A cadeira vazia

OPINIÃO – A incapacidade gerir as competências torna as estruturas vulneráveis e coloca-as ao sabor do vento
Carlos V. Ribeiro
A cadeira vazia tornou-se um símbolo em termos de política internacional para indicar uma pressão radical para forçar uma reformulação dos processos e dos conteúdos de decisões que envolvem maiorias e minorias. Esta linha de atuação correspondeu ao período durante o qual os franceses, por decisão de De Gaulle, deixaram em meados dos anos 60 de ocupar o seu lugar na mesa do Conselho de Ministros da CEE ficando a “cadeira dos gauleses vazia”. Os temas em apreço eram particularmente relevantes e jogava-se o futuro de uma Europa mais federalista ou mais focada na integração e articulação entre os Estados soberanos.
Em Linz, na Áustria no passado fim de semana, estivemos longe deste tipo de desafios e formas de agir sobre temas de interesse comum, mas tivemos à evidência uma situação de “cadeira vazia” que chocou muitos daqueles que foram acompanhando os combates dos atletas da seleção nacional ao longo das três jornadas.
Rodrigo Lopes, Miguel Gago, Otari Kvantidze, Bábara Timo, Taís Pina ficaram por conta própria nos combates que realizaram na Áustria e contaram apenas com um enquadramento técnico a partir das bancadas onde o treinador nacional Marco Morais fez o que pôde para apoiar os judocas nos seus combates.
Uma coisa é certa, não se compreende que uma comitiva que se desloca a provas internacionais não o faça nas condições técnicas adequadas e estabelecidas pelos regulamentos já que se trata de um investimento avultado de dinheiros públicos que precisa de ser otimizado.
No fundo esta matéria remete para a forma como a estrutura técnica da Federação Portuguesa de Judo está organizada e para a gestão das competências no coletivo “treinadores nacionais” no qual, tudo o indica, nem todos se encontram em condições legais e formais para acompanhar atletas em provas internacionais.
À pergunta “mas como é que foi possível ter acontecido?” importaria ter uma resposta porque a questão que se coloca para os atletas e para a comunidade do judo é saber se “isto se vai voltar a repetir”.
De Gaulle, com a sua política de cadeira vazia, obteve o famoso “compromisso do Luxemburgo” que permitiu que as dinâmicas da construção europeia se mantivessem. Até hoje.
Talvez aqui seja de pensar em assumir um compromisso principalmente com os atletas que participam em provas internacionais, começando por explicar e justificar “humildemente” a cadeira vazia de Linz e adiantar as medidas que poderão ter sido tomadas para que nada disto volte a acontecer. Compromissos fazem-se entre pessoas inteligentes, empenhadas na resolução de problemas e com vontade que as melhorias aconteçam depois dos erros.
Foto Grand Prix Upper Austria 2025, ROUND OF 32 SWE ERIKSSON vs POR TIMO, -70 kg © Sabau Gabriela
Caro Carlos Ribeiro, o seu artigo “A cadeira vazia” para ser esclarecedor deveria desenvolver a(s) razões da ausência na cadeira, do técnico nacional nomeado. O 4º parágrafo não esclarece nada.
José Ferreira
Lic 16884