Dia do professor
EDITORIAL – Mais importante que o estatuto é a prática nos processos de aprendizagem
Carlos Valentim Ribeiro* | Editor JM
Na realidade existem vários perfis sociais, culturais e profissionais para quem ensina. Trata-se de uma matéria delicada porque em primeira instância é preciso definir o que se entende por ensinar. Assim, não basta o título ou o estatuto de ser professor, formador, treinador ou mestre, no caso do judo, para que se depreenda que esse protagonista interventor num processo de aprendizagem esteja a ensinar.
A primeira dificuldade reside na compreensão que no centro do processo de aprendizagem encontra-se o aprendente e não quem pretende estar a ensinar. Pode-se mesmo afirmar que ninguém ensina ninguém. Os aprendentes é que aprendem e apropriam-se de novos conhecimentos a partir de quadros de referência pessoais e operações cognitivas próprias da sua evolução e do seu amadurecimento.
Da mesma forma que importa afirmar que num processo de aprendizagem todos aprendem, não apenas os aprendentes, mas também quem dinamiza o processo exploratório do conhecimento, sabendo nós que os saberes são co-construções que se alimentam dos contextos e das interações entre os diversos intervenientes.
A segunda grande dificuldade reside no facto do conhecimento científico e técnico estar ao alcance de todos e de qualquer um sem que exista a necessidade de intermediação no plano da informação ou da divulgação. Não faltam vídeos, gravações, DVDs, manuais e estágios que fornecem uma informação ampla e quase sem limites aos alunos ou atletas. Assim quem dinamiza processos de aprendizagem precisa, mais do que dar a conhecer, precisa de ser um “facilitador” na relação com o conhecimento e sobretudo saber incentivar e gerir os processos de aprendizagem ajudando na seleção e na aplicação dos recursos. Mas para tal é preciso conhecer todos os recursos disponíveis de uma determinada área de conhecimento. É por isso que os treinadores deveriam ser, apenas e só treinadores. Que é um estatuto fantástico utilizado em todas as modalidades desportivas.
Porque, como afirma um velho mestre do judo nacional “Mestre é quem sabe ensinar e não apenas aquele que sabe executar ou apresentar”. E para saber ensinar é preciso possuir o domínio dos diversos saberes e dominar os mecanismos da aprendizagem relacionando o saber ser, o saber estar e o saber-saber.
Professor e ou treinador são estatutos sociais, culturais e profissionais de grande valor. São suficientes para o exercício de animação desportiva que cada clube pretende e cada aluno deseja. O resto é preferível deixar para o campo do reconhecimento informal como, por exemplo foi a relação do pedagogo com a criança na Grécia antiga que se fundava na reflexividade em torno das experiências. Os mestres são essenciais nos processos de desenvolvimento, mas não reivindicar o estatuto é a primeira condição para o ser de facto.
* CVR foi Embaixador de Portugal para a Educação Não Formal e Informal de adultos na Plataforma Europeia para a Educação de Adultos – EPALE.