100 KK – O exame para 1º Dan

HISTÓRIAS PARA SEREM CONTADAS – Sob o olhar atento do avaliador
Em 1994, vivi uma das experiências mais marcantes da minha trajetória no Judo, o dia do meu exame de graduação para 1º Dan.
Por Nuno Vieira, treinador da Associação 4Judo
O exame teria lugar em Lisboa, na sede da Federação e o Tiago Ferreira e eu, após semanas de preparação intensa no ACM, em Coimbra, sentíamos que estávamos bem preparados para o desafio. Porém, quando chegámos ao dojo da Federação e nos apercebemos que a avaliação iria ser realizada pelos mestres Kobayashi e Bastos Nunes, a ansiedade tomou conta de nós.
Kiyoshi Kobayashi, avaliador
Passados cerca de 60 minutos, fomos chamados para dar início ao exame. Na fase inicial o nervosismo era palpável, mas à medida que o exame se desenrolava e as respostas iam sendo validadas o medo foi dando lugar à confiança. O Mestre Kobayashi, com o seu olhar atento e o seu gesto subtil de aprovação – um leve aceno da cabeça –, transmitiu uma sensação de apoio que fazia a tensão diminuir a cada resposta.
Já no final do exame, quando estávamos prestes a sair do tatami, cumprindo a saudação de encerramento, para minha surpresa, o mestre Kobayashi chamou-me e disse-me: “Menino, só mais uma questão. Executa a técnica Soto-Makikomi”. Fiquei sem palavras por um momento, mas com o apoio do meu uke, o Tiago, voltei para a posição inicial e executei a técnica. O mestre, com a sua serenidade habitual, sorriu e disse: “Muito bem! Pode sair.”
Soto-Makikomi
Coincidentemente, essa técnica que naquele momento parecia apenas mais um pedido viria a tornar-se numa das minhas preferidas no meu repertório competitivo, sempre que entrava no tatami, à procura de vitória. Sinto uma enorme gratidão por ter tido o privilégio de aprender com o mestre Kobayashi, um dos maiores nomes do Judo em Portugal, o verdadeiro “pai do Judo” no nosso país.
Embora a minha experiência com o Mestre Kobayashi tenha sido breve, as lições e o legado deixados por si nunca se apagarão. Tenho muita pena de não ter tido mais momentos ao seu lado, mas sigo com o coração cheio de respeito e reconhecimento por tudo o que ele representou para mim e para tantos outros judocas.
Um legado e uma sabedoria imensuráveis que ficam para as gerações futuras.
Foto , cedida por Nuno Vieira