Um Ibérico de katas sem fronteiras

Torneio realizado em Torres Novas colocou os katas num patamar elevado de competição e de cooperação

REPORTAGEM JUDO MAGAZINE

Seria difícil imaginar, há uns tempos atrás, um pavilhão amplo com três áreas de competição repleto de duplas a competirem na vertente do judo tida por parente pobre que são os katas. Não tivesse havido na semana anterior em Torres Novas uma prova de juvenis [Almonda Cup] que envolveu várias de dezenas e jovens judocas de várias regiões do país e quase que poderíamos afirmar que os katas passaram a ser uma marca distintiva da associação de Santarém.

A presença de atletas, treinadores, árbitros e dirigentes de Espanha, de França e de Portugal atribui ao evento uma dimensão desportiva e institucional pouco comum em provas organizadas por uma associação distrital. O ambiente é próprio de um acontecimento sem fronteiras, quer linguísticas, quer culturais quer ainda técnico-desportivas. Paira no ar de forma quase paradoxal uma tensão de rigor e de disciplina combinada com a cumplicidade e a informalidade. A mensagem que passa é a de um evento no qual tudo é levado muito a sério mas que tal não impede que exista muita cordialidade e até cooperação entre os competidores.

Vários katas foram apresentados, alguns com níveis de complexidade elevada

Termina a execução de um kata que foi observado em silêncio. Logo a seguir à saudação final por parte da dupla executora ecoam palmas, fortes e intensas. Os presentes agradecem e valorizam. Estamos no universo da aprendizagem e do respeito. Aprendizagem porque todos tiram ilações dos desempenhos de terceiros, respeito porque existe um reconhecimento pelo trabalho realizado para treinar e preparar a demonstração levada a efeito perante os árbitros.

Para Guilherme Ramalho que treina em Ferreira do Zêzere e Miguel Pinheiro que pratica no clube de judo de Riachos os katas são a forma prática de manterem a sua relação com o judo. O primeiro anda na faculdade e o segundo a terminar o 12º ano “Começámos há um ano atrás. Já estávamos um pouco fora do judo. O Miguel já fazia katas desde a preparação para o exame de 1º Dan. Decidimos continuar e treinamos ao sábado de manhã” adiantou-nos Guilherme. Constituem uma dupla e têm um objetivo de prosseguir a sua ligação ao judo por esta via “É uma área menos física e pode ser trabalhada com um ritmo mais calmo. Os treinos são mais tranquilos o que não quer dizer que sejam menos exigentes. Nos katas há muito para trabalhar!” adiantou-nos ainda Miguel que apesar de tudo continua a ir ao clube e a acompanhar as outras vertentes do judo com destaque para a competição.

Guilherme e Miguel treinam em Ferreira do Zêzere ao sábado de manhã

Por sua vez Ana e Beatriz, ambas da Escola de Judo de Coimbra, começaram a treinar katas há dois anos. “Fomos incentivadas pelo nosso treinador a experimentar e depois descobrimos que gostávamos. desde então continuamos a trabalhar o kata para irmos evoluindo” adiantou Ana. Sobre os processos de aprendizagem entre pares referem que “partilhamos muito e procuramos nos pormenores ajudar e melhorar a outra. No fundo somos uma equipa” concluiu Beatrz com um ar mais descontraído depois da passagem pelo pódio e o fim do período de tensão que a demonstração perante um júri sempre provoca.

Os katas, uma via para manter uma ligação organizada à modalidade. Ana e Beatriz, uma dupla de Coimbra.

Beja presente

A dupla Segurado-Costa apresentou-se na competição com um bom saldo de experiência. De alguma forma representaram um sentido de veterania numa prova marcada, apesar de tudo, por atletas mais jovens que testaram as suas recentes ligações aos katas, revelando aliás uma grande disponibilidade para novas aprendizagens.

Veríssimo Segurado e José Costa do Clube de Judo de Beja participaram na prova com uma apresentação do Ju-no-kata

Uma prova com mais-valias internacionais

O Troféu Ibérico de katas já firmou o seu lugar no calendário desportivo nacional mas também no das duas regiões de Espanha e de França que marcam presença de forma regular na prova. Para as regiões da Occitânia e da Estremadura trata-se de um intercâmbio natural que procura proporcionar mais uma oportunidade para os atletas que procuram quadros competitivos para progredirem na sua procura de aperfeiçoamento. Por outro lado estes encontros também são propícios para a troca de experiências sobre o quadro mais geral do desenvolvimento do judo a nível territorial “O judo para todos deve estar no centro da estratégia de fomento da modalidade a nível local e regional. A competição é muito importante mais devem ser consideradas todas as vertentes do judo quando olhamos para a expansão que é preciso impulsionar nas diversas localidades” adiantou-nos António Pedroso Leal, Presidente da AJDS – Associação de Judo do Distrito de Santarém, um entusiasta da cooperação internacional nas estratégias do desenvolvimento do judo a nível nacional.

Registe-se a presença na fase da entrega dos prémios da vereadora da Cultura e Património da Cãmara Municipal de Torres Novas, Elvira Sequeira.

Presenças institucionais em Torres Novas: Câmara Municipal de Torres Novas, Federação de Judo da Occitânia e Federação Extremeña de Judo Y DA, acompanhados por dirigentes da AJDS

GALERIA

Troféu Ibérico de katas

Fotos © Carlos Valentim Ribeiro – JM

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