Mulheres inspiradoras

As que se tornaram inspiradoras da participação das mulheres nos Jogos Olímpicos

por Teresa Gaspar

No passado dia 8 de março, dia internacional da mulher, o Comité Olímpico de Portugal homenageou as mulheres portuguesas que representaram, pela primeira vez, as suas modalidades desportivas nos Jogos Olímpicos, numa cerimónia muito bem conseguida, recheada de discursos muito significativos.

Teresa Gaspar homenageada no Comité Olímpico de Portugal

Eu, Teresa Gaspar, fui homenageada nesta cerimónia, por ter representado Portugal na primeira competição de Judo feminino nos Jogos Olímpicos, realizada em 1988 em Seoul. Nesta competição participaram as 5 primeiras classificadas do Campeonato do Mundo de 1987 (grupo que integrei por me ter classificado no 5º lugar) e as representantes do país organizador, da Oceania e da África (continentes não representados no primeiro grupo). Foi uma competição em tudo igual às outras, com àrbitros, lesões, pódios, medalhas, bandeiras, hinos, lágrimas…tudo, mas para um grupo muito mais restrito do que nas modalidades que já integravam o programa Olímpico anteriormente.

Para mim, o mais importante nunca foi ter sido a primeira Judoca portuguesa a participar nos Jogos Olímpicos, mas sim, o facto do Judo feminino estar representado na primeira competição Olímpica da modalidade, resultado do empenho e dedicação de todas as mulheres que lutaram para criar o caminho que percorri para chegar lá.

Contribuíram para este caminho todas as mulheres que tiveram coragem de fazer mais, de fazer melhor:

  • as mulheres que nos anos 60 decidiram mostrar que o Judo também era para elas, começando a praticar a modalidade. Mulheres como Maria Jesus Silveira, a primeira mulher inscrita na FPJ;
  • as mulheres que nos anos 70 mostraram interesse em competir solicitando aos dirigentes da época a organização de competições femininas. Mulheres como Virgínia Pinto, contribuiram para que se realizassem os primeiros torneios femininos e posteriormente os primeiros campeonatos nacionais femininos ( 1976);
  • as mulheres que ousaram competir formalmente, representadas pelas primeiras campeãs nacionais, Maria José António e Emília Lobo;
  • as mulheres que no início dos anos 80 levaram Portugal a participar pela primeira vez num Campeonato do Mundo Feminino (1982). Mulheres como Leopoldina Candeias, que se classificou em 5º lugar, neste campeonato,
  • as mulheres que com 15 anos foram campeãs nacionais de séniores. Mulheres como Paula Pontes, que representaram também Portugal nos Campeonatos da Europa de Séniores Femininos (1983), numa altura em que não se realizavam provas de esperanças ou juniores femininos.
  • e as mulheres que integraram todas as equipas femininas fortalecendo os contextos de treino.

Mas contribuiram também, muito, os treinadores, os dirigentes e os pais que ouviram, acreditaram e apoiaram estas mulheres e que progressivamente as ajudaram a construir e percorrer os seus caminhos.

Depois do Judo feminino ter participado nos Jogos Olímpicos, em 1988, as seleções femininas passaram a ter competições nacionais e internacionais em escalões de juniores, planos de preparação e calendários competitivos internacionais semelhantes aos da seleção masculina.

As judocas dos anos 90 venceram as primeiras medalhas em competições internacionais, continuando o caminho iniciado anteriormente e contribuindo para que nos dias de hoje o Judo feminino tenha uma marca tão significativa no panorama desportivo nacional.

O Judo feminino português esteve representado em todos os Jogos Olímpicos, desde 1988. Parabéns a todas as Judocas Portuguesas!

10/3/2024       

Comité Olímpico de Portugal homenageou Atletas Olímpicas pioneiras

Talento, audácia, resiliência, determinação, superação – estas foram as palavras que marcaram a homenagem das Atletas pioneiras em cada modalidade na representação de Portugal em Jogos Olímpicos organizada pelo Comité Olímpico de Portugal (COP) esta sexta-feira, Dia Internacional da Mulher 2024.

Da Ginástica, em Helsínquia 1952, ao Surf, em Tokyo 2020, são 26 as Atletas que fizeram a estreia de Portugal no feminino, em Jogos Olímpicos, por modalidade:

  • Helsínquia 1952
  • Dália Cunha (Ginástica), já falecida
  • Maria Laura Amorim (Ginástica)
  • Natália Cunha e Silva (Ginástica), já falecida
  • Roma 1960
  • Maria José Nápoles (Esgrima)
  • Regina Veloso (Natação)
  • Los Angeles 1984
  • Albertina Machado (Atletismo)
  • Aurora Cunha (Atletismo) Conceição Ferreira (Atletismo) Isabel Joglar (Tiro)
  • Rita Borralho (Atletismo) Rosa Mota (Atletismo) Seul 1988
  • Ana de Sousa (Tiro com arco)
  • Teresa Gaspar (Judo)
  • Atlanta 1996
  • Ana Barros (Ciclismo)
  • Catarina Fagundes (Vela)
  • Florence Fernandes (Canoagem)
  • Joana Pratas (Vela). A velejadora olímpica foi a única a usar da palavra para agradecer a todos quantos a ajudaram na carreira e no pós-carreira, dizendo que o momento da homenagem “tem um enorme significado.”
  • Nagano 1998
  • Mafalda Queiroz Pereira (Esqui)
  • Cristina Pereira (Voleibol de praia), já falecida Maria José Schuller (Voleibol de praia) Atenas 2004
  • Vanessa Fernandes (Triatlo)
  • Pequim 2008
  • Ana Moura (Badminton)
  • Londres 2012
  • Lei Mendes (Ténis de mesa) Luciana Diniz (Equestre) Tóquio 2020
  • Teresa Bonvalot (Surf)
  • Yolanda Hopkins Sequeira (Surf)

Homenagem às pioneiras

Sameiro Araújo, vice-presidente da Comissão Executiva do COP, sublinhou ainda a importância da homenagem às atletas pioneiras que, “ao longo de muitos anos foram transpondo barreiras, conseguindo abrir caminhos para que hoje as atletas, que comungam dos mesmos objetivos, tenham o seu percurso mais facilitado. Em pleno século XXI, verificamos, sem qualquer dúvida, uma evolução positiva, mas ainda há muito caminho a percorrer. E havendo caminho a percorrer, há que reconhecer que o caminho percorrido já foi muito significativo. Há que continuar, há que aprofundar e há sobretudo que acreditar.” Dirigindo-se diretamente às homenageadas, a vice-presidente da Comissão Executiva do COP disse: “O mundo mudou, as dificuldades não são hoje as mesmas de há 40 ou 50 anos. Vocês foram desbravando caminho para que hoje as novas gerações tivessem o caminho mais facilitado.”

Cristina Almeida, diretora do Departamento de Estudos e Projetos do COP, enquadrou o Dia Internacional da Mulher como “uma oportunidade para celebrarmos os progressos alcançados no sentido da igualdade no movimento olímpico. E este ano comemora-se um marco extraordinário que será alcançado em Paris 2024. Pela primeira vez haverá paridade total de homens/mulheres dentro do campo de jogo, na participação de atletas. De 2% de mulheres nos Jogos de Paris 1900 a 50% nos Jogos de Paris 2024.”

Para Diana Gomes, presidente da Comissão de Atletas Olímpicos, “o Dia Internacional da Mulher é assinalado por ainda ser necessário fazê-lo. Muito caminho já se percorreu, e sem cada uma das mulheres que será homenageada, o desporto feminino em Portugal não seria como hoje o conhecemos. Todos temos, sim, todos, homens e mulheres, de estar gratos pela coragem de quem ignorou o que se escrevia, o que se prescrevia, o que se diagnosticava. Quase 50 anos passaram desde a oficialização deste dia pelas Nações Unidas. Já quase duas gerações percorreram este tempo, mas todos nós ainda vivemos e convivemos com desigualdade de oportunidades.”

Beatriz Gomes, vogal da Comissão Executiva do COP e atleta olímpica de Canoagem, realçou que o impacto do percurso das homenageadas “vai muito além do Desporto. Estas mulheres enfrentaram e superaram barreiras e desbravaram caminho em desportos ditos à época de homens. Para que algumas de nós tivessem iniciado a prática desportiva com a sensação de que desde sempre foi assim, muitas tiveram de lutar, persistir, ultrapassar barreiras históricas, culturais e sociais para poderem praticar as suas modalidades desportivas. Isto deve-se à coragem e determinação das mulheres no desporto.” E reforçou: “A celebração do Dia Internacional da Mulher continua a ser claramente necessária, na luta por direitos e oportunidades iguais. O caminho de conquistas até aqui foi longo e árduo para muitas, mas há ainda desafios a serem superados, e se o pensarmos noutras latitudes ainda mais. O desporto tem claramente o poder de ser uma força motriz nesta luta.

Sameiro Araújo e Filipa Cavalleri, Ana Celeste Carvalho, Ana Vital Melo, Elisabete Jacinto e Mónica Jorge, da Comissão Mulheres e Desporto do COP, fizeram a entrega das distinções às atletas homenageadas.

A abrir e a encerrar o evento, atuou a soprano Patrícia Modesto, acompanhada pelo quarteto de cordas composto por Marija Pereira, Ludovic Afonso, Francisco Caldeira e Ricardo Ferreira.

Fonte: Comité Olímpico de Portugal, 8 de março de 2024

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