FPJ tem sido governada de forma ziguezagueante e sem grandes perspectivas de futuro

Foi precisamente há um ano, no dia 24 de fevereiro de 2023 que foi noticiada a saída de cena de Jorge Fernandes como Presidente da FPJ. A sentença do juiz do Tribunal de Loures pronunciada sobre a matéria principal relacionada com a necessidade ou não de serem realizadas eleições gerais na federação incluía uma decisão sobre uma eventual recandidatura do Presidente da FPJ, destituído das suas funções, que acabou por clarificar, de certa maneira, o quadro eleitoral negando ao promitente candidato a possibilidade de se apresentar a eleições.

Jorge Fernandes, ex~Presidente da Federação Portuguesa de Judo

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O que se seguiu é do conhecimento geral. O então Vice-Presidente da direção Sérgio Pina dessolidarizou-se das responsabilidades assumidas com Jorge Fernandes e avançou para uma candidatura à presidência da federação acompanhado pelos restantes membros da direção que, recorde-se, tinham sido eleitos numa lista liderada pelo dirigente de Coimbra.

OS RESULTADOS ELEITORAIS NO JM

Virar de página, como gato por brasas

Os temas então dominantes como a relação da FPJ com os atletas da Carta Aberta, as questões da preparação olímpica, a gestão dos recursos financeiros da federação, a ausência de uma estratégia para o desenvolvimento da modalidade, as decisões sobre as participações de atletas em provas internacionais, o ataque público a atletas olímpicos e de grande prestígio desportivo, a desorganização das atividades e a concentração foçada em Coimbra de estágios e competições, entre outras, que nunca tiveram uma reação de oposição ou de interpelação no seio dos órgãos sociais da federação, foram logo a seguir à eleição de Pina para presidente colocados em termos de “virar de página”.

O NOVO PRESIDENTE, ANTIGO VICE

O que mudou verdadeiramente?

Pina à frente da federação, tem sido, na opinião de muitas vozes da modalidade um mal menor. O essencial das práticas anteriores mantiveram-se mas há uma clarificação de algumas áreas como convocatória para atividades da federação, a responsabilidade mais efetiva de setores técnicos na organização das provas, a flexibilidade na relação com os treinadores dos clubes que vão a provas internacionais e certamente noutros domínios secundários nos quais a FPJ pareceu adotar um perfil low-profile.

Claro que existem muitas interrogações sobre a dimensão qualitativa destas pequenas mudanças. A recente concessão direta do Wild Card a duas atletas que foram privilegiadas no acesso ao nacional AS de cadetes, que tudo o indica foi decidida pelo próprio Presidente e a desautorização do Presidente do Conselho de Justiça no caso do “cinto 11º Dan de KK” demonstram que existem formas de agir de todo idênticas às do passado.

ÓRGÃOS SOCIAIS PELA RUA DA AMARGURA

A dança das cadeiras

Quem votou na lista dos Órgãos Sociais que se apresentou a votos em outubro de 2020 deve hoje pensar duas vezes se a legitimação que deu em Assembleia Geral, num processo eleitoral democrático, tem alguma correspondência com a composição atual dos órgãos federativos.

Veja-se que o Presidente que liderava um projeto e que organizou a lista à sua volta já não está presente. Surge agora um dirigente da arbitragem, que foi impedido de se recandidatar por acumulação de mandatos como Vice-Presidente da direção. O tesoureiro eleito por voto democrático é agora Presidente do Conselho de Arbitragem, por incompatibilidades detetadas nas suas funções dirigentes. Membros da Comissão de Arbitragem, alguns que exerceram transitoriamente cargos de responsabilidade, foram afastados por razões legais. No site da FPJ a Mesa da Assembleia Geral só tem um elemento, o Presidente da MAG. No Conselho Fiscal só há vogais e dois apenas.

Que futuro tem esta dinâmica?

O que parece ser fácil de constatar é que esta equipa federativa está em profunda desarticulação. Claro que existem pessoas que asseguram um rumo minimamente sólido, uns pela grande experiência que possuem como é o caso da Catarina Rodrigues ou do Sergiu Oleinic e da equipa de staff das provas que são um garante de um bom funcionamento das atividades quando os desafios se apresentam e os próprios treinadores das equipas que quando chegam às competições querem é que tudo corra bem. Apoiam, são parte ativa da solução, não se põem de lado.

Existem ainda setores que apresentam uma dinâmica positiva, apesar de polémica na sua concepção geral que é a captação de talentos jovens. A orientação que Luis Monteiro introduz nos processo pode ser unilateral e excessivamente centrada numa abordagem psico-motora, mas é no seu conjunto positiva e deve ser valorizada. Isto a propósito das estratégias de desenvolvimento da modalidade que estão totalmente ausentes da comunicação no seio da modalidade.

Judo pluralista e tolerante

NOTA PESSOAL Numa prova recente em Almada o ex-presidente Jorge Fernandes passou por mim e cumprimentou-me a distância. Gesto a que correspondi sem hesitar. Sei que a informação pluralista e o fomento do espírito crítico nem sempre é do agrado de quem nós contactamos. Mas, excepto interrupções pelo silêncio ou pela não-resposta [em todos os temas procurámos sempre a opinião de Jorge Fernandes] nunca tive um gesto de falta de educação do agora treinador do Judo Clube de Coimbra e Presidente da Associação de Judo do Distrito de Coimbra. O espírito polémico e a educação podem coabitar, foi isso que consolidámos com o 25 de abril no nosso país. A tolerância e a boa polémica é que fazem os processos andar. O seguidismo e a obediência cega têm resultados inversos, ou seja instala-se o pântano e a modalidade sai prejudicada. [Carlos V. Ribeiro]

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