobre o processo, os resultados e o impacto [PRI]dos Jogos Olímpicos Paris 2024.
As quatro medalhas do judo nos Jogos Olímpicos
Nos últimos dias têm sido partilhadas várias opiniões sobre temas muito pertinentes cuja abordagem em bases informais não deixa de revelar o grande interesse na realização de um balanço global dos Jogos de Paris contextualizando a avaliação num quadro mais amplo que abarque domínios como o político, a gestão, a técnica, a organização e o desempenho específico dos atletas, treinadores, técnicos e dirigentes presentes na capital francesa.
Para realizar o balanço e a avaliação será útil distinguir o processo [as orientações, os investimentos, a preparação, os protagonistas, o planeamento realizado e as metas traçadas na sua relação com os objetivos], os resultados [as metas alcançadas e os meios utilizados para as atingir] e o impacto cuja medição só será possível dentro de alguns meses [que procurará estabelecer o potencial de mudança construído na atividade realizada ao longo do processo e na ação desenvolvida para alcançar os objetivos propostos].
Os temas do processo
Os temas, numa base aleatória e sem hierarquia entre eles, parecem desde já ser os seguintes no que diz respeito ao processo:
- As políticas públicas de apoio ao desporto: o que foi feito para melhorar a base da pirâmide e ampliar a prática desportiva no país, favorecendo o surgimento de novos talentos e de atletas no Alto Rendimento, no plano quantitativo e qualitativo?
- Nesta matéria das políticas públicas e das orientações dos protagonistas privados para que cresça significativamente a prática desportiva na população portuguesa, que evolução terá sido registada no desporto escolar e no apoio aos clubes a nível local, regional e nacional?
- Qual tem sido a evolução no apoio financeiro e técnico às diversas federações que coordenam as atividades das modalidades?
- Que importância tem a ação e o investimento das autarquias locais na evolução do desporto no país e de forma mais específica no apoio a novos talentos e a atletas de Alto Rendimento?
- Quais foram os investimentos significativos que foram realizados no desporto no último ciclo olímpico e quais são as grandes carências de equipamentos e de outras vertentes do desenvolvimento desportivo que será urgente superar?
- Quais foram as verbas investidas e utilizadas no programa de preparação olímpica e que reclamações terão surgido face a eventuais insuficiências?
- Que balanço pode ser realizado dos modelos de preparação que foram utilizados nas diversas modalidades e em particular no judo?
- Que balanço pode ser realizado das iniciativas em torno das UAARE e como se prepararam atletas-estudantes do programa olímpico?
- Que iniciativas de articulação entre as diversas modalidades desportivas foram tomadas para favorecer a disseminação científica e técnica entre selecionadores, treinadores e técnicos envolvidos no projeto olímpico?
Os resultados
Quanto aos resultados, os parâmetros são muito diversos. Mas podem ser mobilizados os indicadores de realização face ao contrato-programa estabelecido entre o COP-Comité Olímpico de Portugal e o governo e por sua vez as metas traçadas [informalmente] por cada federação e cada atleta.
Como é sabido nesta matéria é estabelecida uma relação direta entre os atletas e o COP. Os atletas representam o seu país, não deixando de contar com o apoio ativo das federações. Os treinadores são, eles também apoiados pelo COP para a missão Jogos Olímpicos.
- Como se avaliam os resultados de uma participação olímpica?
- Que valorização pode ser dada às medalhas conquistadas relativizando a sua quantidade e qualidade com os recursos disponibilizados?
- Que contributo deu o judo à realização das metas do COP para estes JO?
- Se admitirmos uma reflexão no campo das “expetativas justificadas” que avaliação podemos realizar da performance de cada atleta em Paris 2024?
- Que lições podem ser tiradas da participação 2024?
O impacto previsível
No campo do impacto previsível, poderão ser estruturados alguns indicadores que permitam responder, no futuro a questões como?
- Mudanças nos modelos de preparação olímpica;
- Contributo dos bons resultados – com destaque para as medalhas – para impulsionar a prática da modalidade nos territórios;
- Aprendizagens no plano desportivo, técnico, comportamental e social por parte dos atletas e do seu enquadramento técnico replicáveis em eventos desportivos de nível muito elevado;
- Mudanças nos processos de cooperação científica e técnica favorecendo abordagens colaborativas e partilhadas do conhecimento.
O Centro de Treinos para o Alto Rendimento
Por fim, no que diz respeito especificamente ao judo, os Jogos Olímpicos vieram relançar uma questão crítica que a comunidade do judo reclama de há vários anos a esta parte que se prende com a urgência de um Centro de Treinos para o Alto Rendimento.
Henrique Nunes manifestou a sua elevada expetativa na resolução desta questão atendendo à conquista da quarta medalha de bronze pelo judo.
Carolina Costa reforçou publicamente a importância deste equipamento que é desejado há anos.
Nuno Lopes defende um Centro que seja utilizado pelos desportos de combate e artes marciais.
Pedro Moura Pinheiro pronuncia-se no sentido de uma gestão dos investimentos a serem realizados para este projeto, pensando em instalações existentes e na mobilização de fundos europeus para o efeito.
Tudo indica que um bom debate sobre o modelo de Centro de Treinos para o Alto Rendimento seria particularmente benéfico e útil.