O declínio da participação no Campeonato Nacional de Equipas

Uma pergunta, onde estamos a falhar? E, uma chamada à mudança
Treinador do Clube de Judo Lusófona, Pedro Pratas exprime as suas preocupações perante as evidências que vieram ao de cima na prova nacional realizada em Viseu. O Nacional de Equipas Seniores tornou-se num símbolo das grandes fragilidades da modalidade que, nas palavras de Pratas, já assume o caráter de declínio.
Para o treinador do clube de judo da UL não deve ser só a FPJ a ter que mudar. Importa que os clubes e as associações se ergam contra esta dinâmica negativa “Parece me claro que as associações e clubes também têm de se alterar a fim de ter uma maior participação, não devemos colocar o ónus todo na FPJ. Como se viu no último zonal de Lisboa”.
Assim, estamos perante um texto que antes de mais faz apelo à reflexão sobre a modalidade e as suas tendências de evolução. JM

Pedro Pratas no Nacional de Seniores em Viseu foto ©fpj
Por Pedro Pratas
É desolador assistir ao declínio da participação no campeonato nacional de equipas. Como alguém que ama e acredita no potencial desta modalidade, vejo-me a questionar para onde estamos a ir. O que antes era um evento vibrante, repleto de atletas motivados, hoje transforma-se num reflexo de desinteresse e desistência. Cada vez mais, vemos atletas a abandonar a competição, e os clubes, por sua vez, lutam para manter estes talentos activos e comprometidos. Pergunto-me: onde estamos a falhar?
Treinadores e atletas são principalmente amadores
A verdade é que os atletas já não têm a mesma motivação de antes. E não é difícil perceber o porquê. A sociedade mudou, o ritmo de vida dos jovens é outro. No entanto, enquanto isso, a Federação Portuguesa de Judo (FPJ) parece estacionada no tempo, presa a práticas que já não funcionam. Ao tratar os atletas e treinadores como se fossem profissionais, a federação esquece-se de que, na maioria dos casos, estes são amadores que dividem o amor pelo judo com os compromissos do trabalho, dos estudos, da vida.
Há ainda a questão da localização das provas federativas. No caso dos seniores, por exemplo, estas provas deveriam ser realizadas em locais com maior concentração de atletas, como Lisboa e Coimbra, onde a adesão seria naturalmente mais elevada e os custos de deslocação mais baixos para muitos clubes. A descentralização é importante, claro, mas precisa de ser feita com estratégia, não de forma aleatória. Organizar provas em regiões onde há menos atletas acaba por limitar a participação e enfraquecer o campeonato.
São necessárias mudanças urgentes
Este problema, no entanto, não é de hoje. A verdade é que o declínio da modalidade vem de anos, e tem-se acentuado, pouco a pouco. Vimos isso recentemente nas provas zonais, onde a fraca adesão foi evidente. Fica claro que são necessárias mudanças urgentes, tanto na FPJ como nas associações locais. Sem o apoio e a escuta das bases, sem políticas que realmente incentivem a participação e facilitem a vida dos atletas, o futuro do judo em Portugal fica comprometido.
Além disso, parece que a FPJ está demasiado concentrada no pico da pirâmide, nos atletas de topo, e esquece-se da base. No entanto, uma base forte e numerosa é o que sustenta qualquer modalidade. Quanto menor e mais fraca for a base, menor e menos competente será o topo, porque não haverá atletas suficientes a chegar ao nível mais alto. O campeonato nacional é mais do que uma competição: é uma oportunidade de fortalecimento, um momento de união para a comunidade do judo. Mas enquanto o cenário permanecer o mesmo, temo que a modalidade continue a perder força e a afastar-se daqueles que realmente importam – os atletas e treinadores que a mantêm viva. Precisamos de mudança, e precisamos dela agora.