Odivelas antes, durante e depois
Um Campeonato do Mundo de juniores que deixa marcas para futuro
Se há dois elementos de marca no Campeonato do Mundo de Juniores disputado em Odivelas entre os dias 4 e 8 de outubro são eles inequivocamente o domínio do Japão e a conquista da medalha de bronze pela equipa mista de Portugal.
Uma renovação bem-sucedida
O Japão, que veio a Portugal há uns meses atrás para participar no Grand Prix de Almada com uma comitiva de atletas promissores, jovens de excelente nível técnico e competitivo que neste Mundial vieram confirmar o seu valor , realizou mais uma vez uma reestruturação e renovação dos seus recursos competitivos com sucesso.
Por sucesso entenda-se a conquista de títulos e medalhas mas também a concretização dessas conquistas através de um estilo de judo que mantém uma elevada fidelidade aos princípios básicos da modalidade. Como já parece ser um lema “o Japão renova-se na continuidade”!
Atletas japoneses na Universidade Lusófona por ocasião do Grand Prix de Almada | © JM
O bronze e o seu contrário
Alguns dirão “o judo é mesmo assim. Os resultados dependem de muitos fatores circunstanciais”. Vem isto a propósito da situação paradoxal que podemos registar numa avaliação sumária (e até superficial) dos resultados alcançados pelos atletas da seleção nacional na prova globalmente considerada. Por um lado um resultado histórico com a conquista de uma medalha de bronze nas equipas mistas, por outro uma total ausência de competidores lusos nas fases avançadas da competição individual. Portugal obteve assim uma classificação sem qualquer registo (até ao 7º lugar) a par de outros países como a Suécia, Marrocos, Grã-Bretanha, Grécia, entre outros, que também não atingiram objetivos mínimos, mas que se apresentavam com expectativas mais elevadas.
Importa clarificar que um número muito significativo de atletas portugueses acedeu à prova por via do estatuto de Portugal-país organizador. Tratou-se de uma oportunidade para jovens competidores viverem a experiência única de participação num Mundial. Já os atletas com maior cotação e experiência e que estavam no Campeonato do Mundo por mérito próprio, revelaram dificuldades que demonstram que há matéria a corrigir e a melhorar significativamente.
O que seria pouco razoável, neste campo de paradoxos, seria fazer do bronze coletivo uma cortina de fumo sobre um desempenho global que exige uma análise e uma reflexão séria e aprofundada,
Nervosismo na federação
Sinais de alguma agitação interna têm surgido nos últimos tempos e as recentes declarações do atual Presidente da FPJ, Sérgio Pina, que admitiu que mudanças nos atuais corpos sociais podem ocorrer, surpreenderam por não existirem razões aparentes que as justificassem a menos que estejam relacionadas com uma atitude pessoal de desapego ao poder e de já existirem pressões sobre ele por parte de quem pretende ser o seu futuro substituto. Assim Sérgio Pina adiantou na sua entrevista à IJF- Federação Internacional de Judo que a direção da federação poderá vir a mudar “Mesmo que venha a ocorrer uma mudança na equipa de gestão da federação, garantimos a continuidade e estou muito satisfeito com isso”.
A preocupação de Sérgio Pina sobre os fatores de credibilidade da FPJ no plano internacional são evidentes e compreende-se que assim seja já que se tornou um capital precioso que não pode ser desperdiçado.
Entrevistado pelos serviços de comunicação da Federação Internacional de Judo, Sérgio Pina estabeleceu na entrevista um quadro positivo e otimista da situação do judo nacional afirmando mesmo que “O judo português está bem, até muito bem”. Os dados divulgados para comprovar a situação, pelos vistos muito boa, do judo nacional são controversos face à afirmação produzida “Atualmente temos mais de 16 mil judocas e 251 clubes no país e pretendemos aumentar ainda mais essas estatísticas. A nossa federação está em boa forma e queremos ver o judo português brilhar ainda mais e mais forte”.
Depreende-se assim que não há intenção de promover um debate aberto e construtivo sobre os problemas existentes no judo e na federação e que o auto-elogio vai permanecer como estratégia de afirmação nos próximos tempos e previsivelmente até aos Jogos Olímpicos de Paris 2024.
Os pequenos obreiros
Na organização de eventos com a responsabilidade de um Campeonato do Mundo estão envolvidos muitos setores e muitos profissionais. Alguns deles são as pequenas formigas que trabalham discretamente todos os dias de forma continuada e que asseguram que no final de contas tudo corre bem ou pelo menos, pelo melhor.
Presta-se aqui a devida homenagem aos organizadores, aos animadores dos processos de comunicação, aos médicos e enfermeiros, aos expositores, aos jornalistas de diversos países, aos assistentes de segurança e aos jovens voluntários.
Fotos © JudoMagazine