22/05/2025

Como nas artes marciais o importante é o espírito de preservar a paz

embaixador BR

A minha vontade e o meu desejo é que o Judo português cresça e se fortaleça

ENTREVISTA AO SR. EMBAIXADOR EXTRAORDINÁRIO E PLENIPOTENCIÁRIO DO JAPÃO EM PORTUGAL OTA Makoto (Mr.) 

Entrevista realizada no dia 9 de abril de 2025 na Embaixada do Japão em Lisboa.

JUDO MAGAZINE [JM] – O Sr. Embaixador, teve alguma ligação ao judo no seu passado desportivo? 

Ota Makoto – Na preparação que temos no Japão em alguns domínios, nomeadamente nas forças policiais, podemos escolher entre Judo e Kendo para uma formação de base em artes marciais. Eu escolhi Kendo. Mas todos temos acesso a noções básicas de ambas as modalidades, de Judo e Kendo, assim também contactei com essa base mínima. 

JM – Existe uma ligação umbilical entre as artes marciais que têm origem no Japão e os meios pacíficos para resolver conflitos. Mas hoje na cena política internacional sentimos que a ideia da paz está a ficar ameaçada. O que pensa desta nova situação? 

OM – Nas artes marcais, no judo, no Kendo, no Karaté e outras o mais importante é cultivar o espírito. A preparação física e o cuidado com o corpo é muito importante, mas o essencial  é o espírito de prestar respeito pelo adversário. O samurai só utilizava a sua espada em situação de extrema necessidade. Fora isso não desembainhava a sua arma. Na situação atual não posso considerar positiva a ideia de utilização da força para resolver conflitos. Como nas artes marcais o importante é o espírito de preservar a paz. 

Não posso considerar positiva a ideia de utilização da força para resolver conflitos

JM – KK agiu em três áreas importantes no nosso país: o Judo, a cultura japonesa e a medicina tradicional japonesa. Será que em matéria de medicina tradicional existe alguma intenção de ampliar a sua influência em Portugal? 

OM – Não tive oportunidade de conhecer pessoalmente Kiyoshi Kobayashi. Mas é conhecido todo o trabalho que ele desenvolveu em favor da cultura japonesa. Foi homenageado pelo governo japonês. Sabemos que existem vários dojos que passaram a ter o seu nome. Isso é muito gratificante e eu valorizo muito esse reconhecimento como cidadão e como japonês. Agora, em relação aos aspetos da medicina, teremos que admitir que não é fácil serem generalizadas as bases da medicina tradicional japonesa aqui em Portugal e noutros países. Há sempre um olhar local com base na tradição de longa data e as questões sobre a medicina tradicional não serão tão facilmente ultrapassadas. 

Sabemos que existem vários dojos que passaram a ter o nome de Kiyoshi Kobayashi. Isso é muito gratificante.

JM Existem ou estão programados acordos entre o governo português e japonês para intercâmbios desportivos entre o Japão e Portugal? Como o Sr. Embaixador sabe todo o praticante de judo que atinge um bom nível tem um sonho que é ir ao Japão e ir ao Kodokan. 

OM – Entendo que não existem protocolos formais, mas os apoios acabam por acontecer em algumas situações. No Judo os atletas portugueses estão federados e estão inseridos nos planos e práticas da Federação Internacional de Judo e consequentemente do Kodokan. Existem modalidades como o Judo, o Karaté, o Kendo que organizam estágios no Japão. Também existe o inverso. Mestres japoneses vêm a Portugal orientar estágios e cursos. Por exemplo no futebol parece que existem intercâmbios entre atletas dos dois países. Esperemos que no futuro seja possível aumentar essas formas de cooperação. A minha vontade e o meu desejo é que o Judo português cresça e se fortaleça, nomeadamente com um aumento cada vez maior de praticantes. 

O Sr. Embaixador do Japão, Ota Makoto, com Renato Kobayashi nas comemorações do centenário do nascimento de Kiyoshi Kobayashi em Torres Novas no dia 13 de abril de 2025.

Fotos ©Judo Magazine

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