Treinadoras e treinadores

JudoLab – Acompanhar atletas em provas exige saberes relacionados com o desenvolvimento pessoal
Da bancada, no meio do público, onde vivemos o Campeonato Nacional de Juniores de forma intensa e emotiva, pudemos observar os momentos complexos, porque ou festivos ou de desalento, que se seguiam após o termo de cada combate. As treinadoras e os treinadores ali estavam, à saída do tapete, para abraçar e felicitar ou para partilhar com o atleta a derrota e as suas consequências.
Vimos em alguns casos as lágrimas invadirem os rostos e noutras a tensão própria de alguma desorientação face ao sucedido. A situação surge como complexa e de gestão exigente e nada pior que a considerar na base das reputadas afirmações que fazem fé de método soit disant para o desenvolvimento mas que na prática alimentam a ignorância e o espírito militarista, tais como “Sempre que cai, levanta-se de novo. E pouco importa quantas vezes tem que cair para aprender e não voltar a cair” ou então “Não te deixes abater, é preciso é pensar no próximo combate”.
Frustração
As treinadoras e os treinadores desempenham várias funções e papéis na relação com os atletas que orientam. Numa prova, especialmente nas de nível elevado, gerir e lidar com a frustração constitui um elemento-chave dos momentos críticos nomeadamente quando as expetativas saíram frustradas após um combate que se admitia poder ganhar.
A atuação a quente, após a saída do atleta do tapete, coloca exigências muito peculiares. Desde logo acertar no terreno no qual é possível estabelecer uma comunicação eficaz com o atleta, o que implica saber interpretar os sinais revelados pelo comportamento que podem indiciar um estado de frustração. Tendencialmente o que surgirá como percetível será a insatisfação que o competidor pode exprimir, para si próprio, através de reações em diversos sentidos:
Autopunição: o atleta não se conforma com erros cometidos ou com a incapacidade revelada na concretização de ações que ele próprio foi definindo durante o combate. Penaliza-se por isso;
Sentimento de injustiça: o atleta estabelece na sua avaliação subjetiva, a quente, que a vitória alcançada pelo seu adversário foi resultado de sorte, ou de falhas da arbitragem ou de outros fatores externos a si próprio. Não reconhece a derrota;
Resignação: o atleta adapta-se à derrota sem procurar compreender as suas causas e sedimenta uma atitude de ceticismo que põe em causa a sua autoestima e enfraquece as bases para melhores desempenhos em futuros embates. Está inseguro e sem autoconfiança.
Agir de forma adaptada
E outras reações existirão. Mas, para o caso o que importará salientar será o seguinte:
- Ter, de forma sistemática, a mesma forma de abordar as diversas reações pós-derrota de atletas, à saída do tapete, constitui uma base de atuação pouco adequada e previsivelmente pouco útil para o atleta em causa;
- Debitar um discurso motivacional e voluntarista para pretensamente encorajar, pode ser a pior forma de reposicionar o atleta em boas condições para a fase seguinte. Para além do mais será não perceber que as motivações são intrínsecas ao sujeito e nunca oriundas de discursos externos;
- Ignorar a situação de frustração e não realizar os esforços necessários para incentivar um processo de reflexividade participado [isto significa mais do que fazer grandes declarações, fazer perguntas e caminhar, lado a lado com o atleta, na sua sistematização de experiência] pode comprometer os passos e os percursos a médio e longo prazo dos atletas envolvidos em atividades competitivas.
Assim esta questão da gestão participada de situações de frustração obedece aos princípios do acompanhamento nos domínios do desenvolvimento pessoal que antes de mais remetem para a singularidade das situações e das pessoas e para a cooperação entre os protagonistas recusando as lógicas de domínio psicológico baseadas na hierarquia e nos estatutos de superioridade.
Judo Lab – Inovação e desenvolvimento | texto Carlos Ribeiro – Foto , Maria Siderot, treinadora do Sporting Clube de Portugal em Tomar, 8 de fevereiro 2025.
Editámos título Treinadoras e treinadores, 18h12