EDITORIAL – Viver a sul
Dar vida à vida em toda a circunstância
Carlos V. Ribeiro
Confesso que a onda a que estamos a assistir de valorização do esforço e da dedicação exclusiva dos atletas de Alto Rendimento à causa da conquista de medalhas olímpicas incomoda-me no plano da forma – uma agressividade despropositada contra os “soit-disant” menos dedicados ou, em última análise, os preguiçosos – e revolta-me no plano filosófico, por não aceitar facilmente que o sentido de vida de um ser humano se possa limitar à procura da glória e alcançar um lugar no rés-do-chão do Olimpo.
Os gregos utilizaram “a glória dos vencedores” para firmar politicamente as Cidades-Estados [Atenas, Esparta, Troia, Creta, Tebas …outras] como dominadoras. Com estas vitórias exerciam influência e domínio sem ter que fazer a guerra [que era dispendiosa] e usavam os “campeões” em jornadas de propaganda pelas regiões e territórios em banquetes e honrarias.
O próprio atleta-vencedor tornava-se um mensageiro, um embaixador de causas que também passavam a ser as deles.
Agrada-me o lado dionisiano desta abordagem que relaciona glória com festa e até com mensagem, com participação nas causas públicas. Contraria o meu sentido gregário a outra abordagem que nos remete para o universo dos monges, daqueles que dedicam a vida a causas que exigem o apagamento da vida do próprio.
Assim, a organização, preparação e celebração dos Jogos Olímpicos deveria estar mais do lado dos gregos e menos dos luteranos para não prescindirmos de dar vida à vida, nós que vivemos a sul.