25/04/2025

Não falaram com ninguém

caroline

Associações condenam ingerência da direção da FPJ na sua autonomia para programar e orçamentar provas zonais

A isenção de taxas nas provas zonais que contam para os rankings, imposta pela direção da FPJ, está a levantar protestos nas associações distritais que não aceitam o teor da circular federativa de 9 de abril.

Para já as associações distritais de Lisboa e de Setúbal tornaram públicas posições de discordância e de protesto face à imposição da direção da FPJ de isentar de taxas de inscrição as provas zonais que contam para os rankings e que se realizam na época de 2025. Outras estruturas distritais como o Algarve e Coimbra juntaram-se ao protesto sobretudo por entenderam que a ausência de diálogo prejudica seriamente a atividade do judo nacional e que decisões deste tipo devem ser tomadas depois de ouvidas as associações distritais. 

Beneficio da dúvida

O atual elenco federativo está longe de ser consensual nas diversas estruturas que governam o judo a nível distrital. No entanto no arranque do novo ciclo olímpico muitas associações optaram por dar o benefício da dúvida ao Presidente e aos restantes membros dos Corpos Sociais que transitaram da ciclo anterior para o atual prometendo uma mudança nas formas de agir e de gerir a modalidade. Mas, no seguimento de outras situações conflituosas, veja-se o caso da prova europeia em Portimão sem a articulação com a Associação Distrital algarvia, estão a surgir decisões unilaterais que, pouco a pouco, podem transformar o benefício da dúvida numa séria dúvida da capacidade deste grupo de dirigentes levar o judo a bom porto nos próximos quatro anos do ciclo olímpico.

Esta última decisão sobre as taxas apanhou os dirigentes distritais de surpresa. Tratar-se-á de uma ingerência na gestão financeira das associações, de uma decisão unilateral e de uma opção totalmente inoportuna porque a época desportiva já está a decorrer e consequentemente as provas zonais em causa já se encontram orçamentadas. 

Afinal a pressão exercida por algumas associações, como é o caso de Lisboa, para que os rankings fossem retomados, este regresso do sistema em 2025 acaba por ser um presente envenenado  “No decorrer deste ano de 2025, a Federação Portuguesa de Judo (FPJ) fez saber, através do Regulamento de Organização de Provas 2025 (capítulo 1, artigos 9º e 10º) que iria reinstituir o sistema de Ranking Nacional para o apuramento aos Campeonatos de Apuramento da Seleção Nacional (CASN) dos escalões de Cadetes, Juniores e Seniores. Decisão esta que muito nos agradou, pois já há vários anos que somos apologistas que o apuramento ao CASN não se pode basear apenas e só numa prova zonal (o Campeonato Zonal)” adiantou em Carta Aberta a ADJL que quis valorizar a decisão tomada pela FPJ. 

Promessa de não-ingerência 

A ADJL informa que existiam orientações que afinal foram contrariadas “Quando perguntado quais seriam os critérios para que uma prova fosse qualificada para marcar pontos para apurar para o respetivo CASN, foi explicado e garantido pelo atual Vice-Presidente da FPJ, que seriam utilizadas as provas Open já calendarizadas e orçamentadas para o ano de 2025. Que seriam utilizadas uma prova Open de cada escalão e de cada zona para esse efeito. Que as referidas provas seriam organizadas pelas respetivas Zonas de acordo com o modo organizativo seguido por cada uma até aqui utilizado. E que a FPJ não iria interferir nessa organização”. 

Mas ao contrário do que foi informado pela FPJ, da não interferência no sistema organizacional de casa zona/associação, como adianta a associação de Lisboa “a 9 de Abril a ADJL foi confrontada com o que nos parece ser uma colossal interferência que não mexe apenas com cada uma das provas implicadas, mas também com o orçamento inicialmente planeado de cada Associação. Acircular Nº 047/25 Calendarização dos Opens Zonais/esclarecimento que informa que as provas só contabilizam pontos para o ranking do respetivo escalão no caso de não serem cobradas qualquer taxa de inscrição para participação. 

Completo desacordo 

Assim, face ao conteúdo da circular federativa a ADJL tomou uma posição que divulgada em Carta Aberta e que já é do conhecimento público. 

“Estamos consternados e em completo desacordo com esta decisão por parte da FPJ, 

  1. não só pelo facto de não ter ocorrido uma reunião plenária prévia com todas os representantes das associações para debater o sistema de Ranking e os critérios exigidos para cada uma das provas selecionadas para o respetivo ranking, ficando assim a suposição de que cada associação cumpra com o estabelecido pela FPJ; 
  1. mas também por que sentimos uma falta de respeito pelo trabalho realizado pelas associações que viram um orçamento da FPJ para 2025 ser aprovado com menos verbas disponíveis para as associações, e por último, mas não menos importante, 
  1. pela injustiça para com os nossos atletas, que não existindo taxa de inscrição suportam sozinhos uma prova que contabiliza para ranking e onde atletas não pertencentes a esta associação podem obter pontos sem pagar. Os associados de Lisboa já co-comparticipam as provas organizadas pela ADJL quando se inscrevem/revalidam para o ano desportivo. 

Somos a única Associação que é simultaneamente Zona e Associação. Não temos outras associações para dividir custos, e patrocínios, (como é de conhecimento geral e quem conhece bem a realidade de Lisboa), não abundam! Mas esta associação tem noção do seu universo associativo e sempre tem trabalhado em prol dos seus atletas, quer seja no investimento cada vez maior nos escalões de formação, quer seja no apoio aos clubes na organização das suas provas/eventos, quer seja na formação de novos árbitros e treinadores, visando ainda o aumento da qualidade das provas organizadas pela ADJL. 

Tatamis renovados, investimento em novo equipamento informático e sistema de arbitragem, equipa médica. Tudo fazemos para que as taxas cobradas sejam bem aplicadas e penso que isso se tem vindo a refletir nos últimos anos”

Manter as taxas! 

A ADJL definiu uma posição que contraria as decisões da direção da FPJ e vai manter as taxas nas provas que vai organizar e que foram consideradas como cumprindo os critérios para integrem o sistema de pontuação que alimenta os rankings “Salientamos que esta associação, ao longo dos anos, sempre seguiu e respeitou as orientações estabelecidas pela sua federação, a FPJ, muitas vezes tendo visões diferentes. Contudo, neste ponto sobre a isenção de taxas de inscrição, não podíamos deixar de marcar a nossa posição relativamente ao comunicado/esclarecimento de dia 9 de Abril, pela defesa do interesse dos nossos atletas. 

Há uma sensação de apropriação imposta dos meios financeiros, humanos e logísticos da ADJL, por parte da FPJ, pois esta, conhecedora da postura desta direção ao longo dos anos, sabe que a realização das referidas provas nunca estaria em causa. 

Decidiu assim, esta direcção, após amplo debate, manter as taxas praticadas por nós até aqui, assumindo todas as implicações que poderão advir. 

Queremos exponenciar a qualidade das provas para Ranking Nacional e estamos, como sempre, receptivos a reunir e a comunicar entre pares com a finalidade de elevar a nossa modalidade como merece e com o respeito que lhe é inerente” conclui a estrutura associativa mais representativa do país que não foi tida nem achada pelos atuais dirigentes da federação”. 

Foto de destaque Carolina Costa – Presidente da Direção da Associação Distrital de Judo de Lisboa.

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