Mais espetáculo que judo em Paris

Otari Kvantidze termina no 5º lugar tendo chegado à meia-final
O Grand Slam de Paris abriu as portas do Judo Show a níveis de outros desportos-espetáculo como o wrestling. O judo está em profunda mudança e a dinâmica das suas provas aponta para três referências fundamentais: profissionalismo, espetáculo e negócio.
A nave central de Bercy foi ocupada por cantores, por um piano, por atletas olímpicos e por Teddy Riner que foi o judoca mais importante da prova, apesar de não ter competido.
Stephane Nomis, presidente da Federação Francesa de Judo e Disciplinas Associadas, anunciou que o número de federados em França é de 600.000 [3º desporto a nível nacional] e que o judo se tornou a principal modalidade olímpica do país. Por sua vez o presidente da Federação Internacional de Judo, Marius Vizer, felicitou a organização da prova e abriu oficialmente o torneio.
Primeira jornada
Claro também houve judo nesta primeira jornada do Paris Grand Slam dedicada às categorias de peso mais leves. Ma non troppo. O judo praticado está longe das origens que tinha uma abordagem técnica diversificada e longe de um desporto atrativo e espetacular com minutos infindáveis de ataques repetitivos e formas de combater dominadas pela luta pelas pegas, pelos ataques a meio-gás, pelos sutemis de simulação. O máximo que se consegue ver é, de vez em quando, um ashi-uchi-mata realizado a distância e puxado a ferros, à força de braços, um uchi-gari que provoca desequilíbrio, mas sobretudo permite, a quem o executa, de cair de frente, de barriga para baixo ou ainda um seoi-otoshi que quando resulta cria projeções rápidas e de grande impacto, mas é muitas vezes utilizado para desfazer a situação de passividade e evitar os famosos shidos.
As novas regras
A expetativa em relação à aplicação das novas regras de arbitragem em matéria de maior abertura e diversidade competitiva nos combates permanece, de qualquer forma ainda é cedo para ser avaliado o impacto que elas poderão provocar no futuro. Tudo indica que a pontuação de yuko aos 5 segundos de imobilização está a ter influência numa maior procura do trabalho no chão [katame-waza] no período do Golden Score. É verdade que permite resolver com menor risco o combate numa fase que não permite qualquer margem para erros.
Otari à beira das medalhas
Otari Kvantidze foi o atleta luso da jornada. Catarina Costa não conseguiu ultrapassar a japonesa Kondo que viria a vencer a prova e assim podemos afirmar que o sorteio ditou sorte madrasta para a atleta da Académica de Coimbra. O atleta do Sporting Clube de Portugal venceu de forma segura e com excelente nível de concentração todos os seus adversários até à meia-final. A partir dessa fase cedeu nos dois combates para a atribuição de medalhas, sendo a derradeira derrota resultado de uma clara falta de experiência já que Otari pontuou wazari quando o combate estava nos últimos segundos e foi de seguida projetado pelo seu adversário, de forma surpreendente, contra todas as previsões. Tratou-se de um percurso de grande qualidade do atleta dos menos 73 kg, que não se traduziu numa presença no pódio, o que deve ter deixado um sabor particularmente amargo na boca do judoca português.
Foto de destaque © IJF