20/03/2025

As lições de Portimão 

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O potencial de uma prova europeia no Algarve existe, mas carece de confirmação 

REPORTAGEM NO ALGARVE – Carlos V. Ribeiro – O contexto [1]

Prova decorreu no Portimão Arena

A Taça Europeia de Seniores de Portimão – também Taça Internacional Kiyoshi Kobayashi -, realizada nos passados dias 5 e 6 de outubro no Portimão Arena, surgiu no calendário nacional como uma surpresa já que a prova que teve sede em Coimbra em 2022 e em Vila Nova de Gaia em 2023 foi parar ao Algarve numa opção de mais uma operação de descentralização pouco compatível com os critérios de afirmação de torneios de judo, de nível elevado, no plano internacional.  

Tudo indica que a nível europeu a notoriedade conquista-se pela aposta persistente em determinadas localizações que surgem aos olhos dos potenciais participantes [países de toda a Europa] como provas “fortes”, com garantias de disputa competitiva elevada e de uma boa organização. Ou seja, tem que valer a pena deslocar-se a uma determinada Taça Europeia por ela representar uma mais-valia na preparação e na gestão dos percursos dos atletas do alto rendimento ou de nível similar.

Quando em 2023 surgiu Gaia, como uma alternativa a Coimbra, todos perceberam que se tratava de retirar da Cidade do Mondego, uma área de influência do ex-Presidente Jorge Fernandes que é o atual líder da associação distrital conimbricense, uma competição importante e ao mesmo tempo compensar clubes e associações do Norte do país que têm reclamado um tratamento privilegiado atendendo aos apoios incondicionais que têm dado à gestão transitória de Pina na Federação Portuguesa de Judo. 

Mas Gaia, com a sua localização intermédia a norte não parecia má aposta. Antes pelo contrário. O Norte poder contar com uma prova internacional de nível elevado no seu calendário desportivo seria até justo e equilibrado, sabendo-se que o Grand Prix se manterá, até prova do contrário, em Odivelas. Não tanto pela demografia do judo ou pelo número de competidores de nível muito elevado na região, mas antes por razões políticas e logísticas atendendo ao facto da Grande Região do Porto ser o segundo maior polo urbano do país. 

Esta decisão de levar para Portimão a Taça Europeia de Seniores surge assim associada a uma estratégia de dispersão, com resultados muito duvidosos em termos de marketing territorial. Mas, tudo o indica, não foram só aspetos relacionados com uma gestão desequilibrada e pouco lúcida que estiveram na base da aposta portimonense. Está hoje claro que a Direção da FPJ ao organizar uma prova num determinando território sem contactar com a sua associada, a Associação Distrital de Judo do Algarve, quis levar a efeito uma operação de “Cavalo de Troia” ao pretender conquistar clubes do distrito para o seu lado procurando fazer passar a mensagem que se preocupa com o judo no Algarve e que a associação distrital seria dispensável. Isto claro em retaliação face a críticas que a ADJA formula regularmente, no seu pleno direito e com toda a legitimidade. 

Portimão, em que consistiu exatamente?

Em termos de participação foi de facto um fracasso. Dezanove países e 124 atletas dos quais 53 portugueses, tratou-se de uma prova sem qualquer interesse competitivo. Categorias de peso sem atletas ou com uma ou duas participantes, um pódio com 4 bandeiras nacionais portuguesas, atletas internacionais com o prestígio de Catarina Costa e Raquel Brito a competir com uma francesa, uma italiana e uma alemã, a par de mais 2 portuguesas. Enfim, foi sobretudo importante para os atletas mais jovens, a grande maioria dos 53 lusos, viverem uma nova experiência num cenário de grande impacto competitivo. 

Mas Portimão foi ainda matéria mais específica que importa sinalizar: 

Judo Clube de Portimão

1º Uma demonstração de grande capacidade organizativa, de grande coesão e de elevada capacidade resposta que o Judo Clube de Portimão revelou de forma inequívoca neste evento. Pondo de lado todos os fatores condicionantes na organização desta prova há uma matéria que ficou clara o clube de judo local provou que existem recursos humanos qualificados e suficientes para organizar com sucesso uma prova com um elevado nível de exigência. A Taça da Europa foi organizada pela UEJ e pela FPJ, mas a retaguarda foi assegurada pelo clube de Portimão, quer na logística quer na interlocução com as instituições do território; 

Associação Distrital

2º Um afastamento inaceitável da Associação de Judo do Distrito do Algarve que deveria merecer o repúdio de todos os Presidentes das Associações Distritais do país. A defesa de interesses particulares leva a que os princípios sejam feridos de morte neste tipo de situação, sem qualquer reação de quem poderá no futuro, se discordar ou divergir dos atuais dirigentes federativos, ser tratado da mesma maneira. O lema em vigor “só apoiamos quem nos apoia” está aqui em plena execução. Portimão é assim a prova feita da instalação de um regime autocrático na Federação Portuguesa de Judo que decide agir contra um associado, impondo a sua lei contra as regras de relacionamento estabelecidas pela própria via hierárquica do corpo federativo; 

Kiyoshi Kobayashi

3º Um apagamento de Kiyoshi Kobayashi em favor dos imperativos da União Europeia de Judo que se torna intolerável. A Taça Internacional Kiyoshi Kobayashi parece ter morrido nesta sua fusão com a Taça Europeia de Seniores. Nem um sinal da sua existência no local da prova. Não se vê qualquer iniciativa paralela, ou complementar à competição no tapete como um colóquio, a passagem de filme, o debate em torno de um livro que afirme claramente que Kiyoshi Kobayashi nunca será esquecido. Afirma-se que a Taça KK está associada a um evento europeu, mas ela não aparece em nenhuma circunstância. É de temer pelo seu futuro se esta lógica se mantiver; 

Potencial e futuro

4º O potencial de Portimão para acolher futuras provas internacionais precisa de ser confirmado em circunstâncias mais favoráveis. O teste de 2024 não terá sido suficientemente abrangente para que se assuma categoricamente uma resposta favorável. O fator positivo mais forte está associado à capacidade organizativa do clube local mas o fator negativo mais evidente está ligado à fraca imagem deixada pela primeira experiência. Ficará sempre a dúvida para quem tiver que decidir sobre uma participação futura, se vai ou não ser repetida a reduzida presença de países e atletas que eventualmente, não terá sido principalmente causada pelo rescaldo dos Jogos Olímpicos já que torneios similares não estão a ter essa dificuldade. 

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