Associações distritais interpelam a FPJ sobre o CASN de cadetes

Lista de apurados foi hoje divulgada e a prova é já no dia 10 de fevereiro

Imagine que é treinador e que desenvolve um trabalho profundo com os cadetes. Anda a estruturar uma base para a equipa do clube combinando formação com competição. É um dos trabalhos mais difíceis e mais exigentes que um treinador pode realizar. Muitas vezes é preciso agir com pinças e cuidar dos argumentos, convencer os atletas, adiantar que vale a pena, reafirmar que a experiência a nível nacional é muito positiva. Enfim, quem trabalha com estes setores mais jovens do judo sabe como é. A estabilidade nos processos relacionados com as competições é fundamental para construir confiança.

Pavilhão de Almada onde irá decorrer o Nacional de cadetes 2023

Mas então não é que o exemplo negativo, e que contraria esta lógica de trabalho afincado, vem de cima. Precisamente daqueles que deveriam estar a garantir o quadro mais favorável possível para os jovens atletas se comprometerem e serem audazes nestas situações desafiantes. Acontece que a lista de apurados para o Campeonato AS Nacional de cadetes 2024 só foi divulgada hoje, na antevéspera da realização da prova. Uma situação incompatível com uma programação séria e adequada que os clubes e as associações querem realizar para as provas nacionais.

Mas a destabilização também resulta do facto de terem sido inseridas na lista de apurados atletas que beneficiaram de uma decisão da direção da FPJ em atribuir dois Wild Cards a duas atletas que não compareceram no respetivo campeonato zonal por se encontrarem, na data da sua realização, numa prova e num estágio fora do país. Ora o regulamento de provas é claro e impõe que o apuramento para o nacional passe obrigatoriamente pela participação na prova da zona, ou então, invocar uma situação de exceção, que o regulamento contempla “Os atletas que sejam convocados pela FPJ para eventos que se realizem na mesma data da realização dos Campeonatos de Apuramento Zonal, podem requerer a qualificação para os respectivos Campeonatos de Apuramento para Seleção Nacional através de wild card emitido pela FPJ ao abrigo da presente norma”.

Acontece que os elementos disponíveis sobre a generosa conceção dos tais cartões às atletas em causa levam-nos a crer que a bota não condiz com a perdigota. Nem as atletas em causa seriam da seleção nacional de cadetes, porque no ano passado eram ainda juvenis, nem a convocatória para o torneio holandês terá sido realizada pela própria federação. No fundo ter-se-á tratado de uma participação para reforçar a experiência internacional das jovens competidoras mas, sendo a opção meritória, teria que ser assumida em consequência a não-qualificação para o nacional. Assim o ónus estará do lado de uma utilização abusiva de uma prerrogativa do regulamento por parte de quem não o deveria ter feito, no caso admite-se, antes de mais, da própria federação.

É este o sentido de reclamação por parte de algumas associações distritais que pretendem obter esclarecimentos procurando fazer justiça aos seus atletas que, esses sim, foram obrigados a passar pelo zonal para acederem ao Nacional do próximo sábado.

No ano passado surgiu uma situação relacionada com duas atletas luso-helvéticas inscritas pela Suiça em provas internacionais e que participaram no Nacional, tendo mesmo conquistado títulos. A Federação Suiça arrumou o assunto de forma categórica de pois de interpelada pelo Judo Magazine. Aqui estamos perante mais uma situação de tensão que se prende com o cumprimento dos regulamentos e, em última análise, a eventual atuação menos vertical dos dirigentes federativos.

Lista de apurados para o Campeonato AS Cadetes 2024

SOBRE O AUTOR | Editor

Carlos Ribeiro

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