18/05/2025

O judo de Portimão

raquel

Atletas mais cotados da seleção já deram um ar da sua graça

 REPORTAGEM NO ALGARVE – Carlos V. Ribeiro [2]

A interrogação principal incide sobre a avaliação de impacto de uma prova que veio agravar a dívida da FPJ e complicar os compromissos financeiros com os organismos internacionais sem resultados significativos à primeira vista. 

Muitos dos atores da vertente competitiva da modalidade, principalmente os treinadores, continuam à espera de balanços das atividades que são realizadas ao longo do ano desportivo [Torneios, Opens, Grands  Slams, Grands Prix, Masters, Campeonatos internacionais dos diversos escalões, Training Camps] e consequentemente alimentam a expetativa de ver os responsáveis técnicos nacionais sistematizarem as experiências e retirarem lições coletivas e individuais que são preciosas e até indispensáveis para a progressão dos atletas.  

Mas não há um Relatório partilhado e debatido entre os treinadores nacionais e os treinadores de clubes. Nem sequer uma avaliação genérica das provas mais relevantes, como aliás terá sido o caso de Portimão.

Valeu a pena o investimento realizado pela federação, pelas associações distritais, pelos clubes, pelos treinadores e pelos atletas? Quais foram os resultados obtidos? O que pode ser melhorado? 

Numa fórmula simplista pode sempre ser adiantada a conclusão, senso-comum, que vale sempre a pena. Trata-se de uma abordagem popularucha ao tema que carece de racionalidade sobretudo quando os recursos são escassos e limitados com a agravante de se encontrarem sob pressão devida a uma gestão desequilibrada da direção Sérgio Pina nos últimos tempos, dando aliás seguimento à fase anterior na acumulação de responsabilidades para com terceiros [com destaque para a FIJ] atingindo um valor superior a 2 milhões de euros. 

Independentemente do nível geral da Taça Europeia de Seniores de Portimão, em termos técnicos e competitivos, foi possível observar que vários atletas do judo nacional amadureceram em alguns domínios do desempenho e, em alguns casos,  ao invés da tendência mais geral de um judo excessivamente defensivo ou cauteloso, assumiram uma postura afirmativa e utilizaram uma elevada diversidade de recursos para atingir os seus objetivos. 

Como sabemos o grande desafio atual é alterar, nem que seja progressivamente, um judo baseado em ataques a partir de duas ou três expressões atacantes – yoko-otoshi, tomoe-nage, seoi-otoshi, kata-goruma, evitando o atacante, a todo o custo, qualquer contra-ataque e desta forma praticar o tal judo do “atira-te para o chão e puxa que talvez ele ou ela caia”. Nestas estratégias os tão desejados “shidos” vão aparecendo e a hipótese de vitória reforça-se e intensifica-se.

Sem judo é verdade, mas isso já deixou de ser importante para muitos. 

Bernardo Tralhão Fernandes, Raquel Brito, Rodrigo Lopes, Joana Crisóstomo e Beatriz Moreira venceram as respetivas categorias de peso, 5 das 13 disputadas em Portimão, deixando em casos muito específicos bons sinais de regresso à competição. 

Bernardo Tralhão Fernandes continua com uma dinâmica de combate que confunde os seus adversários [os franceses chamam, de forma carinhosa, a esta atuação um judo “chiffonier”] e prossegue o objetivo bem compreensível de os trazer para o seu terreno privilegiado, o ne-waza. Pareceu mais sólido nas suas incursões atacantes. 

Raquel Brito, agora a competir em –52 kg, venceu Catarina Costa na meia-final a que acedeu vencendo apenas o seu primeiro combate contra a jovem italiana Rocco e mais uma vez fez uso das suas competências, já muito apuradas, no trabalho no chão. Imobilizou Catarina Costa e em pé soube sempre antecipar as iniciativas da atleta olímpica da Associação Académica de Coimbra. Na final venceu o combate contra Iara Guedes, uma jovem júnior de 18 anos que está a aparecer nesta categoria de peso agora mais competitiva com a presença da atleta do Sport Algés e Dafundo. 

Rodrigo Lopes surgiu na categoria de peso com um estatuto de favorito, mas teve que se empenhar a fundo e não cometer erros até chegar á final contra Miguel Gago. Este último vindo de uma reviravolta surpreendente depois de ter sido projetado nos primeiros segundos num combate anterior contra Chrystian Jesus, com o anúncio de um ippon que acabou por ser transformado num wazari, acabou por dar a volta e marcar progressivamente dois wazaris que lhe deram acesso à final. Rodrigo Lopes impôs-se com alguma superioridade e este terá sido um dos melhores combates da prova. 

Joana Crisóstomo surpreendeu pela sua sistemática postura ofensiva e vimo-la, a par do makikomi, a recorrer ao Uchi-Mata  e a tentativas de ne-waza consistentes. Nota-se aqui trabalho de fundo que poderá ao longo da época dar frutos inesperados. Foi certamente com Gonçalo Lampreia, Otari Kvantidze, Raquel Brás, Saba Danelia , Margarida Brás e Pedro Lima uma atleta a praticar um judo mais ofensivo que o habitual, o que constitui um bom pronúncio para provas futuras. 

Ana Agulhas perdeu na meia-final no limite do tempo depois de aparentar poder ultrapassar a sua adversária croata, o que representou uma pequena desilusão já que a final estava ao seu alcance e Maria Silveira de regresso às provas demonstrou a sua combatividade habitual, mas deu nota na final contra Nina Cvzetko [CRO] de enormes fragilidades físicas e duma ainda fraca dinâmica competitiva, isto se tivermos em conta ao que nos foi habituando nos últimos anos em provas nacionais e internacionais. 

Raquel Brás realizou o seu ultimo combate lesionada num ombro

Apesar do público reduzido houve momentos de emoção e muita combatividade dos atletas

A categoria de peso de -66 kg foi aquela que ofereceu melhores combates da prova, se exceptuarmos o Catarina Costa – Raquel Brito em -52 kg

Beatriz Moreira, uma tarde muito especial com a conquista de uma medalha de ouro.

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