Temos que saber trabalhar uns com os outros
Guy Delvingt orienta estágio da AAC com um enfoque particular no judo de base
ENTREVISTA | Guy Delvingt
Para todos os efeitos o Estágio Internacional da Associação Académica de Coimbra surge como uma espécie de tiro de partida para o relançamento da época desportiva do judo nacional, passado mais um período de férias escolares. O calendário anual da FPJ não está estruturado pela lógica da programação que prevalece no Ministério da Educação e assim o mês de setembro surge sempre marcado pela ambiguidade da nova época desportiva que afinal só o é parcialmente.
O Pavilhão Municipal Multiusos Mário Mexia acolhe a 35ª edição do Estágio Internacional da AAC que decorre durante uma semana. As atividades são principalmente orientadas por Guy Delvingt um prestigiado treinador francês com quem conversámos sobre a sua presença em Coimbra.
Guy Delvingt orienta o Estágio Internacional AAC 2024
Um estágio com prestígio
“É para mim uma honra ter sido convidado para orientar este estágio que tem um grande prestígio e uma história muito marcante a nível europeu. Treinadores de renome mundial já passaram por Coimbra e eu vim com muito prazer depois do Celso Martins ter estabelecido as pontes entre os organizadores e eu próprio” foi assim que Guy Delvingt esclareceu a sua ligação a este estágio que concretiza a sua 35ª edição este ano.
“Fui treinador das equipas de França durante 25 anos e nessa circunstância conheci muitos atletas portugueses, recordo-me dos estágios que organizávamos e que eram participados por delegações de Portugal” começou por reagir o judoca olímpico de Los Angeles [1984] à nossa pergunta sobre o conhecimento que tem sobre o judo nacional.
“Fui acompanhando ao longo destes anos os atletas portugueses que apresentam um nível internacional muito interessante e não é por acaso que existem campeões do mundo. Observei os desempenhos da família Monteiro, de atletas olímpicos diversos e hoje é significativo que Catarina Costa, que participou nos recentes Jogos de Paris, também esteja presente no estágio” comentou de forma sumária as suas interações com atletas do judo português.
Judo de base
Quisemos saber um pouco mais sobre a orientação que Guy Delvingt está a imprimir no estágio de Coimbra e o nosso interlocutor foi muito claro nas linhas que apresentou “Estou muito ancorado no judo de base. Estão a participar judocas com uma grande diversidade de níveis. Temos jovens cintos amarelos e atletas olímpicos. O que pretendo é que todos me compreendam. Para o efeito promovo muito trabalho de base. Apresento as técnicas e de seguida cada um procura, no seu nível específico, aplicar na ação sobretudo através de randoris. Por vezes nestes estágios os mais jovens competidores gostam de mostrar o seu judo, e compreende-se que assim seja, mas eu insisto nos aspetos técnicos na expetativa que o judo de todos saia reforçado” começou por clarificar a abordagem geral que realiza.
“Também parto do que fazia quando era competidor e procuro transmitir esses conhecimentos. Os exercícios que são realizados procuram ser acessíveis aos mais jovens e menos experientes, mas são também úteis e atingem outros objetivos quando são dirigidos aos treinadores e a outros praticantes de nível elevado” adiantou-nos o treinador francês que cuida do equilíbrio necessário que este tipo de estágios requer.
A necessidade de estruturas regionais
Aproveitámos para trocar impressões com Guy Delvingt sobre os modelos de preparação dos atletas jovens, juvenis e cadetes, procurando que a progressão se faça a partir de uma grande diversidade de experiências competitivas e evitando lógicas excessivamente seletivas ou já marcadas por um espírito de elite.
“Vocês não têm estruturas descentralizadas para assegurar um trabalho continuado a esse nível. Nós em França temos estruturas regionais que procuram dar resposta aos diversos percursos e necessariamente ter em conta a relação com a escola e a universidade. Os Centros de Treino Regionais são um ponto de partida que permitem que os melhores, oportunamente, possam aceder a outro tipo de enquadramento como é o caso do ISEP. Sem estruturas regionais a via alternativa parece-me ser a cooperação entre os clubes que precisam de se aproximar uns dos outros. Por exemplo aqui em Coimbra, neste estágio, há treinadores que participam com os seus alunos e que procurarão, numa fase posterior, partilhar as aprendizagens. Temos que saber trabalhar uns com os outros” adiantou-nos o experiente 8º DAN que continua a realizar um trabalho de apoio ao desenvolvimento do judo gaulês.
Estágio decorre até sexta-feira dia 30 de setembro
Regressar satisfeito
“Vou regressar a França com uma grande satisfação. Amigos meus como o Vial e o Marc Alexandre já me tinham falado do estágio de Coimbra, agora sei como é e não me vou esquecer da forma como estou a ser recebido.”
Assim nos despedimos de Guy Delvingt, uma referência do judo a nível mundial, que faz parte do lote de campeões franceses da geração que colocou o judo no mapa dos desportos populares em França. Registámos como valoriza as abordagens pedagógicas sustentadas no desenvolvimento da modalidade em toda e qualquer parte.